Literacia mediática
Histórias de Díli, Freamunde, Madeira, Olhão e Alcochete nas páginas do PÚBLICO
“Vamos Fazer um Plano” é um concurso anual promovido pelo Plano Nacional das Artes e o PÚBLICO na Escola. Vencedores terão processo de mentoria com profissionais do jornal.
Fizeram um plano, concorreram e venceram. Na terceira edição do concurso “Vamos Fazer um Plano”, iniciativa conjunta do Plano Nacional das Artes e do PÚBLICO na Escola, projecto de literacia mediática do PÚBLICO, os cinco trabalhos distinguidos vêm de escolas de Díli (Timor-Leste), Freamunde (Paços de Ferreira), Madeira, Olhão e Alcochete. Contam histórias sobre cultura e farão parte de um caderno especial, numa versão melhorada após um processo de mentoria com jornalistas e designers, que será publicada com o jornal em data a anunciar.
Nas duas edições anteriores, os planos foram portas de entrada para sítios e narrativas que nem sempre têm espaço mediático — é Bárbara Simões, jornalista e coordenadora do PÚBLICO na Escola, quem o diz. Enquanto membro do júri e presença regular das mentorias, sente que todos os anos aprende alguma coisa: “Pessoalmente sinto que fico a conhecer um pouco melhor o país depois de ter lido aqueles trabalhos e isso é sempre enriquecedor.”
A dispersão geográfica é notória e tem sido garantida desde a primeira edição. Já passaram pelas páginas do PÚBLICO trabalhos de Castro Daire, Arganil, Covilhã, Colos, Moçambique, Vila Verde, Vizela, Armamar e Biscoitos. Alguns deles com consequências concretas, como aconteceu em Castro Daire, onde uma estação arqueológica que se encontrava ao abandono, e que era o tema do plano, foi reabilitada e voltou a ter condições para ser visitada.
Além de Bárbara Simões, fizeram parte do júri a jornalista do PÚBLICO, da secção de cultura, Lucinda Canelas, e as coordenadoras intermunicipais do Plano Nacional das Artes (PNA) Susana Cabeleira, Susana Silvério e Ana Sofia Vieira. Nesta edição, Susana Cabeleira destaca “a variedade temática”, que vai “desde o património gastronómico a histórias de mulheres esquecidas” no grupo final, mas que também esteve presente nos trabalhos dos demais concorrentes. Escreveu-se, entre outros temas, sobre direitos humanos, agricultura intensiva, literatura e moinhos. A coordenadora intermunicipal do PNA olha para essa diversidade como um sinal de que “a cultura, seja ela de que natureza for, deve ser preservada e partilhada”.
“Queremos impregnar estes planos de jornalismo”
O desafio inicial era claro: fazer um trabalho de duas páginas - que na gíria jornalística se chama de plano - com um tema de cultura. Mas o melhor ainda está para vir: os vencedores do “Vamos Fazer um Plano” passarão, agora, por um processo de mentoria com profissionais do PÚBLICO. É esse o segundo momento do concurso que culmina com uma visita à redação do jornal em Lisboa, quando é possível. Nessa fase terão oportunidade de ver o seu trabalho ser editado por jornalistas e paginado por designers. Sempre com o contributo e aprovação dos autores.
“Antes de mais, queremos que estes planos já nos cheguem impregnados de cultura, com tudo o que isso possa significar. Na mentoria, queremos impregná-los de jornalismo”, partilha Bárbara Simões. E o que é que isso significa? Sentar-se com os autores, olhar para o que fizeram, e sugerir alterações — ir conversar com alguém, trazer mais imagens, mais enquadramentos e perspectivas. No fundo, fazer jornalismo.
A coordenadora do PÚBLICO na Escola diz que “há muito a ter em conta” no momento de avaliar as propostas que chegam ao júri. Qualidade, originalidade e pensamento crítico são algumas das palavras-chave, mas ter espaço para crescer, juntando informações em falta, é um factor decisivo. Imaginar “o que poderá ser o produto final e como é que isso ajudará a ler melhor jornais e o mundo à volta daqueles que passam pela mentoria” é um factor de valorização dos trabalhos.
O tanto que cabe na palavra “cultura”
Conhecer o território em que estão inseridos é a base da proposta do PNA e do PÚBLICO na Escola. Com o “Vamos Fazer um Plano”, os alunos são convidados a olhar à sua volta e a ver o que talvez sempre tenha estado ali, mas que muitas vezes não tem o devido reconhecimento.
Susana Cabeleira, coordenadora intermunicipal do PNA na região do Tâmega e Sousa, partilha que “existem crianças e jovens do interior do país a achar que a cultura é o Mosteiro dos Jerónimos e o Museu de Serralves” e que quando lhes perguntam o que é a cultura do lugar onde eles vivem, “dizem que não existe”. “Este concurso tem ajudado a contrariar essa ideia, tem feito com que olhem mais atentamente e que lutem para que as tradições não morram”.
Para o PNA, os participantes que se lançam neste desafio são agentes culturais que levam a cultura, as artes e a tradição a muitos outros lugares através dos seus trabalhos jornalísticos. Consigo levam “heróis que são anónimos a nível nacional”, mas “que têm extrema importância para as suas localidades”. Tanto nos projectos que procuram falar sobre tradições locais como nos que partilham um projecto de escola, há saberes que se trocam e relações intergeracionais que se iniciam. Enquanto o fazem, os alunos trabalham competências consideradas essenciais no Perfil no Perfil do Aluno à Saída da Escolaridade Obrigatória, defende Susana Cabeleira.
Nos trabalhos que os leitores do PÚBLICO virão a conhecer, em data a anunciar, estará o resultado destes projectos. E não se pretende que acabe no momento de publicação.