Bastonário dos psicólogos pede “esclarecimentos” ao Governo sobre serviços de saúde mental

OPP alerta que “o investimento (...) continua centrado na doença mental (em particular na doença mental grave), em detrimento de uma abordagem de promoção da saúde mental e prevenção”.

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Francisco Miranda Rodrigues, bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses Rui Gaudêncio (arquivo)
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O bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), Francisco Miranda Rodrigues, remeteu uma carta à ministra da Saúde na qual pede esclarecimentos sobre a implementação e funcionamento dos serviços de saúde mental. Num comunicado enviado às redacções nesta segunda-feira, a OPP explica que, na missiva, o bastonário questiona o facto de “após a nomeação do novo presidente do Conselho Nacional de Saúde Mental, a qual levou um tempo significativo”, verificar-se “a total ausência de convocação de reuniões deste órgão consultivo, pelo menos no que respeita à participação dos representantes da OPP”.

O Conselho Nacional de Saúde Mental (CNSM), recorde-se, é o órgão consultivo do Governo em matéria de política de saúde mental, nele estando representadas as entidades com intervenção na área da saúde mental a nível nacional, nomeadamente as áreas governativas relevantes, os serviços e organismos públicos, as associações públicas profissionais e as associações de utentes e de familiares. No documento, Francisco Miranda Rodrigues diz-se preocupado por, até à data, a OPP ter apenas conhecimento de o Conselho Regional de Saúde Mental do Algarve e de Lisboa e Vale do Tejo terem reunido, “não existindo notícias sobre a operacionalização dos restantes Conselhos Regionais de Saúde Mental (CRSM), apesar de as suas competências preverem o acompanhamento da execução dos Planos Regionais de Saúde Mental”.

Por isso, o responsável pede à ministra Ana Paula Martins que preste esclarecimentos sobre o funcionamento dos restantes CRSM e a regularidade das suas actividades.

Além disso, este organismo diz querer saber como está a implementação das equipas comunitárias de saúde mental, até por considerar que estas “são essenciais para garantir uma intervenção na comunidade, assumindo responsabilidade por uma população definida.

Contudo, desconhece-se o ponto de situação nacional da sua criação e implementação. A última informação a que a OPP teve acesso mencionava a implementação de cerca de 20 das 40 equipas previstas, desconhecendo-se se se tratava de equipas para infância e adolescência ou equipas para adultos, pode ainda ler-se na carta.

A Ordem dos Psicólogos alerta ainda para o facto de “o investimento das estruturas governativas, e das estruturas de coordenação de âmbito nacional e regional, continuar "centrado na doença mental (em particular na doença mental grave), em detrimento de uma abordagem de promoção da saúde mental e prevenção, contrariando todos os princípios e orientações europeias, bem como as previstas pela OMS”.

E chama a atenção para o facto de terem sido “criadas vagas nas IPSS’s para apoio à desinstitucionalização, sem acompanhamento de reforço dos recursos humanos necessários”.

Por fim, o bastonário dos psicólogos solicita “informação sobre a aposta e o financiamento a programas de promoção e prevenção na saúde mental, bem como sobre as medidas previstas para garantir a dotação adequada de recursos humanos, nomeadamente para a concretização dos programas prioritários relativos à depressão e à ansiedade. A "preocupante" falta de psicólogos no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e a sua enorme precariedade nas IPSS’s, nomeadamente por via da dependência, quase em exclusivo, de financiamentos temporários no caso dos respectivos programas e recursos das IPSS" são outras das preocupações vincadas na missiva.

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