As microalgas dos Açores poderão alimentar a aquacultura na Europa, em 2024, na sequência de um projecto desenvolvido pela academia açoriana com parceiros da Estónia e da Islândia, foi anunciado esta quarta-feira.
O investigador Vítor Gonçalves declarou esta quarta-feira, na academia açoriana, em Ponta Delgada, após a apresentação do projecto, que o objectivo é “utilizar os recursos naturais que existem nos Açores [microalgas nativas] que possam ser cultivadas, aproveitando desperdícios de outras actividades, como os gases de combustão de CO2 ou resíduos de actividades agro-industriais”, disse o investigador do pólo dos Açores do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (Cibio-Açores).
Para além da Universidade dos Açores, estão envolvidos no projecto o Instituto de Tecnologia da Universidade de Ciências da Vida, da Estónia, e as empresas Power Algae OÜ (Estónia) e Matis, Biotechnology (Islândia), sendo este comparticipado pela União Europeia e pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. O docente explicou ainda que o produto vai ser processado cientificamente para que “possa ser utilizado em cadeias produção, nomeadamente para a alimentação de pescado em aquacultura”, sendo o peixe-alvo o salmão.
A Universidade dos Açores possui um banco que regista 760 microalgas nativas, considerando o investigador que a “mais-valia do projecto é conseguir um suplemento alimentar de qualidade superior, livre de contaminantes, que possa ser utilizado na produção de peixe”. A iniciativa vai permitir também “eliminar preocupações do ponto de vista ambiental, como seja a acumulação de CO2 e os resíduos resultantes da actividade agro-económica, que produz muitos nutrientes, que nos Açores têm impacto na eutrofização dos lagos”.
Para o investigador, este é um projecto “inovador e de baixo custo, onde o dióxido de carbono dos gases de combustão e nutrientes de resíduos agro-alimentares são usados para aumentar o crescimento de microalgas em fotobiorreactores, de forma que a biomassa das microalgas, após pré-tratamento e extracção, possa ser utilizada em rações, alimentos e nutracêuticos”.
Liina Joller Vater, da empresa Power Algae, declarou, por seu turno, à agência Lusa, que se o projecto for bem-sucedido colocarão eles próprios o produto no mercado: “esta é uma opção, mas também pode ser desenvolvido em parceria com outros parceiros comerciais que não fazem parte desse projecto científico”. A economista referiu que o projecto tem como base o mercado do salmão e trutas, sendo que arrancou em 2021 e vai ser finalizado em 2024, devendo ser disponibilizado em pellets ou a granel.