Liderança de Trudeau por um fio após demissão da ministra das Finanças do Canadá

Chrystia Freeland abandonou cargo por divergências com o primeiro-ministro canadiano sobre a ameaça de imposição de taxas de Trump. Sem maioria parlamentar, Trudeau está cada vez mais fragilizado.

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Justin Trudeau a discursar na festa de Natal do Partido Liberal, um dia depois da demissão de Chrystia Freeland Carlos Osorio / REUTERS
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Justin Trudeau, outrora o símbolo de um Canadá mais optimista e, aparentemente, incólume a crises políticas, encontra-se agora encurralado, com a sua liderança a perder apoio e a ser ensombrada por um futuro de incertezas. Chrystia Freeland, a ministra das Finanças que, desde 2020, era sua aliada, anunciou a demissão na segunda-feira.

As razões foram cuidadosamente enquadradas – os dois estavam “em desacordo sobre o melhor caminho a seguir para o Canadá”. Mas o verdadeiro motivo da ruptura foi conhecido pela carta de renúncia de Freeland: havia desentendimentos sobre como responder ao Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, em relação à sua proposta para impor taxas alfandegárias de 25% ao vizinho norte-americano.

Aos meses de aumento do custo de vida e da inflação e a um mercado imobiliário em crise junta-se esta ameaça à exportação de produtos canadianos. É um risco, não só para a economia do país, mas também para a continuidade de Trudeau no poder.

Segundo a agência Reuters, um aliado próximo do Partido Liberal (LPC, centro-esquerda), liderado por Trudeau, admitiu que os membros do partido que estão descontentes com a saída de Freeland têm sido muito críticos da governação do primeiro-ministro. O líder do LPC reuniu-se com a sua bancada parlamentar, que já está desagradada com o fraco desempenho do LPC nas últimas sondagens.

Trudeau disse que “tinha ouvido claramente e com atenção as preocupações do partido e que iria reflectir sobre o assunto”, assegurou o novo ministro das Finanças, Dominic LeBlanc, à CBC, nomeado no final de segunda-feira. Na quinta-feira, LeBlanc garantiu, ainda assim, que Trudeau tem o apoio total dos membros do seu Governo.

Num evento de Natal do LPC, na terça-feira, o primeiro-ministro canadiano declarou: “Somos de facto uma grande família. Agora, como a maioria das famílias, por vezes temos desentendimentos (...), mas é claro que (...) encontramos a nossa forma de os ultrapassar.”

Em Setembro, depois de perder o apoio do Novo Partido Democrático (NDP, esquerda) pelo incumprimento de promessas sobre políticas sociais e investimento público, o LPC ficou em minoria na Câmara dos Comuns do Parlamento. No início de Outubro, Trudeau sobreviveu a uma segunda moção de desconfiança avançada pela principal frente da oposição – o Partido Conservador (CPC, centro-direita) – e manteve-se em funções.

Segundo os órgãos de comunicação social canadianos, Justin Trudeau, que exerce o papel de primeiro-ministro desde 2015, está agora a ponderar as opções que tem, após um período conturbado da sua liderança.

Os politólogos admitem que Trudeau pode demitir-se e deixar que o partido escolha um líder interino até novas eleições; há também a eventualidade de a oposição apresentar mais uma moção de desconfiança ao LPC que desencadearia eleições antecipadas, se fosse aprovada; o primeiro-ministro pode ainda permanecer no poder, se sobreviver às próximas votações parlamentares.

Ainda não é claro quem é o candidato mais provável para ser líder interino, num cenário de demissão, mas a Associated Press aponta duas possibilidades: Mark Carney, antigo director do Banco do Canadá e do Banco de Inglaterra; e Dominic LeBlanc, amigo de Trudeau. O novo ministro das Finanças esteve com o primeiro-ministro num jantar com Donald Trump, em Mar-a-Lago.

As próximas eleições federais estão previstas para Outubro do próximo ano, mas, face ao clima de instabilidade política, as probabilidades de uma votação antecipada aumentam.

Texto editado por António Saraiva Lima

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