Português, História e Física: escolas públicas do interior conseguem brilhar no top 10

O PÚBLICO olhou para as médias mais altas e as mais baixas em quatro dos exames nacionais mais concorridos. Quem fica melhor e pior na fotografia?

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Paulo Pimenta

Academia de música lidera no exame de Matemática

É raro que uma escola pública fure a lista das melhores médias do país nos exames de Matemática e, no ano passado, nenhuma conseguiu. A média nacional desceu mais de um valor (para 10,3 em 2018, numa escala de 0 a 20) e, num top dez integralmente ocupado por colégios privados, a Academia de Música de Santa Cecília, em Lisboa, foi a que se saiu melhor. Os 13 alunos que foram a exame tiveram 16,66 valores na 1.ª fase das provas nacionais, a única considerada pelo PÚBLICO nesta análise.

Ordenámos do melhor para o pior resultado as escolas onde foram prestadas pelo menos 11 provas a Matemática. Mais resultados: a primeira pública surge em 14.ª lugar. É a Secundária de Nelas, no distrito de Viseu, cujos 17 alunos que prestaram provas obtiveram uma média de 15,24. “Era um grupo com objectivos muito bem definidos, muito motivado e com um bom ritmo de trabalho”, destaca a directora Olga Carvalho. Beneficiaram, além disso, de “uma continuidade pedagógica” porque a maioria sempre estudou naquele agrupamento. A escola insere-se num contexto socioeconómico intermédio dos três caracterizados pela Universidade Católica.

O concelho de Nelas tem ainda outra escola nas 20 melhores médias a Matemática: a Básica e Secundária Eng.º Dionísio Augusto Cunha, em Canas de Senhorim.

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No fim da lista estão as secundárias de Alcácer do Sal (4,30 valores) e de Santo António, no Barreiro (4,56). Já figuravam entre as piores dez médias à disciplina no ano passado. “O contexto socioeconómico é a maior condicionante”, diz Nelson Latas, director do Agrupamento de Escolas de Alcácer do Sal, onde 37 alunos foram avaliados. Alguns estavam na escola apenas a fazer a disciplina – a única a impedi-los de terminar o secundário. “É difícil motivar” quem não precisa da nota para aceder ao ensino superior, observa.

A adesão às aulas de apoio também não é aquela que os professores gostariam. Na origem, acredita o director, estão dificuldades acumuladas ao longo do ensino básico. “É muito difícil, em três anos, superar falhas de conhecimento estruturais. Precisamos de apostar na Matemática mais cedo”, reconhece.

Mação tem a sexta melhor média a Português

É a prova mais concorrida, obrigatória para todos os alunos do ensino regular, e aquela em que uma escola pública surge mais cedo. A Escola Básica e Secundária de Mação, no distrito de Santarém, tem “historicamente resultados muito interessantes” à disciplina, diz o director do agrupamento, e os alunos do ano passado obtiveram a sexta melhor média no exame nacional: 14,01 valores. Antes dela só privadas, com o Grande Colégio Universal, no Porto, à cabeça (14,83).

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A estabilidade do corpo docente é determinante para as boas notas em Mação, diz o director. Praticamente desde que José António Almeida está na direcção, há mais de uma década, que o quadro de professores de Português não se altera. Cada um “lecciona o grau de ensino para que está mais apto” e, havendo continuidade, “as fragilidades vão sendo corrigidas ao longo do percurso”. Noutras disciplinas isso não acontece e os resultados são flutuantes. “Os anos de colocação de professores costumam coincidir com as quedas nas notas”, afirma. A escola tem ainda vários projectos educativos, como um que premeia a assiduidade e o bom comportamento nas aulas.

A segunda melhor média pertence ao Colégio Luso-Francês, presença habitual neste top dez a Português (onde constam as escolas que fizeram, pelo menos, 15 exames). Um grupo de 91 alunos conseguiu 14,63. “É um trabalho conjunto que vem desde o primeiro ciclo”, refere Isabel Moreno, directora pedagógica neste colégio católico onde a mensalidade ronda os 400 euros. Professora da disciplina durante mais de 30 anos, até assumir a direcção, tem a convicção de que “o tempo de aula é bem aproveitado”. “Nós não temos o lema de preparar para o exame – até porque, nos últimos anos, a prova tem sido uma surpresa. Procuramos que os alunos compreendam aquilo que lêem. Tentamos motivar para o sucesso. E há a parte afectiva, que aqui também conta.”

“Ainda assim, muitas vezes os resultados não são os que gostaríamos”, afirma. “Há uma certa imaturidade literária e é uma disciplina para que a maioria dos alunos está pouco motivada, porque não depende dela para prova de ingresso no ensino superior.”

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Nota ainda para um colégio de ensino bilingue, o St. Peter's School, em Palmela (média de 13,63), já habitual entre os melhores a Português, e para a Escola Básica e Secundária de S. Sebastião de Mértola, uma escola de um contexto mais desfavorecido, que obteve o 17.º melhor resultado à disciplina. Com uma média de 13,18, ficou mais de dois valores acima das escolas do mesmo contexto.

Isto acontece num ano em que a média nacional a Português desceu para 10,98 valores. Das 578 escolas que o PÚBLICO ordenou, apenas 63 tiveram médias negativas (abaixo de 9,5 valores). Nove ficam nos Açores.

A que pior se saiu foi a Básica e Secundária Padre António Morais da Fonseca, Murtosa (Aveiro), inserida no contexto mais desfavorecido. Em 15 provas a média foi de 7,30 valores.

Rui Alves, director pedagógico do Externato Académico, que está entre os dez com média mais fraca, explica que “apenas um grupo diminuto de alunos frequenta o ensino regular” e, por isso, faz exames. “São alunos que não tiveram sucesso noutras escolas e chegam aqui, a maioria, no 12.º ano ou para repetir disciplinas. Nós aceitamos toda a gente e ainda que queiramos recebê-los mais cedo, neste contexto económico, é muito difícil contornar isso.” O Académico é, aliás, uma das quatro escolas que aparecem tanto entre as dez piores médias a Matemática como a Português, juntamente com a Escola Básica e Secundária Mães de Água (Amadora), a Secundária de Alcácer do Sal e a Secundária Seomara da Costa Primo (Amadora).

Média de 16 a Física e Química no Colégio do Rosário

Mais do que as escolas do fundo da lista, são as do topo que tendem a lá permanecer. Há nove colégios que aparecem entre as melhores médias a mais do que uma disciplina. O Colégio Nossa Senhora do Rosário, no Porto, fez o pleno: está entre as dez melhores médias aos quatro exames para que o PÚBLICO olhou nesta análise. E foi a que se saiu melhor na prova de Física e Química. Com 97 provas, obteve uma média de 15,95.

“A maior parte dos nossos alunos está 15 anos, em média, no colégio. Quando chegam ao secundário, têm fasquias de rigor muito altas, trabalham para a excelência”, diz Teresa Nogueira, directora. O mesmo elogio dirige aos professores. “A nossa lógica é que cada um se habitue a dar sempre o seu melhor, a acreditar no valor do trabalho e a superar-se.” A Física e Química, os alunos têm uma carga horária reforçada – cinco aulas semanais de 75 minutos. Em três delas as turmas estão divididas ao meio para permitir um trabalho mais individualizado.

Física e Química foi o único exame em que a média nacional subiu face a 2017 – de 9,93 para 10,32 –, em contraciclo com as notas internas (dadas pelos professores no final do 3.º período).

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A primeira pública surge no 10.ª lugar, numa lista em que o PÚBLICO ordena a escolas que fizeram pelo menos 11 exames. É a Secundária Dr. João Lopes de Morais, em Mortágua, que, com 13 provas, obteve 14,08 valores. Rui Parada da Costa, director do agrupamento, puxa de um argumento comum na hora de explicar os bons resultados dos alunos: a motivação. Numa escola que tem vindo a “ressentir-se da interioridade e dos efeitos da diminuição da natalidade”, afirma, “estes alunos têm sido exemplo de dedicação, colaboração e envolvimento”. “São muito receptivos às propostas de trabalho, estão sempre disponíveis para trabalhos extra-aula.” Por outro lado, ressalva a disponibilidade constante dos professores – “mesmo fora do seu horário”. A escola tem aulas de apoio semanais às disciplinas de exame e intensifica-os nas semanas que antecedem as provas.

No fundo da tabela está a Básica e Secundária Dr. Azevedo Neves, na Amadora. Teve uma média de 4,63 valores. E entre as dez médias mais baixas voltam a estar a Secundária de Nordeste (5,71), nos Açores, e a de Camarate (5,96), em Loures.

A Básica e Secundária Prof. Ruy Luís Gomes (6,08), no limite entre os concelhos de Almada e do Seixal, surge também mal posicionada (4,56). O director Alípio Barros repara que, por norma, Física e Química tem resultados mais fracos. “Já houve anos em que fomos melhores.” O método de trabalho e os professores são os mesmos. O que varia é o grupo de alunos, afirma. “Ainda no ano passado tivemos a melhor aluna do concelho de Almada e um número elevado de alunos conseguiu entrar no que queria no ensino superior.”

Fundão e Covilhã destacam-se a História

É neste exame, obrigatório para os alunos do curso de Línguas e Humanidades, que duas públicas, geograficamente próximas, se destacam entre as dez melhores médias. As secundárias do Fundão e da Quinta das Palmeiras, na Covilhã, obtiveram, respectivamente, médias de 13,35 e 13,13 valores. As escolas distam entre si menos de 20 quilómetros.

“O mérito é fundamentalmente dos alunos”, vinca Ana Brioso, professora de História na Secundária do Fundão que acompanhou durante três anos os 19 avaliados. “Embora houvesse alguns com maior capacidade, grande parte não tinha folga em termos económicos. Valiam-se muito do seu trabalho.” Tornaram-se trabalhadores, afirma. “Não eram tanto no 10.º ano. Foram-se adaptando a uma cultura de muita exigência da minha parte, de treino de competências e desenvolvimento de raciocínio.” Afinal, refere, “História não é disciplina de decorar, como muitos pensam”. É, acima de tudo, de análise e interpretação de documentos, de relacionamento de diferentes pontos da matéria. E é muito diferente da disciplina a que estão habituados do ensino básico. “Essa adaptação é dura.”

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Ana Brioso tenta que os alunos estejam preparados para uma prova de raciocínio, que sintetizem em casa a matéria dada em cada aula, que aprendam a gerir o tempo – por isso, os testes de 12.º têm a mesma duração do exame (120 minutos mais 30 de tolerância). “Este exame tinha uma estrutura diferente e eles não apanharam um choque. Mas há toda uma formação humanística feita na sala de aula que não é reflectida na prova.” As expectativas que a maioria tinha de prosseguir para o ensino superior também pode explicar os bons resultados – “E quase todos conseguiram entrar onde queriam.”

Num ano em que História foi a disciplina onde os alunos pior se saíram a nível nacional (9,42 valores), e em que apenas 44% das 509 escolas que o PÚBLICO ordenou tiveram desempenho positivo, a média mais alta (15,24) foi obtida pelo Externato Marista de Lisboa, onde se fizeram sete provas (o mínimo para entrar no ranking do PÚBLICO a esta disciplina). Com 15,24 valores ficou mais de um valor acima do Colégio Nossa Senhora do Rosário que, com o mesmo número de provas, tem a segunda melhor (14,17). E as três escolas que em 2016 ocuparam os três primeiros lugares regressaram às dez primeiras, com um ano de intervalo: o Colégio de Santa Doroteia (Lisboa), o Colégio Santo André (Mafra) e o Colégio Bartolomeu Dias (Loures).

Naquelas que se saem pior no exame de História A aparece pelo terceiro ano consecutivo a Básica e Secundária de Santa Maria, Vila do Porto (Açores). Não é a última. Antes estão outras sete. A média mais baixa foi de 3,10 valores, na Escola Secundária Fonseca Benevides, em Lisboa, onde a nota mais alta no exame da disciplina foi 6,20. A Secundária da Baixa da Banheira, na Moita, e a Básica e Secundária de Mogadouro também já constavam dos piores resultados à disciplina em 2017.

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