Líder da Renamo aceita diálogo proposto pelo Presidente moçambicano

Ossufo Momade anunciou a sua resposta depois da reunião da comissão política do partido no domingo à noite. Mas disse que só participa se estiverem presentes os quatro candidatos presidenciais.

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O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, e o líder da Renamo, Ossufo Momade LUÍSA NHANTUMBO / LUSA
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O candidato presidencial Ossufo Momade, líder da Renamo, que tem sido até agora o maior partido da oposição em Moçambique, anunciou no domingo à noite que aceitou o convite do Presidente cessante de Moçambique, Filipe Nyusi, para uma reunião sobre a crise pós-eleitoral no país.

A decisão foi tornada pública pelo porta-voz da Renamo, Marcial Macome, após reunião da comissão política do partido, realizada no domingo em Maputo, mas com a exigência de a reunião com o chefe de Estado, prevista para terça-feira, contar com todos os candidatos. “Este encontro só faz sentido na presença de todos os candidatos”, disse Marcial Macome, embora tenha admitido que, por questões de segurança, algum dos candidatos possa participar de forma remota.

De acordo com o porta-voz da Renamo, o maior partido da oposição leva à reunião, entre os “principais pontos”, a “anulação” do processo eleitoral envolvendo as eleições gerais de 9 de Outubro, com alegações de várias irregularidades, e que “todos os candidatos reconheçam que este processo não foi livre, nem justo, muito menos transparente”.

O candidato Lutero Simango, que é também líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), que já pediu a anulação das eleições gerais e a repetição da votação, com os mesmos argumentos, já confirmou que aceita participar no encontro, desde que estejam todos os quatro.

Até ao momento não é conhecida uma posição do candidato Daniel Chapo, apoiado pela Frelimo, partido no poder), sobre a participação na reunião. Chapo ganhou as eleições com mais de 70% dos votos, de acordo com os dados oficiais divulgados pela Comissão Nacional de Eleições e que são fortemente contestados por toda a oposição e originaram protestos que se prolongam há um mês.

Na sexta-feira, o candidato presidencial Venâncio Mondlane exigiu a eliminação imediata dos processos judiciais de que é alvo, movidos pelo Ministério Público moçambicano, e a sua participação por meios virtuais como condição para participar no encontro com Nyusi.

No documento submetido à Presidência da República e à Procuradoria-Geral da República (PGR), contendo termos de referência e propostas de agenda, Mondlane condicionou a reunião agendada para terça-feira, entre o chefe de Estado e os quatro candidatos presidenciais, à "libertação de todos os detidos no âmbito das manifestações" por si convocadas, pedindo "garantias de segurança política e jurídica para actores e intervenientes no diálogo".

"É imprescindível a reposição imediata dos direitos fundamentais e liberdades ora limitadas em face de ilegais, parciais e imorais processos judiciais movidos pela PGR (...). Tal culminou com bloqueio de suas contas bancárias, ordens de prisão decretadas, pressupondo mandados de busca e captura", lê-se no documento, que contêm mais de 20 exigências.

O chefe de Estado moçambicano convidou os candidatos às presidenciais de Outubro para uma reunião a 26 de Novembro para “discutir a situação do país no período pós-eleitoral”, confirmaram à Lusa fontes das candidaturas. A reunião terá lugar no gabinete de Nyusi, em Maputo, na terça-feira, às 16h (14h em Portugal continental), de acordo com as mesmas fontes.

Mondlane, que não aceita os resultados anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), que ainda têm de ser validados pelo Conselho Constitucional, apontando várias irregularidades ao processo eleitoral, rejeita um diálogo “à porta fechada” e com “segredinhos”.

“Prometo que, até ao último dia do meu mandato, irei usar toda a minha energia para pacificar Moçambique (...). Mas, para que eu tenha sucesso nesta missão, precisamos de todos nós e de cada um de vocês (…). Os moçambicanos têm de estar juntos para resolvermos os problemas”, disse Nyusi, cujo último mandato termina em Janeiro, numa mensagem à nação, na passada terça-feira.

Apelando à “libertação do egoísmo” no processo pós-eleitoral, o chefe de Estado garantiu que o Governo está aberto a encontrar “uma solução” para o actual momento, marcado por paralisações e manifestações convocadas por Venâncio Mondlane.