Na LxFactory, o restaurante Barouk é “libanês autêntico” mas só “a 90%”
Em Lisboa, o Barouk tem como estrelas húmus, pitas, baba ganoush, pizzas-manakish. Mas também cocktails e gin libanês. Um oásis de paz, a lembrar melhores tempos de um território em tempos de guerra.
Ao lado, no Mex Factory, a música está ao rubro, mas é no exterior do Barouk que se gera o maior zunzum. É sexta-feira à noite na LxFactory ─ por mais estranho que pareça, ouve-se sobretudo falar português ─, mas o nosso destino é internacional. Desde o fim deste Verão, mora aqui o mais recente restaurante libanês da cidade, pelas mãos dos mesmos donos do vizinho mexicano. “Quem perceba de libanês vai perceber que somos libaneses a 90%”, declara o proprietário, Luís Roquette, à Fugas.
Depois desta frase, a premissa para o serão é tentar descobrir por que motivo não são libaneses a 100%, mas sim a 90%. “Simplesmente tentamos encontrar pratos que joguem a nível democrático”, explica. Isto é, que agradassem aos libaneses, mas não só. Sabores consensuais, tal como fazem no Mex Factory, assumidamente de inspiração tex-mex, menos fiel às tradições rígidas da gastronomia mexicana.
Mas regressemos aqui ao libanês, até “porque são negócio diferentes”, e ao motivo por que Luís Roquette apostou neste tipo de cozinha. “Estudei fora, tinha muitos amigos libaneses e sempre gostei muito da comida. Mas não faço negócios de acordo com o que gosto”, conta o empresário, que terá feito uma análise de mercado para sustentar a tese de que fazia falta um novo libanês nesta zona de Lisboa ─ na LxFactory há comida brasileira, portuguesa, japonesa, italiana e mexicana, mas não havia nada do Médio Oriente. “As pessoas gostam de libanês: existe mercado, é preciso arriscar”, insiste.
Para ser libanês “autêntico” era preciso trazer um chef libanês. Joseph Youssef criou o menu que ensinou às equipas da casa, em conjunto com a consultora de gastronomia The Good Collective. “Eles trouxeram o lado sexy e cool para este conceito vencedor”, declara Roquette. Mais do que vencedor no conceito, é preciso ser na comida e, para isso, a base libanesa tinha de ser sólida. Como tal, nas entradas não falta o clássico húmus, que “não tem nada a ver com húmus de supermercado”, mas é “repleto de texturas e fresco”.
Ainda antes de arrancarmos para o húmus (8,50€), chega o pão pita acompanhado de labneh (molho de iogurte e ervas) e do picante muhammara (feito a partir de frutos secos e pimento). A suavidade do húmus é bem-vinda para apaziguar o picante inicial, tal como o clássico baba ganoush (a pasta feita a partir de beringela) adocicado com romãs (8€). Nas entradas, a carta reserva uma surpresa menos óbvia, os rakakat (8,5€). Pelo nome é natural que não se saiba o que são, mas ao paladar os rectângulos de queijo frito com mel são menos estranhos.
Para acompanhar as entradas partilhadas, a carta de bar é assinada por Diogo Lobo e os cocktails de autoria seguem a mesma “autenticidade” prometida para o resto do espaço. As bebidas alcoólicas são trocados por alternativas libanesas, resultando em reinterpretações de clássicos, como o Spicy Jounieh (8,5o€) com gin libanês, coentro e malagueta vermelha, ou o Balbeque Mule (9€), com vodka, tomilho, camomila, laranja, lima e espuma de gengibre.
Na mesa ao lado, onde está um grupo de influencers freneticamente a fotografar tudo, os cocktails causam furor e não tardam nas redes sociais. Por aqui, vão chegando os pratos principais que podem (ou não) ser partilhados. As pizzas, que se chamam manakish, são pensadas com esse propósito com uma massa fofa e alta, semelhante a um pão pita. A pizza Barouk (9,5€) recupera sabores tradicionais com tomate assado, queijo de cabra, beringela assada, azeitonas frescas e za’tar.
Claro, também há pitas para todos os gostos: veggie, frango, novilho ou borrego. Todas são bem recheadas com ingredientes amparados pelo pão fofo. Numa onda “mais saudável”, respondendo ao pedido dos clientes, que são “quem manda no negócio”, acrescentaram recentemente espetadas acompanhadas de salada, diz Luís Roquette.
Prevêem-se mais alterações na carta amiúde para ir seguindo as preferências dos comensais. O que não sairá é o tiramisu libanês (ou mafroukeh), que altera a receita italiana para lhe acrescentar licor de laranjeira e creme de pistácio (6€). Agora, garante o proprietário, é hora de consolidar a clientela que já conquistaram nestes três meses. “O importante é garantir o mercado nacional para nos protegermos da sazonalidade”, afiança.
Depois, o negócio poderá escalar como pretendem fazer com o vizinho mexicano. “Queremos ter Mex Factory noutras localizações, mas estamos muito bem colocados aqui e é difícil encontrar outro espaço tão bom”, analisa, lembrando: “Por enquanto o foco é que estes dois negócios funcionem bem. Temos de dar conta do recado.” Quem sabe, ainda haverá libanês “a 90%” noutras paragens de Lisboa.
Enquanto isso, sem esquecer um Líbano a viver tempos árduos e bélicos, podemos sentar-nos pacificamente no oásis da Lx Factory e saborear esta versão da gastronomia libanesa, traços de um território rico em cultura. Esperemos que em breve a paz faça parte da sobremesa.
A Fugas jantou a convite do Barouk.