A sua filha de oito anos pediu um sérum para o Natal, o que fazer?

A “moda do skincare” chegou às pré-adolescentes, cuja rotina de beleza deverá passar por um banho e um emoliente. Em vez disso, pedem produtos com composições complexas, que podem fazer mal.

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A pele jovem precisa apenas de cuidados básicos Ron Lach/pexels
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Na consulta de dermatologia pediátrica, Cristina Amaro foi surpreendida com a "moda do skincare", ou seja não só adolescentes, mas pré-adolescentes que fazem uma "introdução precoce de produtos complexos e com riscos associados", descreve ao PÚBLICO. Chegados ao Natal, muitos desses jovens juntam à lista de presentes os produtos que vêem as influencers, que seguem nas redes sociais, recomendarem.

Os séruns estão à cabeça e estes são os tais produtos complexos de que fala a dermatologista, mas não só. Também Ana Sofia Amaral, directora científica da L'Oréal Portugal alerta os pais para não cederem às vontades dos mais novos. Cristina Amaro alerta para a falta de percepção dos filhos para compreenderem que o que vêem nas redes sociais é marketing. Por isso, é importante "ensinar a população visada a filtrar a informação e a saber usar os produtos certos, na altura certa", declara, preocupada não só com o impacto que estas tendências têm na pele, como nas crianças com "personalidades vulneráveis".

"É importante informar os pais sobre a simplicidade e especificidade necessárias no cuidado da pele dos filhos. Reforçar que os produtos são desenvolvidos para diferentes tipos de pele", diz Ana Sofia Amaral, que recomenda que, em vez de séruns ou produtos de dermocosmética, se procurem os adequados às peles que ainda estão em desenvolvimento. "Esses produtos são formulados com ingredientes suaves e adequados, enquanto produtos para adultos podem ser demasiado activos", declara, acrescentando a importância de, em caso de dúvida, consultar o pediatra e/ou dermatologista.

A minha filha pediu um sérum com ácido hialurónico e outro de vitamina C... A pele de uma criança precisa destes produtos?

Ana Sofia Amaral começa por responder que a pele jovem precisa apenas de cuidados básicos como "limpeza, hidratação e protecção solar". E acrescenta: "Produtos mais avançados só devem ser introduzidos na adolescência, e mesmo assim, apenas quando necessário e sob recomendação médica."

Cristina Amaro concorda e reforça que os produtos devem ter uma "composição simples" e serem usados com o objectivo de hidratar a pele. À medida que a criança entra na adolescência e a pele se torna mais oleosa e com tendência acnéica, então, deve adequar-se os produtos e o ácido hialurónico pode ser usado como hidratante, "tornando-se a formulação em gel-creme ou sérum preferencial", aconselha.

Contudo, a dermatologista do Hospital Cuf Descobertas, em Lisboa, defende que é "essencial conhecer a composição dos cosméticos", que é, "por vezes complexa, contemplando associações de substâncias essencialmente hidratantes, com o ácido hialurónico, com outras como alfa-hidroxiácidos (como o ácido glicólico ou ácido salicílico) que, apesar de benéficos como, por exemplo, no controlo da oleosidade, podem revestir-se de algum efeito irritativo".

De recordar, que muitos dos séruns de ácido hialurónico que existem no mercado têm um efeito antienvelhecimento, ou seja, destinam-se a um público adulto, tal como a Vitamina C, que está pensada como anti-manchas, tem propriedades antioxidantes, logo, "dificilmente enquadrável nas necessidades inerentes à população pediátrica".

Quais os perigos de produtos que têm funções como o peeling?

O peeling é um procedimento que promove a descamação da pele, de maneira a regenerar as células. Existem produtos à venda que o promovem para o tratamento de rugas e linhas de expressão, mas também para clarear manchas da pele ou cicatrizes de acne. Estes podem ser "demasiado activos para a barreira cutânea das crianças, que é mais sensível", alerta Ana Sofia Amaral.

Como são produtos com efeito abrasivo, o "efeito secundário mais frequente é a dermatite de contacto irritativa", acrescenta Cristina Amaro. "Esses produtos podem causar irritação, vermelhidão e até agravar problemas existentes, quando usados em populações para os quais não foram desenvolvidos", continua Ana Sofia Amaral, lembrando que não são recomendados para uso em crianças.

Se, uma criança ou adolescente usar um destes séruns e sofrer algum dos efeitos descritos, a dermatologista recomenda que se suspenda de imediato a sua utilização e se hidrate e pele. Em casos mais graves, poderá ser necessário medicação com anti-inflamatórios tópicos.

E os produtos com retinol ou hidroxiácidos, usados para anti-aging, também podem são úteis para a acne?

O retinol e os alfa-hidroxiácidos promovem a descamação e a renovação celular. E, no caso de acne, podem ser usados, mas só com recomendação e supervisão de um dermatologista, responde a directora científica da L'Oréal Portugal.

Presentes nos cosméticos e em concentrações muito variáveis, o retinol e os alfa-hidroxiácidos, quando em "concentrações ligeiras podem ser úteis no controlo da oleosidade e com efeito anti-comedogénico (nos pontos negros), não constituindo problema na sua venda livre", responde a dermatologista Cristina Amaro.

"No caso de fórmulas mais concentradas, já com efeito na acne cicatricial, a sua utilização deve ser cautelosa e devidamente orientada por um médico especializado, pois o seu uso indevido poderá acarretar efeitos irritativos, que podem ser cumulativos com os das terapêuticas em curso", acrescenta.

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É importante ouvir a opinião do pediatra ou do dermatologista KoolShooters/pexels

Que rotina é recomendada às crianças e adolescentes?

Cristina Amaro recomenda, para as crianças, um banho diário e um emoliente para conforto — "de preferência simples, principalmente se estivermos perante uma pele atópica ou mais sensível". Ana Sofia Amaral acrescenta a esta rotina o uso de protector solar.

Já no início da puberdade é recomendável mudar para um creme com características mais adequadas à pele em transformação oleosa/mista, continua a dermatologista. "Contudo, a utilização de uma rotina não é crucial nem preventiva de acne", refere. No caso de acne, há que distinguir os tipos e gravidade pois haverá situações em que a dermocosmética é útil para cuidados e controlo de casos ligeiros e outras onde a orientação terapêutica pelo médico assistente é fundamental, acrescenta.

"Séruns ou produtos avançados não são necessários na maioria dos casos", resume Ana Sofia Amaral.

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