Os aeroportos do Montijo e de Alcochete
Optar por restruturar o aeroporto do Montijo e depois reconstruir o de Alcochete para substituir o da Portela será uma opção com perspectivas futuras de elevado risco.
Uma decisão dessas só será possível de governantes que não fazem a mínima ideia do que o futuro nos reserva com as alterações climáticas decorrentes, porque alguns deles ainda devem acreditar que a Terra é plana, que é o Sol que gira em torno da Terra, que não somos resultado de evolução com origem simiesca e que foi um ser superior que cá nos colocou (ainda há imensa gente que acredita nisso).
Como estudei e colhi plantas em vários ecossistemas do Globo (não é um paralelepípedo), sou testemunha de consequências destas alterações climáticas devidas ao degelo acelerado de glaciares que vi nos Andes e na Islândia, com a consequente subida do nível médio dos oceanos. Aliás, recentemente (a 3 de Julho), o cume do glaciar dos Alpes italianos, que se soltou e deslizou montanha abaixo em avalanche demolidora e mortífera é disso testemunho.
Na Costa Rica, vi praias da costa atlântica e da costa pacífica já sem as dunas primárias e secundárias e com o mar a chegar às raízes já descobertas de árvores das dunas fixas. Vi o mesmo no oceano Índico na ilha de Vamizi (arquipélago das Quirimbas, Moçambique): da primeira vez que lá fui, ainda havia dunas primárias e da última vez que lá estive já as dunas primárias e secundárias tinham sido “engolidas” pelo mar, cujas ondas derrubavam as árvores das dunas fixas, onde tirei fotografias das árvores caídas na praia, que legendei como “praia com esqueletos de árvores”.
No oceano Índico estive noutro arquipélago (Maldivas), cuja altitude máxima é de 1,1 metros e onde algumas das ilhas já foram submersas. Na capital (Malé) visitei dois bairros com população deslocada dessas ilhas. O aeroporto (Ibrahim Nasir) localizado na ilha de Hulhulé desde 1966 corre, actualmente, sérios riscos de ser submerso, assim como toda a área litoral da capital.
Aliás, no nosso país a erosão do litoral devido à subida do nível médio dos oceanos é bem visível em algumas praias, como, por exemplo, no litoral de Esposende e no Cabo Espichel, que é calcário, uma rocha facilmente corrosível pela água. Neste cabo tem havido várias derrocadas (o muro frontal da cerca do convento já desapareceu quase todo), pois as ondas estão a corroer a base do cabo, que é batida pelas ondas. Basta ir à Praia dos Lagosteiros e ver que a placa da Pedra da Mua, onde estão os icnofósseis dos dinossauros (carnívoros do Jurássico), está toda corroída na base e não tardará a que a placa sedimentar se destaque da falésia, perdendo-se os referidos icnofósseis, um monumento natural. Isso já aconteceu com parte dos icnofósseis de dinossauros carnívoros (também do Jurássico) das falésias calcárias do Cabo Mondego. Basta ir pela praia, de Buarcos até à Praia da Murtinheira, ou vice-versa, e ir observando a base corroída do cabo batida pelas ondas.
Não sei qual é a altitude máxima (do solo, não da vegetação) das áreas onde querem restruturar os aeroportos do Montijo e de Alcochete. É natural que nem tenham tido esse cuidado. Felizmente para mim, já cá não estarei para testemunhar o desastre resultante do aquecimento global. Porém, poderá ser que esteja ainda vivo se acontecer um violento terramoto do qual resulte um elevado maremoto (tsunami), como o último na ilha de Sumatra, que atingiu as Maldivas (estão bem distantes de Sumatra) e inundou a capital, Malé. Lembrem-se de que em 1755 o tsunami provocou muito mais mortes em Lisboa do que o terramoto.
As placas tectónicas não recebem ordens de governantes e estão sempre em movimento e continuarão a acontecer erupções vulcânicas, terramotos e maremotos.
Não suporto fundamentalismos, quer sejam políticos, económicos, religiosos, desportivos, ambientalistas ou de qualquer outro jaez, pois são sempre prejudiciais. Sou apenas um realista com algum conhecimento.