A brincadeira é o palco onde os medos podem sair à luz do dia
Não há nada que contribua mais para a cura de seja qual for a doença do que ser acolhido e escutado com empatia pelos profissionais de saúde.
Querida Mãe,
Sabe porque é que, independentemente do contexto ou do país, conseguimos facilmente encontrar crianças a brincar aos pais e às mães ou aos médicos? É porque, para as crianças, a brincadeira é uma forma fundamental de processar, treinar e questionar acções que observa ou experimenta e que, embora lhe sejam familiares, também a assustam. E é uma maneira de se prepararem para experiências novas, sentindo na pele, mas de forma segura, que tipo de emoções podem surgir quando acontecer x ou y. A brincadeira é o palco onde os medos podem sair à luz do dia e onde vamos praticando estratégias e respostas corajosas.
Foi por isso que fiquei tão fascinada quando soube que a Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina de Lisboa vai realizar mais uma edição do Projeto Hospital dos Pequeninos, este ano com o tema “O Hospital dos Pequeninos no Fundo do Mar”, dedicado a crianças entre os 3 e os dez anos.
Que bom que é ver uma geração de futuros médicos preocupados não só com as doenças infantis, mas, também, em investir numa boa relação entre as crianças e os profissionais de saúde. Que bom que é ver este cuidado e preocupação com o lado emocional dos miúdos, criando momentos que ajudem a mitigar a ansiedade que sentem em consultas ou ambientes hospitalares.
O projeto parte de uma iniciativa da European Medical Student’s Association e vai acontecer em dois momentos; o primeiro, dedicado às escolas e exigindo obviamente marcação, nos dias 25 a 29 de novembro, no Refeitório I dos Serviços de Acção Social da Universidade de Lisboa (vulgo "Cantina Velha da UL"). O segundo é um fim-de-semana pensado para as famílias no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, nos dias 30 de novembro e 1 de dezembro. A entrada é livre e gratuita, mas não inclui o bilhete para a área das exposições, só que, mãe, aproveito para lhe dizer que fui à exposição da Pixar e que recomendo vivamente!
Bem, então a única coisa que precisamos de levar — porque obviamente vamos com o Mini E. e com a Martinha, é um boneco que tenha um dói-dói! Por isso escolha o seu!
Alinha?
Querida Ana,
Que grande ideia, mas será que em vez de um boneco não podem levar uma avó com uma enxaqueca? É que não há nada que contribua mais para a cura de seja qual for a doença do que ser acolhido e escutado com empatia pelos profissionais de saúde. Aliás acho que a Associação de Estudantes devia estender este movimento a todas as faixas etárias, não só para superarmos os nossos traumas na relação com médicos e enfermeiros menos compassivos, como também para dar uma oportunidade a todos que trabalham em Saúde de perceber como a sua atitude impacta o doente.
Porque, Ana, quando sofremos e pedimos ajuda estamos numa situação de enorme fragilidade e o poder fica totalmente do lado dos profissionais de quem dependemos. Mesmo que sejamos maltratados continuamos a sorrir e a acenar porque não podemos arriscar agir de outra forma — a faca e o queijo estão nas mãos de quem tem a possibilidade de aliviar (ou não) o nosso sofrimento e, tal como nas crianças, a nossa ansiedade perante o desconhecido. Fico, por isso, mesmo feliz que estes futuros médicos queiram mudar o mundo!
Só uma nota final: quem quiser levar os alunos, filhos ou netos ao fundo deste mar, encontra mais informações nas redes sociais do Hospital dos Pequeninos ou através do e-mail .
O Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. E, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. As autoras escrevem segundo o Acordo Ortográfico de 1990