Formação, capacitação e qualificação de grupos minoritários é o foco do Humanwinety, o novo projecto encabeçado pelo enólogo Bento Amaral e pelo consultor internacional de vinhos Cláudio Martins. Segundo um comunicado de imprensa, a empresa pretende “capacitar grupos minoritários, aumentando os seus conhecimentos e ajudando-os a encontrar um lugar nos sectores de vinho e hospitalidade”.
“Acho que chegou a altura de fazer alguma coisa pelas outras pessoas que estejam em situações parecidas com a minha”, afirma o enólogo em conversa com o Terroir. “Nos telejornais estão a dizer ‘neste momento, basta pessoas com duas pernas, duas mãos e um sorriso [para conseguir um emprego]’. Eu não posso garantir que vamos arranjar pessoas com duas pernas, mas sorriso e capacitação, tenho a certeza absoluta.”
Além da sua dedicação aos vinhos, Bento Amaral tem devoção ao desporto aquático. Praticou vela até os 25 anos, quando ficou tetraplégico devido a um acidente no mar. A partir daí, Amaral iniciou a sua carreira na vela adaptada, tendo sido campeão mundial em 2005 e representante de Portugal nos Jogos Paralímpicos de 2008. Licenciou-se, também, em Engenharia Alimentar e começou a trabalhar no Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP), onde chegou ao cargo de director dos Serviços Técnicos e de Certificação.
Com o objectivo de se focar no novo projecto, Bento Amaral decidiu deixar o IVDP. “[A Humanwinety] dá-me sentido à vida”, declara. “O que eu quero é apaixonar as pessoas pelo mundo do vinho.”
Cláudio Martins é consultor no mercado de fine wine e responsável pelo lançamento comercial do alentejano Júpiter, que se apresenta como o vinho de mesa português mais caro do mercado. Para Cláudio, fazer parte da iniciativa “com coração aberto, sorriso nos lábios e copo na mão” é uma “alegria enorme”. “Fazer isso com o Bento e trazer esse projecto para o mundo do vinho é, sem dúvida, uma das melhores coisas que já me aconteceu”, acrescenta o consultor internacional de vinhos.
A bordo deste projecto estão também Micaela Martins Ferreira, especialista em comunicação estratégica, marketing e e-commerce e responsável pela parte financeira, e Tiago Coelho, gestor e produtor de conteúdos de entretenimento, com experiência profissional nas empresas Red Bull, Nike e Universal Studios.
As sessões de formação online deverão arrancar no final do ano e vão abranger assuntos como enologia, enoturismo, prova e aconselhamento de vinhos, investimento em vinhos, vinhas e propriedades, bem como conteúdos relacionados com marketing e comunicação. Cláudio Martins salienta que os interessados “poderão vir como tela branca em termos de conhecimento”: “Ter-nos-ão para os apoiar e para lhes dar o conhecimento suficiente.” Além da formação com os mentores, o projecto vai proporcionar uma “posterior formação em ambiente profissional com parceiros”, através de estágios profissionais. O projecto está especialmente vocacionado, segundo pode ler-se no comunicado da empresa, “Para candidatos dos países onde pretendemos ter parcerias e possibilidades de estágios”. Assim, portugueses e estrangeiros poderão fazer a inscrição através da plataforma de aulas, que ainda está em fase de finalização.
Bento Amaral frisa que a Humanwinety “é uma mais-valia para as empresas”. “A mensagem que a empresa passa é a de ter consciência do que é o mundo real. Isso ajuda a melhorar, a comunicar e a posicionar a imagem e a marca”, refere. Com foco nas companhias parceiras, o projecto tenciona fornecer guias que abordam como receber, “acolher e tirar o maior partido” das capacidades dos profissionais.
Mas, para isso, as sedes das empresas precisam ter instalações adaptadas. “Estou convencido de que todas as empresas começam a ter essa necessidade”, não só para os trabalhadores, “mas para receber os seus clientes”, diz Bento. “São dezenas de pessoas que me contactam a perguntar qual é a empresa que podem visitar estando numa cadeira de rodas”. Se as empresas querem mais clientes, têm de estar preparados para receber pessoas com deficiências físicas, visuais ou auditivas, defende.
A Humanwinety já conta com a parceria da Fundação Gerard Basset, uma iniciativa internacional com sede no Reino Unido, que financia programas educativos na área dos vinhos, bebidas espirituosas e a indústria de hospitalidade. “Para além desta aliança”, a empresa revela que “mais de uma dezena de empresas nacionais mostraram interesse em apoiar este novo projecto”.
Também para arrecadar financiamento, a Humanwinety promoverá dois leilões, um no Porto e outro em Lisboa, de vinhos raros doados por produtores e clientes privados. Nos eventos, que decorrerão em Setembro, uma percentagem vai ser direccionada para ajudar a Ucrânia “e a outra será em prol da Humanwinety”, explica Cláudio Martins.