Porque é que não há mais mulheres a pedir os parceiros em casamento?

As mulheres que pedem em casamento estão a fazer algo extravagante, invulgar e, embora possam não ser abertamente condenadas, continuam a quebrar um tabu nos rituais de casamento contemporâneos.

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As visões tradicionais sobre o casamento estão a mudar Getty Images
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O período de Natal não é só para presentes, luzes cintilantes e demasiada comida — é também a altura ideal para os casais ficarem noivos. E, para os casais heterossexuais, é provável que isso aconteça de uma forma específica: o homem fará o pedido.

As visões tradicionais sobre o casamento estão a mudar. Em 2021, em Inglaterra e no País de Gales, nasceram pela primeira vez mais bebés de pais solteiros do que de pais casados. E muitas mulheres mantêm o seu próprio apelido em vez de o mudarem para o do marido quando dão o nó. Mas os pedidos de casamento ainda são considerados uma tarefa masculina.

No entanto, algumas mulheres optam por pedir o seu parceiro em casamento. Na nossa investigação, debruçámo-nos sobre as suas experiências, explorando a suas escolhas e procurando compreender por que razão tão poucas mulheres dão este passo. Entrevistámos 21 mulheres que fizeram o pedido de casamento e analisámos conversas nas redes sociais sobre o assunto.

Das 21 mulheres que entrevistámos, a maioria teve uma experiência positiva. Uma foi rejeitada e outra apercebeu-se de que o seu companheiro — que tinha dito sim — andava a dizer a toda a gente que tinha sido ele a fazer o pedido de casamento.

Neste caso, a mulher do nosso estudo pediu-o em casamento porque o seu companheiro lhe disse que era feminista e ela pensou que ele gostaria que lhe fizesse o pedido. Mas o facto de ele ter mudado a narrativa expôs o quão desconfortável estava com o facto de ter sido ela e toda a relação se desmoronou.

Mesmo que este relato não seja representativo da amostra, mostra algo relevante: as mulheres que pedem os homens em casamento estão a fazer algo extravagante, invulgar e, embora possam não ser abertamente condenadas, continuam a quebrar um tabu nos rituais de casamento contemporâneos.

Embora as mulheres do nosso estudo tenham recebido muito apoio das pessoas que lhes eram próximas, todas elas sofreram alguma forma de rejeição ou de julgamento negativo. Disseram-lhes que estavam a retirar virilidade aos seus parceiros masculinos ou que tinham estragado a magia de um pedido de casamento.

Uma das mulheres do nosso estudo, Juliet, recordou a reacção da sua mãe: “Telefonei imediatamente à minha mãe [...] A sua primeira reacção foi: ‘Porque não podes esperar por ele?’ E eu disse: ‘Porque é que tenho de o fazer?’ Ela disse: ‘Eu quero que tu tenhas esse momento’.”

Juliet ficou surpreendida com esta reacção – especialmente porque a sua mãe tinha sido punk quando era mais nova. No entanto, a mãe esperava que Julieta tivesse um pedido de casamento mais convencional, um momento de conto de fadas como nos filmes. Apesar destas expectativas, Juliet não sentiu que tivesse de ficar à espera e estava orgulhosa por ter tomado a iniciativa.

Outra participante, Rosa, contou-nos a reacção negativa que recebeu da família do seu noivo depois de ter tomado a iniciativa de o pedir em casamento: "Os pais dele diziam que era algo que um homem devia fazer, que o ia fazer sentir-se menos homem, se é que isso faz sentido... Queriam que ficássemos noivos, mas não que fosse eu a dar esse passo."

Os guiões dos pedidos de casamento são difíceis de mudar. Permanecem intocados porque são entendidos como a única forma legítima de fazer as coisas pela família e pelos amigos e, muitas vezes, são interiorizados como tal pelas próprias mulheres. As mulheres que tentam rebelar-se contra eles são julgadas por “não fazerem as coisas como deve ser”.

Novas tradições

Mas a nossa investigação também mostrou que não fazer as coisas seguindo o que é tradicional é uma oportunidade para brincar e divertir-se. Em vez de oferecerem um tradicional anel de diamantes, as mulheres com quem falámos usaram presentes originais, baratos e adaptados ao estilo de vida dos seus parceiros.

Uma mulher disse-nos: "Fiz-lhe uma piza onde escrevi ‘casa comigo’, porque a comida preferida dele é piza, por isso achei que seria muito romântico fazer-lhe uma piza de pedido de casamento [...] Comprei um anel, fazemos escalada juntos, por isso comprei-lhe um anel de silicone, como um anel de escalada.”

Uma mulher fez o pedido de casamento com um balão com a forma de um anel de diamantes, mostrando como os pedidos de casamento de mulheres também podem parodiar o guião rígido do que é esperado de um pedido de casamento.

A maioria das mulheres da nossa amostra não conhecia nenhuma outra mulher que tivesse pedido um homem em casamento. Sabiam, no entanto, que os anos bissextos são uma oportunidade para as mulheres que querem fazer o pedido de casamento. A cultura popular também oferece poucos exemplos, com as mulheres a citarem muitas vezes os mais conhecidos, como Mónica de Friends.

Mas esta falta de modelos a seguir é compensada por redes de solidariedade online. Tanto as nossas entrevistadas como as plataformas de redes sociais que analisámos indicam como as mulheres utilizam os espaços digitais para partilhar ideias, procurar conselhos e dar apoio umas às outras.

Uma pessoa partilhou na Internet: "Esta publicação mostrou-me que não é estranho ou ‘errado’ — tudo depende do casal e eu sei que o meu namorado vai adorar [...] Muito obrigada por me dar confiança para fazer isto!"

Muitas vezes, as mulheres optam por não fazer o pedido de casamento porque são apanhadas num duplo dilema: as mulheres são socializadas para sonharem com o casamento, sendo o pedido de casamento o auge do romance — mas são julgadas se tomarem a iniciativa. Isto reproduz o estereótipo de que as mulheres estão "sempre prontas" para assentar, enquanto os homens não estão, e é por isso que se espera que o parceiro masculino mostre iniciativa.

As mulheres que pedem os homens em casamento são frequentemente motivadas por sentimentos de igualdade de género, mas os seus esforços para mudar os guiões confirmam frequentemente o domínio dos rituais de casamento sexistas existentes.


Exclusivo P3/ The Conversation
Daniela Pirani é professora de Marketing da Universidade de Liverpool
Ratna Khanjiou é professora de Marketing no Goldsmiths, Universidade de Londres
Vera Hoelscher é professor de Marketing na Royal Holloway University em Londres

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