Nuno Vassallo e Silva entra em Janeiro num CCB em que se instalou a contestação

Carta aberta ao primeiro-ministro pede explicações sobre o afastamento de Francisca Carneiro Fernandes. Vassallo e Silva encara “com grande entusiasmo” o convite para trabalhar com as equipas do CCB.

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Nuno Vassallo e Silva em 2015, quando era director-geral do Património Cultural Daniel Rocha
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O historiador de arte Nuno Vassallo e Silva, nomeado pela ministra da Cultura para presidente da Fundação Centro Cultural de Belém (CCB), após o afastamento de Francisca Carneiro Fernandes, vai começar o seu mandato no início de Janeiro, revelou o próprio ao PÚBLICO.

Vassallo e Silva, até agora director da delegação francesa da Fundação Calouste Gulbenkian, sediada em Paris, disse ainda, numa curta declaração, que encara “com grande entusiasmo [o convite] para vir a trabalhar numa instituição como o CCB e com as suas equipas”.

Sobre o novo rumo que a ministra lhe terá pedido para a instituição, com base no comunicado que anunciou a sua nomeação, Nuno Vassalo e Silva, que aterrou na sexta-feira em Lisboa vindo de Paris, nada adiantou. “Nesta fase só posso expressar o meu reconhecimento pela confiança depositada pela ministra da Cultura.”

Entretanto, este sábado foi lançada uma petição, sob a forma de uma carta aberta dirigida ao primeiro-ministro, contra a exoneração de Francisca Carneiro Fernandes, e subscrita por vários funcionários do CCB, entre os quais a directora do Museu de Arte Contemporânea do Centro Cultural de Belém, a espanhola Nuria Enguita, e a directora para as artes performativas e o pensamento, Aida Tavares. Formula várias perguntas, a primeira das quais pede uma avaliação do ano de mandato de Carneiro Fernandes e a explicitação das razões do seu afastamento. Mais à frente, quanto ao novo presidente indigitado, os signatários perguntam “como foi feita a avaliação das suas competências técnicas e percurso profissional para o exercício das novas funções, tendo em consideração a missão, visão e valores do Centro Cultural de Belém”.

A nomeação de Vassallo e Silva, segundo o comunicado enviado na tarde de sexta-feira às redacções pelo Ministério da Cultura, "justifica-se pela necessidade de imprimir nova orientação à gestão da Fundação Centro Cultural de Belém, para garantir que assegura um serviço de âmbito nacional, participando num novo ciclo da vida cultural portuguesa".

Francisca Carneiro Fernandes fora nomeada a 1 de Dezembro de 2023, pelo ministro da Cultura do Governo anterior, Pedro Adão e Silva. A sucessora deste, Dalila Rodrigues, substituiu a presidente da fundação no último dia útil do prazo legal para a afastar sem necessidade de fundamentar a decisão ou pagar uma indemnização.

Os restantes dois administradores do CCB, Delfim Sardo e Madalena Reis, vão continuar em funções.

Na sequência do afastamento de Francisca Carneiro Fernandes, a comissão de trabalhadores da fundação fez saber, numa carta enviada às redacções logo na sexta-feira, que "lamenta profundamente a notícia da exoneração", elogiando na agora ex-presidente do CCB a "abertura de diálogo e vontade imediata de resolver falhas sistémicas várias vezes reportadas à anterior administração", nomeadamente na área das artes performativas.

Já a petição, que a meio desta tarde somava mais de 420 signatários, cujos nomes não são visíveis, termina exigindo "uma clarificação da situação criada" por Dalila Rodrigues, "que não prestou qualquer declaração sobre este assunto", sendo "claramente insuficiente o argumento do 'novo rumo'". Pelo meio, pergunta-se por que razão a exoneração ocorreu antes da "apresentação à tutela dos objectivos estratégicos 2025/2027 solicitados pela ministra".

Com uma longa experiência de gestor cultural, Nuno Vassallo e Silva, doutorado em História da Arte pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, foi director-adjunto do Museu Calouste Gulbenkian (1999-2013 e 2016-2021) e do Museu de São Roque, tendo igualmente exercido entre 2014 e 2015 as funções de director-geral do Património Cultural. Foi secretário de Estado da Cultura do breve segundo Governo liderado por Passos Coelho, em 2015. Regressaria à Gulbenkian em 2021 para partir para Paris, onde chefiou a delegação francesa da fundação, que no próximo ano cumprirá 60 anos, e cuja actividade abrange também a Alemanha, a Bélgica, a Suíça e o Luxemburgo, tendo chegado em 2023 a quase 200 mil pessoas.

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