Doutora, estou sempre a deixar cair coisas das mãos…
Sente falta de força, dor no cotovelo e incapacidade para usar a mão durante muito tempo? Poderá ter a chamada síndrome do lacertus fibrosus. Saiba o que é.
A queixa mais frequente é ter dor no cotovelo e ao longo do antebraço, durante o dia. Ao mesmo tempo, sente-se falta de força, assim como uma incapacidade para usar a mão muito tempo seguido, uma vez que quanto mais se insiste, menor é a força e maior o cansaço. Se já lhe aconteceu, saiba que se trata de “síndrome do lacertus fibrosus”.
O nervo mediano atravessa todo o braço e é muito sensível. Habitualmente, quando pensamos em problemas que o envolvem, associamos imediatamente na “síndrome do túnel cárpico”, localizado na região do punho. Mas a verdade é que o mediano é um nervo longo — e não é só o punho que pode ser afetado.
Esta já referida “síndrome do lacertus fibrosus” é igualmente causada pela compressão do nervo mediano, mas ao nível do cotovelo, ao passar por baixo do “lacertus fibrosus”. Esta estrutura tem uma forma em triângulo encurvado, como uma cauda de lagarto, e daí o nome.
Afeta maioritariamente uma população jovem, na casa dos 40 anos. É um pouco mais frequente em mulheres, sobretudo entre as que trabalham muitas horas ao computador, com os cotovelos fletidos e as palmas para baixo.
Em cerca de um quarto dos casos, há uma compressão do nervo mediano em simultâneo sob o “lacertus fibrosus”, no cotovelo, e no túnel cárpico, no punho. Nestes casos, provoca também dormência da mão e dor noturna.
O diagnóstico é exclusivamente clínico. Uma vez que a compressão é dinâmica, os exames são negativos. Por isso, os critérios de diagnóstico são as próprias queixas do doente: dor ao pressionar o “lacertus”, falta de força nos músculos da mão que dependem desse setor do nervo mediano e testes provocatórios positivos.
Relativamente ao tratamento, nos casos em que nem todas estas queixas estão presentes, optamos frequentemente pela fisioterapia ou por uma infiltração. Só nos casos em que esta abordagem falha, ou naqueles em que todos os critérios de diagnóstico estão presentes desde o início, é que se opta pela cirurgia. Nos doentes que têm “síndrome do lacertus fibrosus” e “síndrome do túnel cárpico”, simultaneamente, ambos os problemas devem ser operados.
A dúvida mais comum entre os doentes é se “a cirurgia é muito complicada?”. Geralmente, não. Pode ser feita sob anestesia local e é minimamente invasiva, sendo, em certos casos, guiada por ecografia. Finda a cirurgia, a recuperação da força é imediata.
Surge, então, outra dúvida frequente: Como é a recuperação?” No pós-operatório, pode logo usar a mão, mas não deve pegar em pesos durante cerca de três semanas. A dor e o cansaço desaparecem primeiro. Já a força, embora a recupere parcialmente logo na cirurgia, demora entre um a dois meses a voltar completamente ao normal. Ou seja, embora volte à atividade em menos de um mês, só vai sentir-se completamente recuperado um pouco mais tarde.
Um bom exemplo é o caso da Susana, 39 anos, que trabalha o dia todo à frente do computador. Dois meses antes de chegar à consulta, começou a sentir dor no antebraço direito e falta de força, que piorava ao longo do dia de trabalho. Deixava cair objetos com muita frequência, especialmente ao fim do dia. Na consulta, foi observada e tinha a história clínica característica da “síndrome do lacertus fibrosus”, o que confirmou o diagnóstico.
Primeiro, tentámos tratá-la com medidas não cirúrgicas. Um mês depois, Susana voltou à consulta melhorada, mas não completamente, apenas com uma versão menos intensa das queixas. Decidimos, então, operar. Após a cirurgia, ao fim de uma semana, Susana regressou ao trabalho, ainda com algumas limitações. Apenas um mês depois, estava de volta à sua atividade em pleno e sem queixas. Por isso, se tiver sintomas como os já descritos, deve consultar o seu médico.
A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990