Partido de centro-esquerda que governa na Roménia à frente nas sondagens
Apesar de não ganharem estas eleições, partidos de extrema-direita conquistam lugares importantes no Parlamento de Bucareste.
Os sociais-democratas (PSD), partido de centro-esquerda no poder na Roménia, deverão, segundo indicam as sondagens à boca das urnas, ganhar o maior número de votos nas eleições parlamentares de domingo, deixando em segundo lugar a Aliança para a União dos Romenos (AUR), partido de extrema-direita. De acordo com os dados conhecidos, o parlamento romeno deverá ficar fragmentado e há um crescimento assinalável das forças de extrema-direita no país.
Segundo o jornal The Guardian, as sondagens à boca das urnas, no domingo, mostraram que o PSD obteve 26% dos votos, à frente da Aliança para a União dos Romenos (AUR), de extrema-direita, com 19%. O PSD tinha 32,5% dos lugares no último parlamento, enquanto a AUR, tinha 8,5%. O terceiro partido mais votado deve ser o Partido Nacional Liberal (PNL), que governa em coligação com os sociais-democratas, com uma percentagem de 14,6% a 15,5%.
À hora de fecho desta edição, e com 50% dos votos contados, os resultados estão muito próximos do que se previa nas principais sondagens. As sondagens não incluem o voto estimado da diáspora, que poderá alterar significativamente o resultado final.
De acordo com a Deutsche Welle, os partidos de extrema-direita devem, ainda assim, obter ganhos consideráveis nestas eleições. O seu resultado combinado deve chegar aos 30%, o que indica um parlamento fragmentado. Além do segundo lugar do AUR, as sondagens apontam para a entrada no Parlamento de dois partidos da mesma tendência política, o S.O.S Roménia e o Partido dos Jovens. "É o início de uma nova era em que os romenos reivindicam o direito de decidirem o seu próprio destino", afirmou o líder do AUR, George Simion.
O primeiro-ministro social-democrata, Marcel Ciolacu, ficou em terceiro lugar na primeira volta do escrutínio presidencial, e consequentemente arredado da segunda volta, após uma campanha dominada pelas preocupações dos eleitores com o custo de vida e pela decepção face às lutas internas dos principais partidos e às alegações de corrupção.
Comentando as sondagens à boca das urnas, Ciolacu disse que os eleitores tinham confirmado que queriam que o investimento continuasse. “Compreendi a responsabilidade que temos. Todos temos de olhar para o resultado de hoje. É um sinal importante que os romenos enviaram à classe política”, disse Ciolacu citado pelo jornal El País. “Vamos continuar a desenvolver o país com dinheiro europeu, mas, ao mesmo tempo, vamos proteger a identidade, os valores nacionais e a fé”, acrescentou.
Se as sondagens forem confirmadas pelos resultados oficiais, uma coligação pró-ocidental liderada pelo PSD terá provavelmente lugares suficientes no parlamento para formar governo.
"É verdade que a coligação pró-UE, pró-NATO e pró-Ucrânia mantém capacidade de formar governo e por isso confirma-se a integração euro-atlântica do país; mas também é verdade que a extrema-direita cresce de forma substancial, passando a ter três partidos com representação parlamentar e com o AUR a duplicar a votação e talvez o número de deputados eleitos", explica ao PÚBLICO Tiago André Lopes, professor de Relações Internacionais na Universidade Lusíada do Porto. "A Roménia, como a Bulgária e a Moldova, segue o caminho da fragmentação política", acrescenta ainda.
Sismo político na Roménia
A eleição deste domingo acontece uma semana depois de Călin Georgescu, um independente de extrema-direita, próximo de Moscovo e assumidamente anti-NATO, que até então tinha apenas 5% das sondagens, ter ficado em primeiro lugar na primeira volta das presidenciais, um resultado que abalou a política romena. Até porque os dois principais partidos – o Partido Social Democrata (PSD), de centro-esquerda, e o Partido Nacional Liberal (PNL), conservador – ficaram sem hipóteses de concorrer à segunda volta das presidenciais.
Entretanto, o Tribunal Constitucional tomou uma decisão sem precedentes, exigindo que todos os votos fossem recontados, dando, deste modo, razão a uma queixa de um candidato que alegou irregularidades na votação obtida por Elena Lasconi, que acabou por ficar em segundo lugar.
Na sexta-feira, o mesmo tribunal decidiu adiar a confirmação oficial dos resultados para a próxima segunda-feira, aumentando ainda mais a incerteza no panorama político. A segunda volta das eleições estava agendada para o próximo domingo, 8 de Dezembro. A formação do governo dependerá de quem ganhar as eleições presidenciais, uma vez que o Presidente nomeia o primeiro-ministro.
Se os resultados finais confirmarem as indicações deixadas pelas sondagens deste domingo, "Bruxelas vai tentar ver nisto um resultado de continuidade", explica Tiago André Lopes, que sublinha, no entanto, tratar-se de "um resultado de ruptura". "A extrema-direita faz duas eleições com bons resultados e a poder mesmo ganhar a presidência do país", justifica, deixando um aviso: "2025 vai ser, com quase toda a certeza, turbulento no Leste da Europa".