Alguém anda a matar as tartarugas-gigantes nas Galápagos pela sua carne?

Autoridades do Equador investigam “caça e abate” de tartarugas ameaçadas de extinção no Parque Nacional das Galápagos. Em Março do ano passado, 185 crias de tartarugas em estado crítico foram encontradas dentro de uma mala durante uma inspecção de rotina no aeroporto local.

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Uma tartaruga-gigante das ilhas Galápagos DR

As autoridades do Equador estão a investigar a morte de quatro tartarugas-gigantes nas ilhas Galápagos, um arquipélago sul-americano que é um paraíso para todos os tipos de vida selvagem. Na origem desta acção estão os receios de que estes animais ameaçados de extinção tenham sido mortos por caçadores furtivos por causa da sua carne.

A Procuradoria-Geral do Estado disse esta terça-feira que uma divisão especializada em crimes contra o ambiente abriu uma investigação preliminar sobre a alegada “caça e abate” das tartarugas, que poderá ter ocorrido no complexo de zonas húmidas do Parque Nacional das Galápagos. A equipa inclui peritos de necropsia em animais, e os investigadores também pretendem interrogar os funcionários do parque para ajudar a reconstituir o que aconteceu às tartarugas, disseram os procuradores equatorianos.

A carne de tartaruga foi outrora considerada uma iguaria, e os incidentes dos últimos anos têm levantado preocupações de que o Equador esteja a ficar enredado no comércio global de animais selvagens.

Em Setembro do ano passado, os guardas florestais encontraram os restos de 15 tartarugas gigantes na maior ilha do arquipélago de Galápagos, Isabela, entre sinais de que tinham sido mortas por caçadores. Em Março do ano passado, 185 crias de tartarugas em estado crítico foram encontradas dentro de uma mala durante uma inspecção de rotina num aeroporto das Galápagos.

As tartarugas gigantes estão em perigo, e matá-las é ilegal segundo a lei equatoriana, punível com até três anos de prisão. O Galápagos Conservancy, uma organização sem fins lucrativos dos EUA, condenou as últimas mortes, descrevendo a caça furtiva e o consumo de tartarugas gigantes como um “crime ambiental”.

Charles Darwin descreveu uma vez as Galápagos como “um pequeno mundo dentro de si”. Muitas das tartarugas e outros animais que ali viu em 1835 - inspirando as suas ideias sobre a evolução - não se encontram em mais lado nenhum na Terra.

Mas ao longo dos anos, espécies invasoras, alterações climáticas, sobrepesca e os efeitos da actividade humana alteraram dramaticamente os ecossistemas das Galápagos. As tartarugas gigantes foram quase dizimadas nos séculos XVIII e XIX pelos baleeiros e outros marinheiros, bem como por espécies invasoras como as cabras.

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Lonesome George morreu em 2012 com cerca de 100 anos DR

Em Janeiro, o Presidente equatoriano Guillermo Lasso anunciou o alargamento das protecções em redor das Galápagos, criando “uma nova auto-estrada” para a vida marinha. O decreto travou a pesca em mais de 20.000 milhas quadradas de oceano a nordeste do arquipélago, onde cardumes de tubarões-baleia bulbosos e tubarões-martelo se encontravam numa situação vulnerável, à mercê de pescadores que os procuram e matam pelas suas valiosas barbatanas.

As tartarugas das Galápagos podem crescer até mais de um metro de comprimento, pesar mais de 200 quilos e viver por mais de 100 anos. Há cerca de uma dúzia de espécies de tartarugas das Ilhas Galápagos - todas elas ameaçadas, desde vulneráveis a criticamente ameaçadas.

Em Junho, uma equipa de cientistas anunciou que tinha sequenciado todo o genoma de uma espécie rara das Galápagos com uma enorme carapaça queimada - descoberta pela primeira vez por conservacionistas e exploradores em 2019 - e concluiu que era da mesma linhagem de uma tartaruga que se crê ter sido extinta há mais de 100 anos.

“Este recente incidente de caça furtiva é particularmente flagrante, uma vez que muito poucos indivíduos da subespécie Chelonoidis guntheri permanecem na natureza”, disse a Galápagos Conservancy numa declaração. “Temos de salvaguardar as tartarugas-gigantes e os ecossistemas dos quais dependem.”

As ilhas Galápagos são um dos únicos dois lugares no mundo onde vivem estes animais raros; o outro lugar é no atol de Aldabra, nas Seychelles, no oceano Índico. As tartarugas das Galápagos alimentam-se de ervas, folhas, cactos e fruta, mas podem sobreviver durante um ano sem alimentos nem água.

Uma das mais famosas tartarugas-gigantes das Galápagos foi Lonesome George (Jorge Solitário), o último exemplar da subespécie Chelonoidis nigra abingdonii, que foi encontrado em 1972, na ilha de Pinta, e viveu cerca de 100 anos até 2012.

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post