Público Brasil Histórias e notícias para a comunidade brasileira que vive ou quer viver em Portugal.
Mudança na lei: brasileiro poderá entrar como turista em Portugal e pedir residência
Assembleia da República portuguesa aprova modificação que cria situação semelhante à da Manifestação de Interesse para cidadãos da CPLP, incluindo brasileiros. Polícia de Fronteiras foi rejeitada.
Os artigos da equipa do PÚBLICO Brasil são escritos na variante da língua portuguesa usada no Brasil.
Acesso gratuito: descarregue a aplicação PÚBLICO Brasil em Android ou iOS.
A Assembleia da República aprovou, nesta sexta-feira (20/12), modificação na Lei de Estrangeiros (Lei 23/2007) que vai facilitar a vida de quem quer emigrar para Portugal vindo dos Estados membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Quando a alteração na lei entrar em vigor, após sanção do presidente Marcelo Rebelo de Sousa, cidadãos do Brasil e do Timor-Leste poderão entrar como turistas em Portugal e solicitar a autorização de residência à Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA). Já os cidadãos dos demais países da Comunidade precisarão de vistos de entrada em território português, para, então, requererem a residência. Esse canal CPLP é semelhante à Manifestação de Interesse, que foi extinta em junho.
A nova versão do artigo 75 da Lei de Estrangeiros também traz alteração no prazo de validade dos títulos de residência CPLP, de um para dois anos. E mais: as autorizações serão emitidas em cartões de plásticos, como os demais documentos de estrangeiros — hoje, estão em folha de papel A4. Isso permitirá que os cartões sejam aceitos em todos os países da União Europeia, o que não ocorre com o título atual.
Depois de enviada a nova versão da lei pelo Parlamento ao Presidente República, ele terá 20 dias para assiná-la. Caso considere necessário, poderá enviá-la para avaliação do Tribunal Constitucional — o equivalente ao Supremo Tribunal Federal — nos primeiros oito dias. Mas os 20 dias não começam a contar já. Antes, a modificação na lei voltará à comissão do Parlamento que fez a discussão sobre o tema, para a redação final.
Após todo esse processo, a AIMA terá de abrir o cadeado que mantém em sua página desde 2022, para que os cidadãos da CPLP possam requerer a autorização de residência já estando em solo português.
Derrota do Governo
Em meio à votação da alteração na Lei de Estrangeiros, que favorece os cidadãos da CPLP, houve uma derrota para o Governo português, que é minoritário no Parlamento. A proposta de criação de uma unidade de polícia de estrangeiros foi rejeitada em plenário pelos deputados, depois de já ter sido rejeitada na Comissão de Direitos, Liberdades e Garantias nesta semana.
Se aprovada, a Unidade Nacional de Estrangeiros e Fronteiras daria superpoderes à Polícia de Segurança Pública (PSP) para interpelar imigrantes nas ruas, prender os indocumentados e deportá-los de Portugal. A proposta foi considerada pelos deputados radical demais.
Existia um receio da oposição de esquerda de que, com a nova unidade de polícia, operações como a realizada nesta quinta-feira (19/12), no bairro Martim Moniz, em Lisboa, se tornassem comuns. Na operação policial, que tinha como objetivo declarado buscar armas e drogas, dezenas de imigrantes foram mantidos virados para a parede, com as mãos para o alto, para serem revistados. No final, de várias horas, encontraram uma arma branca, dois imigrantes ilegais e foi apreendida a quantia de 4 mil euros.
Enquanto o primeiro-ministro de Portugal, Luís Montenegro, declarou que a atuação da polícia no Martim Moniz foi muito importante para criar visibilidade e proximidade no policiamento, aumentando a sensação de tranquilidade dos cidadãos portugueses, os partidos à esquerda e organizações de imigrantes e direitos humanos criticaram a iniciativa.
No Parlamento, durante o debate da mudança na Lei de Estrangeiros, a deputada do Partido Socialista Isabel Moreira afirmou: "Um forte dispositivo policial encostou cidadãos à parede, revistando-os, assim, virados contra a parede. Isto é inaceitável num regime democrático". As críticas também vieram da Casa do Brasil de Lisboa, a mais antiga associação de imigrantes do país, e do coletivo HuBB, de direitos humanos, que usou o termo "racismo", além de personalidades da sociedade civil.
17ª mudança na lei
Com o aval da Assembleia da República, esta será a 17ª mudança na Lei de Estrangeiros. A votação, por sinal, provocou um momento pouco claro para quem não está acostumado com o funcionamento do Parlamento português. Foram necessárias quatro votações, quando, o regimento do Legislativo fala em três etapas de análise pelos deputados.
Enquanto o partido Chega, de extrema-direita, pretendia retirar da proposta os vistos para os cidadãos da CPLP e aumentar os poderes da polícia em relação aos imigrantes, dando à unidade da PSP uma estrutura nacional, os partidos da esquerda defendiam que não fosse constituída a unidade de polícia de fronteiras.
Texto atualizado para incluir informações sobre a reação ao projeto.