Lucro da Volkswagen caiu 64% no terceiro trimestre
Resultados sublinham “necessidade urgente de uma significativa redução de custos e ganhos de eficiência”, diz o grupo. Margem operacional é a mais baixa desde a pandemia. Sindicato ameaça com greves.
O resultado líquido após impostos do grupo alemão Volkswagen caiu quase 64% no terceiro trimestre de 2024, quando comparado com o mesmo período de 2023, para 1,57 mil milhões de euros, segundo as contas reveladas pela empresa que tem uma unidade fabril em Portugal, com cerca de 4900 trabalhadores.
A margem de lucro operacional, que mede o retorno das vendas depois de pagos os custos variáveis como salários e matéria-prima, caiu de 6,2% para 3,6%, o valor mais baixo desde a pandemia.
Este retorno foi ainda menor quando se olha para a marca principal do grupo, a Volkswagen, que apresenta uma margem de apenas 2%.
Estes resultados "sublinham a necessidade urgente de uma significativa redução de custos e ganhos de eficiência", afirma o responsável operacional e financeiro do grupo Volkswagen (VW), Arno Arlitz, numa declaração que acompanha a divulgação dos resultados trimestrais.
O sindicato IG Metall disse nesta quarta-feira de manhã que os trabalhadores da VW estão dispostos a entrar em greve, a não ser que o grupo abandone a ideia de fechar fábricas, uma medida que estará a ser equacionada ao abrigo de um plano de reestruturação, cujo conteúdo não é conhecido e oficialmente não foi ainda comunicado.
Sem este recuo, disse Thorsten Groeger, líder distrital daquele sindicato, "fica claro que vai ser preciso escalar a luta em cooperação com a comissão de negociação e contratação colectiva".
Segundo as comissões de trabalhadores, o grupo VW está a ponderar encerrar três fábricas na Alemanha — o que seria uma medida inédita na história do grupo —, quer cortar 10% aos salários, congelar aumentos nos próximos dois anos e reduzir a capacidade de produção nas restantes sete unidades fabris que tem no país natal. Um plano que, segundo os mesmos representantes, pode custar dezenas de milhares de postos de trabalho.
Numa conferência telefónica com representantes de investidores, realizada nesta manhã após a divulgação das contas trimestrais, Arno Arlitz recusou entrar em detalhes sobre o plano em preparação.
Mas sempre adiantou números que permitem perceber o horizonte da intervenção. Disse que o mercado europeu recuou de 16 milhões antes da covid para 14 milhões de unidades por ano e que, na perspectiva da VW, este cenário não se alterará no futuro próximo, o que deixa o grupo numa situação em que a capacidade de produção instalada na Alemanha excede as necessidades em cerca de 500 mil unidades por ano.
"A matemática é clara. Temos uma quota de mercado de 25%, desde a covid o mercado caiu dois milhões de unidades, pensamos que esta situação se irá manter nos próximos cinco ou seis anos, o que significa para nós uma quebra de 500 mil carros", explicou o mesmo responsável, acrescentando que é na marca Volkswagen que estão os principais problemas.
Depois das perguntas de investidores, seguiram-se perguntas de jornalistas. E, nessa altura, Arlitz admitiu que a VW baixará o valor dos dividendos a pagar.
Cerca de 48 horas antes da divulgação das contas, o presidente executivo da marca VW declarara que a marca não podia continuar a trabalhar como antes.
O grupo continua a registar lucros, quer numa base trimestral (mais de 1500 milhões de euros) quer no conjunto dos primeiros nove meses do ano (quase 9000 milhões de euros). Porém, esse nível de resultados é considerado insuficiente para as necessidades de financiamento que o grupo estima ter com a transição verde para a mobilidade eléctrica.
O desempenho financeiro reflecte, por outro lado, as dificuldades de mercado da generalidade das dez marcas do grupo VW, que está a perder quota num dos seus principais mercados, a China, e enfrenta a dura concorrência na Europa, onde as vendas agregadas ainda estão cerca de 20% abaixo dos níveis pré-pandemia, prejudicadas pela retracção do consumo e inflação alta.
Trabalhadores e administração da VW reúnem-se nesta quarta-feira para uma segunda ronda de negociações laborais. Em cima da mesa estarão temas delicados como o plano de reestruturação. O sindicato IG Metall propunha um aumento de 7% em 2025 para cerca de 120 mil a 140 mil trabalhadores das fábricas do grupo.