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Corrida eleitoral para Belém: o perigo de uma largada antecipada
O líder em pesquisas de intenção de votos, mesmo a um ano ou a apenas 100 dias da eleição, nem sempre é o vencedor. Nenhuma eleição está decidida antes do tempo.
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A imprensa portuguesa já identificou o almirante Gouveia e Melo, que vai para a reserva neste início de 2025, como potencial candidato à Presidência da República. Com aproximadamente 23% das intenções de votos, segundo pesquisas recém-divulgadas, ele se destaca como um concorrente relevante na disputa pelo Palácio de Belém. O clima eleitoral já se faz notar, principalmente, nos corredores da Assembleia da República e nas redações dos jornais.
A antecipação da corrida eleitoral foi catalisada pela decisão de Gouveia e Melo de não buscar a recondução como Chefe do Estado-Maior da Armada. Com esse anúncio, os atores políticos começaram a se mobilizar para negociações em direção à Presidência. A corrida já começou.
Com base em minha experiência em campanhas eleitorais no Brasil, percebo que o líder nas pesquisas, mesmo a um ano ou a apenas 100 dias da eleição, nem sempre é o vencedor. Nenhuma eleição está decidida antes do tempo.
Gouveia e Melo é um estrategista militar, não um político. Ele adentra uma arena desconhecida, acreditando ter um entendimento que, na verdade, é limitado. A política exige habilidades para interagir com outros políticos e com eleitores. Ao declarar que não permanecerá como Chefe do Estado-Maior da Armada, ele, efetivamente, se posiciona como possível candidato, acendendo sinais de alerta em todos os partidos. Apesar de as eleições autárquicas se aproximarem, a atenção ao debate político já se volta para janeiro de 2026.
Embora Gouveia e Melo não seja um político convencional, sua renúncia à carreira militar e sua imagem firme evocam a figura do salvador da pátria, especialmente, pelo papel que desempenhou na vacinação durante a pandemia da Covid-19. Os 23% de intenções de voto que detém nas pesquisas refletem, em parte, o anseio do povo português por uma liderança como a sua. E, sem sombra de dúvidas, é um grande fator motivacional para acreditar no seu potencial eleitoral.
Ele personifica o arquétipo do herói, o solucionador de problemas. O reconhecimento que obteve como líder na vacinação reforçou sua imagem positiva. A figura de um homem forte e confiante está profundamente enraizada no imaginário coletivo.
Até o momento, Gouveia e Melo não enfrenta rejeições significativas, nem há oposição formal. Apenas especulações permeiam o cenário. Ele se apresenta como um antipolítico, um outsider. No entanto, terá de oferecer explicações convincentes se realmente pretende conquistar Belém. Um candidato que se baseia em um passado glorioso, sem propostas concretas e conexão emocional com a população, dificilmente manterá a liderança.
O seu projeto de candidatura está em desenvolvimento, mas é essencial que Gouveia e Melo se alinhe às expectativas dos portugueses. Ele se contrapõe ao atual presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, que, após um período de alta aprovação, agora enfrenta uma estabilização em sua popularidade. O uso excessivo de selfies e opiniões veementes gerou uma reflexão sobre a necessidade de uma nova liderança em Belém.
Ao se lançar como candidato, Gouveia e Melo se tornou um competidor a ser abatido. Portanto, uma largada precipitada não é uma estratégia inteligente. Neste momento, todos os adversários se unem contra a candidatura do futuro ex-almirante.
Entre os possíveis concorrentes de Gouveia e Melo estão André Ventura, Luís Marques Mendes, Passos Coelho, Santana Lopes, Augusto Santos e Silva, Mário Centeno, Ana Gomes e Rui Moreira, entre outros. Marques Mendes, que há anos aguarda uma oportunidade, é o candidato preferido do primeiro-ministro, Luís Montenegro. Ventura, por sua vez, não hesitará em agitar o cenário político. Fica também a dúvida sobre como Ana Gomes se posicionará. Vale mencionar Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, que, após aparições como comentarista na tevê, mostra ter ambições além dos limites da Invicta.
Atualmente, o cenário político é incerto. O crucial é observar como os reais candidatos se desenvolvem, como trabalham e quais propostas apresentarão ao povo português. Um candidato deve ter conteúdo a oferecer e comprovar sua capacidade de ação. Propostas concretas são essenciais. Um candidato que não traz substância se esvaziará rapidamente.
Antevejo um 2025 agitado, não apenas pela intensa disputa entre as principais forças políticas nas eleições autárquicas, mas, principalmente, pela antecipação do debate sobre as eleições presidenciais de 2026. A imprensa nacional será a responsável por alimentar as especulações sobre o futuro inquilino de Belém.
Os candidatos à presidência poderão utilizar as campanhas autárquicas para engajar seu eleitorado e conquistar prestígio político em todo o país. Aqueles que souberem identificar e aproveitar essa oportunidade poderão se posicionar de maneira mais assertiva nas pesquisas.
Sem dúvida, será um ano de grande atividade política. Boa sorte a todos nós!