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Obter a cidadania italiana ficará mais caro, se projeto do governo for aprovado
Orçamento de Estado de 2025 prevê taxa de 600 euros por pessoa em registros de ações na Justiça pela nacionalidade italiana. Hoje, valor é de 545 euros, mesmo se processo envolver vários interessados.
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Dados da Embaixada da Itália no Brasil apontam que 30 milhões de brasileiros têm, hoje, direito à cidadania italiana. Mas, no que depender do Governo da atual primeira-ministra, Giorgia Meloni, ter acesso a esse benefício, previsto na Lei da Nacionalidade, de 1912, ficará cada vez mais caro. Proposta do Orçamento do Estado de 2025 prevê que toda pessoa que recorrer à Justiça para requerer a cidadania terá de pagar 600 euros (R$ 3,6 mil) aos cofres públicos, isso, sem falar nas custas do processo.
Hoje, segundo a advogada Ana Carolina Nogueira, que atua em parceria com a italiana Antonella Castellone, o registro de uma ação de cidadania em um tribunal custa 545 euros (R$ 3,3 mil), independentemente do número de pessoas que façam parte do processo. “Por exemplo, se o Orçamento for aprovado pelo Parlamento italiano como está, uma ação coletiva com 10 adultos e cinco crianças custará, apenas para registro na Justiça, 9 mil euros (R$ 54 mil)”, diz. “Para muitas pessoas, ficará complicado arcar com os novos custos”, acrescenta.
A advogada afirma que esse tipo de cobrança pode ser considerado inconstitucional, pois valerá apenas para processos envolvendo pedidos de cidadania. Quer dizer: nenhuma outra ação coletiva terá de pagar por pessoa. “Há uma clara discriminação com o intuito de se reduzir os processos judiciais para nacionalidade italiana”, ressalta. Ela não descarta que outras medidas mais duras, no sentido de restringir o acesso à cidadania, sejam anunciadas. “Esse caminho está sendo seguido por vários países da Europa.”
Sem juízes
Ana Carolina chama a atenção para outro empecilho imposto aos cidadãos que sonham com a cidadania italiana. O Tribunal de Roma, que concentra centenas de milhares de processos, acabou com o sistema de juízes designados apenas para esse tema. Assim, o que já era lento vai demorar mais ainda. Mais: desde 2022, as ações só podem ser impetradas na Justiça das regiões em que estão registrados os antecessores italianos, e faltam funcionários para análise dos documentos. “Mesmo nos tribunais menores, como o de Veneza, a demanda judicial pela nacionalidade é enorme, com as decisões demorando em torno de dois anos. “Vemos isso como um absurdo, pois prejudica muita gente”, enfatiza.
Ela lembra, ainda, que o grande número de ações nos tribunais pela cidadania italiana decorre da morosidade dos consulados em atender, administrativamente, os descendentes que querem ter acesso ao benefício. “Há consulados em que a fila de espera é de 10 anos”, frisa. Mas não é só. “Quando o processo é feito administrativamente, o requerente precisa residir por até seis meses na Itália para garantir a nacionalidade. O custo é alto”, afirma.
Segundo a advogada, a Embaixada do Brasil na Itália está acompanhando todas as mudanças propostas pelo governo italiano na questão da cidadania, pois há um acordo bilateral assinado entre os dois países que limita a cobrança das custas judiciais. “Certamente, o governo brasileiro tenderá a questionar a taxa individual para registros nos tribunais de ações de cidadania”, diz. “Vamos ver o desenrolar dos fatos. De qualquer forma, todos estão correndo para dar entrada nos processos até 31 de dezembro, para pagar apenas a taxa de 545 euros a despeito de quantas pessoas estão listadas no processo”, destaca.