Ilustração
Interior feminino: uma exposição sobre a “mulher-medicina”, que cura e cuida
Ana Sílvia Agostinho inspirou-se no universo feminino para a nova exposição de ilustrações, para ver nas Caldas da Rainha.
O espaço Liberta, nas Caldas da Rainha, recebe até ao final do mês de Novembro a exposição Interior Feminino, de Ana Sílvia Agostinho. Entre ilustrações e colagens, a artista explora o universo feminino. “Sobre ser mulher, mas também sobre o processo infinito da busca de nós próprias,” pode ler-se no Instagram.
Mãe há sete anos, a artista refere que Interior feminino surge na fase em que a filha já não é tão dependente e em que já volta a ter tempo para ela própria enquanto mulher. Segundo a ilustradora, “depois da maternidade, as mulheres deixam de se conhecer”. Sentiu, pois, a necessidade de se redescobrir. “Aos bocadinhos fui-me descobrindo enquanto mulher dentro do estudo do Sagrado Feminino e apliquei isso nas ilustrações que deram origem à exposição”, revela a ilustradora ao P3.
Embora as ilustrações possam ser rotuladas como feministas, tendo em conta o conteúdo explicitamente feminino, a artista não se considera propriamente uma “pessoa feminista”. Para Ana Sílvia Agostinho, o projecto que nasceu em 2020 “sempre foi mais em busca do feminino em si, daquela parte feminina que é a mãe, a 'mulher-medicina', a mulher que cura, a mulher que cuida”. O desenvolvimento da parte sexual nas ilustrações tem, segundo a artista, “mais a ver com a cura, com este voltar a cuidar de si, como se estivéssemos a tratar de nós, como costumamos tratar dos outros”.
Também praticante de meditação, de ioga e matridança, a artista de 42 anos inspirou-se nesse universo para criar uma exposição, considera, “meditativa, de sentimentos, da mulher que se encontra e se cura a ela própria graças às ferramentas do Sagrado Feminino”. O Sagrado Feminino é considerado um estilo de vida que pretende levar as mulheres a conhecerem mais sobre o seu corpo, os seus ciclos, os seus mistérios e a sua sabedoria interna.
Há muito que o feminino tem influência no trabalho da ilustradora. Há oito anos, quando engravidou, a vida de Ana Sílvia Agostinho deu uma reviravolta. A até então designer de jóias, sentiu a necessidade de “cartoonizar” as transformações pelas quais estava a passar durante a gravidez. A menina tímida e introvertida para quem “o desenho sempre foi um refúgio, uma necessidade, e sempre ajudou a perceber o mundo”, voltou ao desenho para, com humor, desmistificar a condição de grávida, muitas vezes romantizada na sociedade.
Graças ao sucesso dos cartoons que ia partilhando nas redes sociais, recebeu um convite da editora Alma dos Livros. Assim nasceu o livro Mamã Cartoon. “Todos sabemos que uma coisa é aquilo que idealizamos e outra - às vezes bem diferente - é a realidade”, confessa a ilustradora. Mamã Cartoon retrata o dia-a-dia de uma mãe real: “Às vezes vestida de super mulher - alegre, corajosa e entusiasmada - e outras vezes desconsolada, frustrada e à procura do seu lugar no mundo.”
Texto editado por Ana Maria Henriques