Alguém algures chamada Bridget Everett
Somebody Somewhere, série encabeçada por Bridget Everett, chega à terceira e derradeira temporada.
Sem grande alarido, Somebody Somewhere chegou à HBO no início de 2022. Sempre discreta e gentil, esta comédia dramática é uma criação de Hannah Bos e Paul Thureen e centra-se em Bridget Everett, que tem feito, desde os anos 1990, carreira nos palcos de teatros e cabarés nova-iorquinos, seja a cantar ou a fazer comédia.
Everett é Sam, uma mulher que, após a morte da irmã, volta para a terra onde cresceu, Manhattan, no Kansas – a terra da protagonista na vida real –, numa espécie de crise de meia-idade. É, dizem os criadores, uma série em que a "história de amor central" não é um romance, mas sim uma amizade, neste caso, entre Sam e Joel (Jeff Hiller), colega e amigo.
A terceira, e última temporada, arranca esta segunda-feira na Max. A série acaba como começou e sempre foi, sem estrondo, humana, carinhosa. Somebody Somewhere pode não ser mesmo criada por Everett, que só passou a ter créditos na escrita na segunda época, tendo co-assinado dois episódios (nesta o número sobe para três), mas é baseada na sua própria vida. Numa mesa redonda virtual com a imprensa internacional para promover a derradeira leva de sete episódios, a actriz explicou ao PÚBLICO que "sempre fez parte" da escrita "desde o primeiro dia".
"Tem sido um processo muito colaborativo e tenho posto mais e mais a minha voz. Faço sempre uma versão de cada guião, sugiro muitas das histórias, as coisas da Sam têm muito de mim. Pode parecer que não estou a guiar a parte criativa, mas sou definitivamente uma grande parte disso", diz. Hannah Bos, co-criadora, vai mais longe: "A série é tão sobre ela... A Sam é a Bridget e a Bridget é a Sam. Não são a mesma pessoa, mas há, contudo, muitas sobreposições."
A amizade de Sam e Joel, por seu lado, reflecte muito a dinâmica entre Hannah Bos e Paul Tureen, que são parceiros de escrita e melhores amigos há um quarto de século. "Quando estávamos a pensar no piloto, pensámos nisso. As amizades também são muito importantes para a Bridget. Era o elo comum que tínhamos todos e ajudou-nos a explorar esta idade e momento da vida. Pusemos muito da nossa relação" nas histórias, continua Hannah. Ao longo dos anos, lutaram "muito um com o outro", mas também fizeram "as pazes" e "aprenderam muito". "Somos como família e a série é sobre famílias escolhidas", remata.
Entre os amigos das personagens contam-se, por exemplo, Tim Bagley como Brad Schraeder, parceiro de Joel, ou o entertainer Murray Hill, que vem da mesma cena de cabaré nova-iorquina de Everett, na pele de um cientista. Na sua comédia, Hill é ultra-exagerado. Na série, tal como Everett, a quem chama "uma monstra no palco", o cómico é bastante mais comedido, tendo-se adaptado e aprendido a sussurrar. "Não há muitas oportunidades para cómicos não fazerem as personas deles", diz o actor. "Mesmo que o Fred seja um bocadinho Murray, o Murray é, de 0 a 10, para aí 20 de intensidade, e o Fred está mais ou menos no 5".
Não é a única oportunidade diferente que a série dá. Bagley, veterano no activo desde o final dos anos 1980, diz que já fez muitos papéis diferentes. "Mas, normalmente, ninguém quer ouvir falar da vida amorosa ou do lado romântico de alguém da minha idade", confessa. Costumam pedir-lhe papéis pequenos, de pouco relevo, "para aparecer com uma deixa engraçada, ou assim," em filmes ou séries. "Poder ter uma personagem completa, com espiritualidade, vida romântica e os obstáculos da vida normal é uma alegria", partilha, em vez de dizer só algo como "aqui está a sua salada, senhora"!
Jeff Hiller sente o mesmo. "Antes desta série raramente tinha feito personagens com nomes. Era só o 'empregado gay' e assim. É uma dádiva tão grande fazer uma personagem com vida interior. Não sei se poderei voltar a fazer uma personagem tão incrível outra vez, provavelmente vou voltar... Mas agora vai ser juiz em vez de empregado", lamenta. "Fico grato por contarem histórias que se centram pessoas que não estão habitualmente no centro", diz.