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Existe poesia “nas ruas, nos becos, nos pátios” de Macau
Ao longo de cinco anos, o fotojornalista Gonçalo Lobo Pinheiro procurou, num jogo de luz e sombra, “agarrar” a alma de Macau. O passado português e o presente chinês fundem-se em Poética Urbana.
Existe uma Macau antiga onde ainda é possível sentir um “pulsar especial”. Foi esse batimento que o fotojornalista Gonçalo Lobo Pinheiro tentou fixar nas cem fotografias que compõem o seu novo livro Poética Urbana, que reúne cinco anos de trabalho nas paisagens urbanas macaenses. “Estes últimos cinco anos [2020-24] foram intensos e transformadores para a região”, contou ao P3 o fotógrafo português radicado em Macau há 14 anos. “Sobretudo devido à pandemia, que isolou Macau durante três anos.”
As fotografias de rua que realizou sobretudo nos bairros antigos do território espelham essas transformações. “As mudanças são visíveis no ritmo da cidade, nas dinâmicas entre turistas e residentes, mas existem também numa camada mais interna das pessoas.” Nos rostos de quem vive em Macau, refere Lobo Pinheiro, há sinais de introspecção, “de uma tentativa de encontrar significado em tempos de incerteza”.
Para o fotógrafo, que é colaborador da agência Lusa, existe poesia nas ruas, nos becos, nos pátios de Macau — é nesses lugares que, num jogo recorrente de luz e sombra, procura “a alma da cidade”. “Ao serem vistos por outro ângulo, os momentos aparentemente banais [que captei] podem revelar a poesia de que tanto gosto; esses momentos reflectem humanidade e suscitam reflexão.” O fotógrafo gostaria de que o leitor sentisse, diante das suas imagens, “conexão e nostalgia” — a calçada portuguesa que se vê em algumas delas poderá surtir esse efeito.
O livro Poética Urbana, que tem prefácio da fotojornalista norte-americana Andrea Star Reese, será apresentado a 7 de Dezembro, na Livraria Portuguesa, em Macau, o local onde, em simultâneo, será também inaugurada a exposição com 20 fotografias do mesmo trabalho; em Portugal, a mesma apresentação está agendada para Fevereiro de 2025 e terá lugar na Galeria Malangatana, em Alfama, o bairro de onde é natural Gonçalo Lobo Pinheiro.
“Este projecto foi mais uma jornada pessoal para mim”, conclui. “Tentei traduzir em linguagem visual aquilo que não se consegue dizer em palavras – e essa é, para mim, a essência da ‘poética urbana’.”