“Uma vez que está gravado na película, acabou”: 25 anos de curtas-metragens em super-8

Concurso Straight8 desafia realizadores a criarem curtas-metragens “às cegas”, com uma única bobine, e a visualizá-las pela primeira vez na noite de estreia junto com o público.

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Curta Killjoy, de Vasco Vieira, foi uma das oito finalistas do Straight8 exibidas em Cannes DR
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Numa noite de 1999, um amigo de Ed Sayers decidiu tirar do armário um projector de super-8 — um tipo de película cinematográfica e mostrar-lhe alguns vídeos da sua infância.

"A cada três minutos, quando tínhamos de mudar a bobine e começar a ver outro filme, havia uma elemento surpresa muito interessante acerca do que iria ser projectado a seguir", e foi assim que a ideia para o que viria a ser a competição de cinema Straight8 surgiu na mente de Ed, fundador da iniciativa.

O conceito é simples, mas a sua execução nem tanto: o desafio consiste em filmar uma curta-metragem em super-8, utilizando apenas uma bobine, ou seja, os participantes têm um só take, sem possibilidade de pós-produção, para darem vida às suas histórias. Sem terem acesso ao que filmaram (o processo de revelação e digitalização é feito pela organização), o som é também gravado e sincronizado "às cegas", como indica o site da competição. Os realizadores das curtas só conseguem ver o resultado final na noite de estreia, assim como o resto dos espectadores que, ao longo dos anos, têm vindo a encher salas de cinema um pouco por todo o mundo.

​"Há algo muito especial na falta de perfeição. Especialmente agora, estamos habituados a que tudo seja muito polido e melhorado em pós-produção. Eu simplesmente quero ver algo mais cru, até mesmo com erros. A ideia é que, quando estejas a fazer um filme, não tenhas esta pressão para que tudo esteja perfeito. Neste caso, quase que sabes que os resultados finais não vão ser perfeitos", explica Ed, acrescentando que a utilização deste formato de gravação em particular "coloca todos ao mesmo nível", independentemente do material ou experiência que possam ter.

"Apesar de ser um desafio enorme, por causa disso, e apesar disso, é uma experiência completamente libertadora, porque uma vez que está gravado na película, acabou, temos de andar para a frente".

Vasco Vieira participou nas últimas três edições do Straight8, tendo a mais recente sido com Killjoy, em que explora a personificação da sua "auto-sabotagem" perante o seus trabalhos.

A viver em Londres desde 2012, o jovem realizador português já teve a oportunidade de ver os seus filmes quer no ecrã IMAX do British Film Institute, onde as 25 melhores curtas a concurso são exibidas, quer em Cannes, onde os oito finalistas podem ver — pela primeira vez, claro os seus filmes no ecrã de um dos mais prestigiados festivais de cinema.

"Vi as curtas a serem exibidas em vários festivais e em vários países e pensei: porque não trazê-las para Portugal?", reconta Vasco, que ajudou a equipa do Straight8 a entrar em contacto com salas portuguesas, por onde as ultimas três edições da competição têm passado. Este ano, no dia 19 de Dezembro, as curtas estiveram no cinema Trindade, no Porto, e no dia seguinte, na Cinemateca Portuguesa, em Lisboa.

Para Ed Sayers​, a coisa mais importante que o quarto de século desta iniciativa lhe trouxe foi uma "comunidade" pela qual se sente "muito inspirado", em particular pelas colaborações, projectos e amizades que a partir dele nasceram. "As pessoas guardam memórias muito valiosas do processo de criação seus filmes Straigh8, até nos casos em que os filmes não eram assim tão fantásticos. Acho que é isso que me faz continuar. Adoro isso e acho que faz muito bem à alma."

A edição de 2025 da competição já está aberta. Para participar, os realizadores devem reservar uma data de entrega de entre as disponibilizadas na página oficial do Straight8, mediante um pagamento, sendo a data mais tardia 21 de Fevereiro do próximo ano.

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