As multidões estão de volta e a comprar na Art Basel Miami
A maior parte das obras em exposição feira deste ano são estudadamente apolíticas. A recuperação do entusiasmo foi palpável e galerias revelam vendas de valores significativos.
Vinte minutos após a abertura das portas aos VIP para o primeiro dia da Art Basel Miami Beach, na quarta-feira de manhã, a coleccionadora Komal Shah já tinha comprado um quadro de Vivien Zhang. De pé com a negociante de Zhang, Pilar Corrias, Shah disse que esta seria apenas a sua primeira compra do dia. Outras galerias enviaram-lhe antevisões do que tinham à venda. "Já tenho algumas coisas a que estou muito apegada", disse.
Enquanto hordas de coleccionadores passavam pela segurança e entravam nos corredores da feira ao longo do dia, um sentimento de vontade de compra semelhante, não visto no mercado de arte há quase dois anos, parecia estar de volta. "As pessoas mantiveram-se ao largo durante 18 meses", disse a consultora Candace Worth. "Viram a sua carteira de acções subir, têm algum dinheiro. Estão prontas para comprar." (Os dias abertos ao públicos terminam este domingo).
A recuperação do mercado era inevitável, dizem os participantes, porque para um certo segmento dos muito ricos, comprar arte não é apenas adquirir objectos para colocar na parede — é também um estilo de vida, algo difícil de abandonar. "Posto de forma simplista, o mundo da arte e o mercado da arte são tão comerciais como sociais e intelectuais", disse o director executivo da Art Basel, Noah Horowitz, no dia da inauguração. Alguns minutos mais tarde, Sarah Arison, presidente do conselho de administração do Museu de Arte Moderna (MoMA), parecia fazer eco dessa opinião. "Não adoro feiras, mas o que adoro nas feiras é o facto de podermos ver toda a gente e contactar com toda a gente de todo o mundo", disse, acrescentando que o meio da arte nas cidades tende a estar no seu melhor sempre que há uma feira.
"Sim, pode haver uma feira, mas também se vai ver o melhor trabalho das galerias, das instituições culturais." Não por acaso, todo o ecossistema do mundo da arte também depende muito destes encontros. "As pessoas adoram fazer isto", disse o marchand David Hoyland, da galeria londrina Seventeen, em frente ao seu stand na feira de arte contemporânea NADA, que abriu para os VIP na terça-feira e decorre até 7 de Dezembro. "O desejo de se divertirem, de se envolverem em algo cultural e de serem significativos enquanto coleccionadores sobrepõe-se ao medo do que está a acontecer no mundo."
Muita abstracção
Não é por acaso que a maior parte das obras em exposição na Art Basel deste ano são estudadamente apolíticas — um mar de belas pinturas abstractas que se estende pelas 286 galerias da feira. "É claro que as pessoas vão jogar um pouco pelo seguro", disse Worth, o conselheiro. "Pagam muito dinheiro por estes stands, têm muito pessoal e estão aqui para vender arte. Por isso, não é nenhum mistério [por que é que não arriscam em obras mais incisivas]."
De uma forma mais geral, a arte na feira destacou-se pela sua variedade temática, cultural e estética. Os coleccionadores regressaram definitivamente, mas não com um foco em particular. "De vários em vários anos, há um grupo de artistas que parece ser o mais interessante e com o qual o mercado de arte está mais entusiasmado", disse Matthew Newton, especialista em consultoria de arte do UBS Group AG. "De um modo geral, não creio que exista uma narrativa muito clara sobre a arte que as pessoas devem comprar [agora]."
No entanto, registaram-se muitas vendas sólidas. Várias das mega-galerias tornaram públicas transacções de vários milhões de dólares, incluindo 4,65 milhões de euros pagos por uma obra de David Hammons na Hauser & Wirth, 3,4 milhões de euros por uma pintura de Yayoi Kusama na David Zwirner e 2,5 milhões de euros por uma peça de Georg Baselitz na Thaddaeus Ropac. A Lisson Gallery informou ter vendido pelo menos 15 peças, incluindo uma pintura de Lee Ufan no valor de 870 mil euros; a Lehmann Maupin disse ter vendido oito obras, entre as quais uma pintura de Calida Rawles, que actualmente tem uma exposição individual no Pérez Art Museum Miami.
Apesar de este resultado ser claramente melhor do que o da edição do ano passado, em que as vendas — quando aconteciam — se processavam lentamente ao longo da feira, ainda assim não foi uma feira tão febril quanto as de há alguns anos, quando parecia haver quatro compradores para cada quadro e as pessoas se apressavam a adquirir nos primeiros minutos da feira.
Este ano, vários comerciantes não quiseram deixar-se entusiasmar antes do tempo. "Enquanto as pessoas não pagarem, não se chama venda", disse a revendedora Pearl Lam a meio do primeiro dia, desvalorizando alguns dos relatórios de vendas jubilosos que os seus colegas iriam enviar em breve. "Muitas pessoas dizem que estão interessadas", continuou, "mas dinheiro que entra na nossa conta? Isso é uma venda. E até agora, ainda não recebi dinheiro na minha conta".
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post/Bloomberg