Mitchell Rudy estava a pensar em como ajudar os animais que vivem em associações quando alguém lhe perguntou: “Estarias disposto a passear 40 cães de uma só vez?”
O pedido parecia um pouco louco, mas Mitchell bateria o recorde mundial do Guinness de passear o maior número de cães ao mesmo tempo, se conseguisse fazê-lo durante um quilómetro. O recorde anterior era de 36 cães e pertencia à australiana Maria Harman, desde 2018.
“Decidimos que íamos tentar 40”, recorda Mitchell, que vive em Calgary, no Canadá. “Quão difícil poderia ser?”
No fim de contas, revelou-se muito difícil.
Decidiu tentar fazê-lo com os cães da Korean K9 Rescue, uma organização sem fins lucrativos que encontra lares nos Estados Unidos para os cães vadios e que foram alvo de maus tratos na Coreia do Sul. Muitos são resgatados de fábricas de produção de carne de cão.
No início deste ano, a Coreia do Sul aprovou uma lei que proíbe o consumo de carne de cão no país; contudo, só entra em vigor em 2027.
Em Agosto, Mitchell e alguns colegas de trabalho da Bonk, um colectivo de blockchain, viajaram até à Coreia do Sul durante uma semana para conhecerem os cães. O norte-americano exercitou-se em passeios com os animais todos os dias antes do evento que se realizou a 5 de Setembro na Universidade Jungwon, em Chungcheongbuk-do.
“Alguns treinadores de cães sul-coreanos tinham estado com os animais durante várias semanas antes de eu chegar para que eles se sentissem confortáveis a passearem juntos”, explica. Dada a vida agitada que leva, Mitchell não tem cães.
Segundo o jovem, os cães foram todos resgatados por voluntários da associação Korean K9 Rescue. Com o passeio, esperavam conseguir que alguns fossem adoptados.
No primeiro dia de treino, e apesar de inicialmente ter planeado passear alguns de cada vez, Mitchell decidiu tentar passear os 40 cães ao mesmo tempo. “Lembrem-se que nunca passeei mais de dois cães de cada vez. Aprendi rapidamente que passar de dois para 20 e para 40 era muito diferente.”
“Imaginem um monte de cães a ladrar e a puxar em todas as direcções e vão ter uma boa ideia de como era. Foi tão caótico e difícil como se pode imaginar”, admite.
Ele e os treinadores decidiram que seria melhor segurar 20 trelas em cada mão e manter os cães mais pequenos do lado de dentro [da matilha] para dar mais espaço de manobra aos cães maiores.
“Também descobrimos o comprimento adequado da trela para cada cão. O cão mais pequeno tinha cerca de 1,5kg, e a partir daí foi aumentando.” Segundo o jovem, “foi como usar a máquina de remo e puxar mais de 400kg”.
No grande dia, todos os cães, excepto dois, foram alinhados no campo de golfe da universidade e os voluntários ajudaram Mitchell a pegar nas trelas e a segurá-las com força em cada mão.
“Acabámos por ter 38 cães, porque o dia estava quente e dois deles estavam com alguns problemas. Mas ainda consegui bater o recorde mundial por ter mais dois.”
Enquanto ele e os cães atravessavam a relva nessa manhã, os amigos aplaudiam e um representante do Guinness monitorizava e registava a tentativa. “Caminhei a um ritmo bastante rápido, mas não demasiado rápido nem demasiado lento. Continuei a falar e a assegurar-lhes que eram bons cães e que conseguiam fazê-lo”, explica.
De acordo com Mitchell, os cães ladravam aos pássaros e aos aviões, mas, felizmente, nenhum quis parar para ir à casa de banho. Quando chegou à meta, 12 minutos mais tarde, acredita que se notava “que os cães estavam muito felizes e entusiasmados com o passeio”. “Eu também estava feliz e entusiasmado. Mas os meus braços pareciam estar a arder”, revela.
Em meados de Outubro, recebeu a notícia oficial do Guinness: tinha batido o recorde de passear o maior número de cães.
“Foi muito divertido, mas não o fiz sozinho. Todos os treinadores e organizadores tiveram um papel importante.” A melhor parte, no entanto, foi saber que dez dos cães tinham sido adoptados e que as pessoas estão a procurar saber dos outros.
Gina Kim-Sadiku, directora executiva da Korean K9 Rescue, afirma estar grata por Mitchell ter aceitado o desafio.
“Ele demonstrou uma ligação extraordinária com os nossos cães, guiando-os através de uma comunicação clara e de uma profunda empatia pelos seus espíritos e personalidades únicos”, acrescenta.
Mitchell, por outro lado, diz que os seus braços ficaram doridos durante dias, mas admitiu estar pronto para outro desafio. “Encontrem-me alguém que consiga pôr 40 gatos com trelas e eu tento.”
Exclusivo PÚBLICO / The Washington Post