Educação em Moçambique, um caminho que leva onde?

A educação em Moçambique promete futuro, mas a realidade é diferente: diplomas não garantem empregos. Será que o sistema actual está realmente a preparar os jovens para as necessidades do país?

Foto
Megafone P3 Paulo Pimenta
Ouça este artigo
00:00
03:56

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Em Moçambique, a educação é muitas vezes vista como a chave para abrir as portas de um futuro melhor. Contudo, a realidade que se desenha é que essas portas, quando abertas, revelam-se estreitas e, não raro caso, bastante precárias. O sistema educacional do país, com claras influências do modelo português, parece ter sido montado para formar mentes que aspiram a licenciaturas — numa terra onde a promessa de um emprego digno, mesmo para os que se formam, se torna frequentemente uma miragem inalcançável. Surge então a pergunta: será este o modelo mais adequado para um país com desigualdades tão profundas?

A pobreza em Moçambique é evidente e não é segredo para ninguém. A maioria da população vive no limiar da subsistência, sem acesso a bens e serviços essenciais, enquanto uma pequena minoria usufrui de luxo e conforto. Entre estes dois mundos, existe um abismo. Não há uma classe média suficientemente significativa para impulsionar a economia e oferecer um futuro mais estável.

Mas em que consiste, afinal, esse sucesso? Que expectativas podemos ter, quando mesmo com uma licenciatura, muitos jovens se vêem obrigados a aceitar salários de cerca de 20.000 Meticais (300 euros), um valor que mal lhes garante a subsistência? Muitos graduados acabam em empregos onde auferem vencimentos insuficientes, enquanto outros, com menos qualificações formais, mas uma narrativa convincente — como um estudo no estrangeiro, seja ela verdadeira ou apenas uma boa narrativa - acabam por ser mais valorizados, recebendo salários até 10 vezes superiores aos de um moçambicano que concluiu os estudos no próprio país. Esta disparidade gera uma ferida aberta, um sentimento de frustração que cresce a cada dia e que parece sem solução.

A educação, em vez de ser uma escada para a ascensão social, parece ter-se tornado numa promessa vazia. Prepara os jovens para empregos que não existem, para um mercado que não tem como absorver todos aqueles que investem anos em formação. Falha em prepará-los para a verdadeira realidade de um país onde o empreendedorismo é, mais do que uma opção, uma necessidade.

E é aqui que se revela a falha estrutural. Precisamos de uma mudança radical na educação em Moçambique. Em vez de formarmos jovens apenas para seguirem carreiras formais, devemos incentivá-los a serem criadores, a protagonizarem as suas próprias histórias. Precisamos de um modelo educativo que esteja adaptado às necessidades do país e às suas realidades. Um sistema que fomente, desde cedo, o espírito empreendedor — que ensine sobre finanças, sobre gestão de negócios, que prepare os jovens para serem empregadores e não apenas empregados.

Nem todos serão empreendedores de sucesso, é verdade. Mas ao menos daremos a cada jovem uma verdadeira oportunidade de lutar, de criar algo que lhes pertença, de se libertarem da dependência de um sistema que não os valoriza. Se começarmos agora, talvez daqui a vinte anos tenhamos uma geração de moçambicanos que se destaquem não por terem ido para o estrangeiro, mas porque conseguiram construir algo significativo aqui, no seu próprio país.

Além disto, é fundamental investir em cursos técnicos de excelência e em escolas de ofícios que ofereçam alternativas reais ao ensino superior tradicional. Não podemos continuar a forçar um único caminho que conduz ao desencanto de muitos jovens. Precisamos de múltiplas vias, cada uma adaptada ao talento e às aspirações dos jovens, mas também às necessidades reais do país.

Porém, para que tudo isto se torne realidade, não basta contar com reformas educativas e iniciativas de empreendedorismo. Precisamos, sobretudo, de vontade política. É essencial que o governo assuma um compromisso legislando para que os profissionais sejam devidamente remunerados e para que se combata a desigualdade que perpetua um ciclo de desânimo e injustiça social.

Esta é a visão que Moçambique precisa para a educação: uma educação que seja um trampolim para que cada jovem possa construir o seu próprio futuro. É urgente abandonarmos o modelo obsoleto que nos foi imposto e criarmos um sistema que sirva os nossos jovens, que lhes ofereça as ferramentas necessárias para serem protagonistas do seu destino.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários