Ataque russo atinge Embaixada de Portugal em Kiev. Não há vítimas portuguesas

Paulo Rangel, ministro dos Negócios Estrangeiros, condenou o ataque que atingiu instalações diplomáticas de vários países, como Argentina, Albânia e Montenegro, e vai apresentar “protesto formal”.

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O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, diz que ainda não se definiu se os diplomatas portugueses continuarão no terreno FILIPE AMORIM / LUSA
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Um ataque aéreo russo atingiu esta sexta-feira a zona onde está situada a Embaixada de Portugal em Kiev, mas os danos na chancelaria da embaixada são apenas materiais. A informação foi confirmada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, em declarações aos jornalistas, tendo adiantado ainda que o Governo se irá reunir com o encarregado de negócios da Federação Russa esta sexta-feira (uma vez que o embaixador russo não se encontra em Lisboa) para apresentar um "protesto formal". Luís Montenegro, por seu turno, falou num "ataque intolerável" e exige às forças russas "estrito respeito".

Aos jornalistas, Marcelo Rebelo de Sousa explicou ter concordado com a decisão de realizar "uma diligência junto do país em causa" em relação ao que é "uma violação de regras de direito internacional". Questionado sobre se considera que este ataque é uma retaliação ao apoio dado pelos Estados-membros da União Europeia à Ucrânia, o Presidente da República disse que não tem como se pronunciar sobre isso e que a sua certeza é que, perante o ataque, "Portugal tem de reagir com firmeza". "É um precedente que se traduz numa violação de regras", disse Marcelo Rebelo de Sousa esta manhã, em declarações transmitidas pela SIC Notícias.

Além dos danos na embaixada, o bombardeamento provocou, pelo menos, uma vítima mortal, informa a Reuters.

Do lado do Governo, o ministro dos Negócios Estrangeiros vincou que qualquer ataque da Federação Russa à Ucrânia e a Kiev merece a mais forte condenação, mas sublinhou que "é inaceitável" que estes ataques "tenham impacto ou visem instalações diplomáticas". Segundo o governante, os danos são "ligeiros" e correspondem a "janelas partidas" e "portas danificadas".

Além da Embaixada de Portugal, foram também atingidas as embaixadas da Argentina, da Albânia e do Montenegro, detalhou o ministro, em declarações transmitidas pela CNN. Seis missões diplomáticas, entre elas a de Portugal, foram danificadas pelos ataques russos que atingiram um bairro nobre do centro de Kiev, afirmaram diplomatas ucranianos.

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"Impacto intolerável"

Entretanto, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, exigiu o "estrito respeito" pelo direito internacional, agradecendo a solidariedade europeia depois do ataque russo a Kiev, que teve "um impacto intolerável" sobre as instalações diplomáticas portuguesas.

"Diante de mais um horrível ataque da Rússia sobre Kiev, agora com um impacto intolerável sobre instalações diplomáticas portuguesas, agradeço a solidariedade europeia da Presidente da Comissão [Ursula von der Leyen] e da alta-representante [Kaja Kallas]", afirmou Luís Montenegro. Portugal "exige o estrito respeito pelo direito internacional", acrescentou o primeiro-ministro, numa publicação na rede social X.

No final de Novembro, o Ministério dos Negócios Estrangeiros decidiu encerrar temporariamente a Embaixada de Portugal em Kiev, perante a ameaça de um ataque aéreo pelas forças russas. Desta vez, Rangel disse que "ainda não estava definido" se os diplomatas portugueses em solo ucraniano sairiam, ou não, da capital do país.

Um morto e vários feridos

Os habitantes do centro da capital ucraniana disseram ter ouvido explosões e visto incêndios em vários prédios, explicou o chefe da administração militar de Kiev, Serhii Popko. Imagens do local do bombardeamento mostram um telhado destruído de um bloco de escritórios com as janelas partidas, no centro de Kiev. Os bombeiros foram chamados para extinguir um incêndio depois de um carro ter sido fortemente atingido numa rua próxima.

As forças russas usaram oito mísseis no ataque da manhã desta sexta-feira, incluindo mísseis hipersónicos Kinzhal e Iskander/KN-23, disse Popko. A Força Aérea ucraniana disse ter abatido os cinco mísseis balísticos Iskander-M/KN-23 usados no bombardeamento à capital.

O presidente da Câmara de Kiev, Vitali Klitschko, revelou que uma pessoa morreu no ataque. A administração da cidade disse que 11 pessoas ficaram feridas, incluindo cinco que tiveram de ser hospitalizadas.

O Ministério da Defesa russo disse ter atingido um centro de comando utilizado pelos serviços de informações ucranianos, a SBU, que terá estado envolvido na concepção e construção de mísseis e do sistema de defesa antiaérea norte-americano Patriot. "Os objectivos do ataque foram alcançados, todos os alvos foram atingidos", disse o ministério. A Reuters não conseguiu verificar de forma independente os relatos dos dois lados.

A Rússia tem realizado ataques aéreos contra Kiev e outras cidades ucranianas, tentando atingir sobretudo a infra-estrutura energética. Em pleno Inverno, com temperaturas abaixo de zero, as autoridades ucranianas têm alertado para o impacto de ataques como este no sistema de fornecimento de electricidade para a população civil.

Em simultâneo com os ataques aéreos, a Rússia tem alcançado alguns progressos no Leste da Ucrânia. Esta sexta-feira, as forças militares ucranianas anunciaram a retirada das áreas em torno das aldeias de Uspenivka e Trudove, na província de Donetsk, para evitarem ser cercadas pelas tropas russas. As forças ucranianas estão a tentar resistir aos avanços russos ao longo da linha da frente no Donbass.

As unidades militares que se retiraram vão prosseguir as operações na área de Kurakhove-Konstantinopolske. As forças russas têm tentado progredir o máximo possível nas últimas semanas, a tempo de alcançar a melhor posição no terreno, na expectativa de negociações para pôr fim ao conflito.

Notícia actualizada: inclui a declaração do Presidente da República e informações acerca do ataque.