A MSC Cruzeiros concordou em remover anúncios que promoviam o gás natural liquefeito (GNL) como sendo um “combustível mais limpo” depois de a Opportunity Green, uma organização não-governamental dedicada ao ambiente, ter apresentado queixa contra aquilo que defende ser uma prática de greenwashing.
A queixa tinha sido apresentada em Março à Advertising Standards Authority (ASA), entidade que supervisiona e regula a publicidade no Reino Unido. Após “uma investigação de nove meses”, a ASA “chegou a uma 'resolução informal' com a MSC Cruzeiros – uma das maiores empresas de cruzeiros do mundo – sobre as alegações ambientais que fez sobre o gás natural liquefeito”.
“A queixa dizia respeito à campanha publicitária internacional da MSC Cruzeiros 'Por uma maior beleza', lançada no início de 2024 em mais de 30 países, e que incentivava os consumidores a navegar de forma mais consciente e com respeito pelo oceano e pelo planeta, ao chegar aos destinos 'com um combustível mais limpo'”, detalha a Opportunity Green em comunicado.
No site da empresa em Portugal, a campanha publicitária continua em destaque na homepage. "A beleza é o que nos move. É a força que nos impele a criar mais e uma forma mais consciente de navegar. É por isso que, na MSC, usamos GNL, um combustível marítimo mais limpo, para alcançar alguns dos destinos mais maravilhosos em todo o mundo", lê-se na página.
O gás natural liquefeito, utilizado para abastecer, em parte, a mais recente frota de navios de cruzeiro da empresa (MSC World Europa e Euribia, detalha o anúncio no site português), assim como de outras companhias de cruzeiros, no entanto, é “um combustível fóssil altamente prejudicial”, existindo “um forte conjunto de provas” que demonstram os “impactos prejudiciais” para o clima “devido ao seu elevado teor de metano, um potente gás com efeito de estufa”, sublinha Kirsty Mitchell, gestora jurídica da Opportunity Green, citada na nota de imprensa.
“Já é tempo de a indústria dos cruzeiros ser chamada à atenção pela sua publicidade enganosa e sistemática do GNL fóssil como sendo 'verde'”, acrescenta. “As companhias de cruzeiros estão ansiosas por se concentrarem nas poupanças de emissões de carbono ou nos benefícios em termos de poluição atmosférica associados à utilização de GNL fóssil, mas isso só conta uma parte da história”, aponta, lembrando que “os impactos climáticos do metano são mais de 80 vezes superiores aos do dióxido de carbono num período de 20 anos”.
Os anúncios referidos na queixa publicitavam o MSC World Europa como utilizando “tecnologia limpa e ecológica”, o que a Opportunity Green denunciou como sendo enganoso. De acordo com a ONG, “a MSC Cruzeiros concordou com a ASA em remover completamente os anúncios na forma reclamada e garantir que os anúncios futuros serão claros e não farão alegações ambientais absolutas, a menos que haja uma fundamentação sólida”.
Já no início do ano, também a entidade reguladora da publicidade nos Países Baixos tinha decidido contra a MSC Cruzeiros na sequência de uma acusação semelhante de greenwashing, igualmente relativa às suas declarações 'verdes' sobre o GNL fóssil. Para a Opportunity Green, estas resoluções sinalizam “um maior escrutínio legal da indústria de cruzeiros”, “altamente poluente”, e constituem “um aviso claro” ao sector sobre “os riscos jurídicos de comercializar o GNL fóssil como combustível verde”.
Apesar de saudar a retirada dos anúncios, o director jurídico da organização ambiental, David Kay, lamenta que tenha sido “necessária uma investigação [da entidade] reguladora de nove meses” para tal, uma vez que a Opportunity Green já tinha entrado em contacto directamente com a companhia de cruzeiros sobre o tema em Junho do ano passado. E lembra que a MSC “continua a lucrar com a sua campanha publicitária através de empresas de bilhetes que continuam a utilizar as alegações enganosas para atrair clientes”. “Iremos contactar todas essas empresas nos próximos dias para garantir que retiram os anúncios.”
Em relação a Portugal, questionado o departamento de comunicação da MSC, este informou que a empresa poderia prestar esclarecimentos posteriormente.