Assassinado em Moscovo general russo acusado de usar armas químicas na Ucrânia
Fonte ucraniana diz que foram os serviços secretos da Ucrânia os responsáveis pelo ataque. Diário Kommersant fala de “um crime sem precedentes”.
O general que chefiava a Unidade de Defesa de Armas Químicas e Biológicas do Exército russo, Igor Kirillov, foi morto na madrugada desta terça-feira em Moscovo – o mais alto responsável militar a ser morto em Moscovo desde o início da invasão russa em grande escala da Ucrânia.
“Um crime sem precedentes cometido em Moscovo”, titulava o diário Kommersant, citado pela AFP. Outros generais russos morreram durante a guerra, mas em território ucraniano ocupado ou perto, e não dentro da Rússia.
Kirillov morreu, assim como o seu assistente, na explosão de um engenho posto numa trotineta, perto da entrada de um apartamento de uma zona residencial, segundo a unidade russa responsável pela investigação de crimes graves, citada pela agência Reuters.
Passadas poucas horas, a morte passou a ser considerada um “acto terrorista”, anunciou a porta-voz do organismo, Svetlana Petrenko, citada pela BBC. “O incidente foi classificado como uma acção terrorista, assassínio, tráfico ilegal de armas e munições.”
O general era acusado pela Ucrânia pelo uso de armas químicas – na segunda-feira, foi feita uma acusação formal por procuradores ucranianos, segundo o Kiev Post. Os serviços de informação e segurança da Ucrânia (SBU) dizem que a Rússia utilizou armas químicas mais de 4800 vezes sob a liderança de Kirillov.
Os Estados Unidos acusaram, em Maio, a Rússia de violar as leis internacionais e de usar armas químicas proibidas, incluindo o agente asfixiante cloropicrina, na Ucrânia.
Em Outubro, o Reino Unido impôs sanções contra o responsável por relatos da utilização de um agente tóxico na Ucrânia.
O diário Financial Times cita um alto responsável ucraniano dizendo que os SBU foram responsáveis pela acção. “Kirillov era um criminoso de guerra e um alvo completamente legítimo.” O jornal teve acesso a uma gravação do momento da explosão, uma detonação à distância. Outras imagens mostravam o local da explosão, com tijolos arrancados da fachada, uma porta de prédio destruída e janelas partidas.
Kirillov, que estava no cargo desde 2017, acusou repetidas vezes a Ucrânia nos media russos de não respeitar os protocolos de segurança nuclear. Entre as alegações feitas por Kirillov, lembra Max Seddon, do Financial Times, na rede social X (antigo Twitter), estava ainda que os Estados Unidos tinham fornecido à Ucrânia drones especiais com mosquitos que iriam espalhar malária entre as forças russas na Ucrânia.
O vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitri Medvedev, reagiu prometendo vingança sobre a liderança da Ucrânia. “Apercebendo-se da inevitabilidade da sua derrota militar, lançou ataques cobardes e desprezíveis em cidades pacíficas”, disse, citado pela agência russa RIA.
Pessoas a viver no local descreveram à BBC o seu choque pelo que aconteceu. Para quem vive em Moscovo, diz a emissora britânica, a guerra na Ucrânia é algo longínquo – mas a morte de um general russo na capital do país “mostra que a guerra é muito real e muito perto”.