Reportagem e entrevista

Quiseram conhecer melhor a comunidade e ganharam o concurso Jornalistas em Rede

Simão Barbosa, Leonor Salgado, Gonçalo Costa e Nicole Fraga venceram, no ano letivo de 2022-23, iniciativa do PÚBLICO na Escola e da RBE. Agora contam o que aprenderam pelo caminho.

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Não há como esconder: o miar que se ouve na Escola Básica e Secundária Santos Simões, em Guimarães, denuncia que a escola tem habitantes felinos. Não há quem, nesta escola, não conheça o Gatil Simãozinho, projeto erguido a 13 de maio de 2009, que tem sido uma parte essencial do ambiente escolar. Mas Gonçalo Costa, Leonor Salgado e Nicole Fraga quiseram dá-lo a conhecer a mais pessoas.

Ainda alunas do 7.º ano, Leonor e Nicole lembraram-se de entrevistar a professora Luísa Veiga, coordenadora do projeto. Um ano depois, a professora de Português lançou o desafio de fazerem uma reportagem e pensaram: por que não regressar a essa entrevista e, com o colega Gonçalo, aprofundar o tema? Foi assim que iniciaram o trabalho com que venceram o concurso Jornalistas em Rede, parceria entre a Rede de Bibliotecas Escolares e o Público na Escola, no momento dedicado à reportagem, no ano letivo de 2022-23.

No gatil, todos os gatos têm nome — e alguns foram batizados a partir da sugestão de alunos, que também são dinamizadores do espaço. Segundo a professora Luísa Veiga, há inclusive alunos que escolhem estudar naquela escola por causa do gatil. Mas para conhecer a história e a dinâmica do Gatil Simãozinho, o melhor é mesmo ler a reportagem.

Até esta experiência, os três colegas nunca tinham feito uma reportagem. Já tinham aprendido como se fazia em contexto de sala de aula, mas foi a primeira vez que se aventuraram a pegar num bloco de notas, numa caneta e na câmara fotográfica para ir à descoberta. A história estava mesmo ali ao lado deles, mas ainda havia muito para conhecer. Este concurso foi o pretexto. Quando a professora de Português lançou o desafio à turma, organizaram-se e dividiram tarefas: fizeram um inquérito a funcionários e alunos sobre a importância do gatil, pediram à professora de Francês se podiam entrar no espaço para tirar fotografias e trataram do registo visual. Voltaram a conversar com a professora Luísa Veiga. Finalmente, começaram o processo de escrita a seis mãos.

“Cada um tratou da sua parte, mas fomos fazendo tudo os três em conjunto. Fomos ao gatil os três, escrevemos o texto os três”, recorda Nicole. Como a proposta inicial tinha partido da professora de Português, só as melhores reportagens de turma seriam submetidas a concurso. Leonor diz que serem selecionados na turma foi uma surpresa, mas saberem que tinham ganho um concurso a nível nacional teve outro impacto. “Foi um choque”, acrescenta a colega Nicole.

Em Viana do Castelo, um vencedor em dose dupla

Na edição em que os alunos do Agrupamento de Escolas Santos Simões viram a sua reportagem ser distinguida, o júri não teve uma tarefa facilitada. Prova disso foi ter de distinguir não uma, mas duas reportagens e atribuir um prémio ex aequo. Simão Barbosa, aluno do Agrupamento de Escolas Pintor José de Brito, Santa Marta de Portuzelo (Viana do Castelo), ganhou com uma reportagem sobre a violência no futebol. Teve como caso de estudo o Torre Sport Clube, que para si é um exemplo de boas práticas, mas deixou claro no seu texto que este é um tema que diz respeito a todo o mundo do futebol.

Antes de conversar com o PÚBLICO na Escola, deixou uma sugestão. Quis que a professora da Silva estivesse presente — afinal, tem sido ela a grande responsável pela participação em diversos concursos de escrita. Muitos dos quais este aluno tem ganho. “Eu gosto de cativar os alunos porque é fundamental eles lerem e escreverem, e o Simão é aquele que sempre que eu atiro, ele dá-me o retorno”, viria a contar a professora. Foi assim que aconteceu com o Jornalistas em Rede: Simão soube logo qual ia ser o tema para a reportagem, e teve muitas ideias para a entrevista. Acabou por ganhar ambos. “Já tinha decidido que ia participar, mas ganhar a reportagem deu-me uma motivação extra”, diz.

Mas voltando à reportagem. Tal como os colegas de Guimarães, Simão escreveu sobre um tema que lhe era próximo. “Eu gosto de futebol, quis dar reconhecimento ao meu clube, porque é considerado um clube pequeno. E também decidi pegar num tema que mesmo nestes escalões já é muito recorrente, e achei que deveria falar sobre isso”, partilha. Sabe-o porque já o sentiu e acredita que “o que ativa essa violência [dentro de campo] muitas vezes são os próprios pais”. No seu clube, sempre sentiu que era diferente: “Sempre tivemos a cultura de respeitar o adversário, de tentar evitar essas coisas.”

Apesar de jogar no Torre Sport Clube, quis “escrever como alguém de fora”. Entrevistou o presidente, dois treinadores e um antigo jogador que continua ligado ao clube. Ficou a saber mais sobre a história do clube e a posição de cada um dos entrevistados sobre o tema. A maior dificuldade que encontrou pelo caminho foi a demora nas respostas, mas aguardou pacientemente, porque “as pessoas têm os seus empregos e nem sempre têm tempo”.

O mesmo aconteceu quando decidiu candidatar-se à entrevista. Diogo Parente, o entrevistado, é cardiopneumologista, integra o Grupo Folclórico da das Bordadeiras da Casa do Povo de Cardielos e foi elemento constituinte da Comissão de Festas de Nossa Senhora do Amparo de 2023. Estava a organizar as festas na altura em que Simão, que por acaso é seu primo, lhe disse que queria entrevistá-lo. O foco da entrevista foi o seu hobby, que o jovem jornalista achou digno de destaque: o desenho. “Admiro muito a pessoa [que ele é] e o trabalho que faz, porque trabalha na nossa cultura cá de Viana. Acho interessante alguém representar tanto a nossa cultura e transmiti-la na sua arte”, explica.

Ganhar o concurso Jornalistas em Rede foi uma boa surpresa — Simão diz que ficou “orgulhoso” de si próprio —, mas “o não é sempre garantido”. Para a professora Isilda Silva, os concursos são uma forma de os alunos crescerem: “Eles têm de ir à procura, se não parece que tudo lhes é dado. Mesmo que não ganhem, vale sempre a pena.”