Pode um livro informativo ser poético?

Uma criança e a sua avó estão à beira-rio. Uma recolhe flores, outra borda uma toalha de mesa. A pequena quer saber o que é um rio e a resposta vem com ciência e poesia.

“Um rio é renovação: os rios revitalizam as terras. Basta olhar o delta do rio Okavango, no Botsuana”
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“Um rio é renovação. Os rios revitalizam as terras. Basta olhar o delta do rio Okavango, no Botsuana” Monika Vaicenaviciene
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“Rio, quem és tu? Avó, o que é um rio” Monika Vaicenaviciene
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“Um rio é um ponto de encontro. Os rios juntam-nos nas suas águas. Todos os anos, milhões de peregrinos purificam-se dos seus pecados nos rios sagrados da Índia” Monika Vaicenaviciene
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“Um rio é profundidade. Sejam muito ou pouco fundos, todos os rios escondem mistérios nas suas profundezas” Monika Vaicenaviciene
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Capa do livro O Que É Um Rio?, editado pela Fábula Monika Vaicenaviciene e Ágata Ventura
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“Estamos à beira-rio. Ando a apanhar flores. Cada flor tem um significado: as margaridas representam o amor, os trevos, a saúde e os juncos, a resiliência. Vou usá-las para fazer uma coroa.”

Com este início de O Que É Um Rio?, poderíamos perfeitamente estar a entrar num livro de ficção narrativa. Mas na verdade não estamos, melhor, também estamos. Premiado com o Andersen para Não Ficção em 2020, esta obra é e não é (só) um livro informativo.

A pergunta da criança que quer saber o que é um rio começa por ser respondida assim: “Um rio é um fio, bordando o nosso mundo com padrões maravilhosos, cosendo histórias umas às outras, unindo lugares, épocas e pessoas.”

A explicação prossegue, pela voz e sabedoria da avó: “A água dos rios é uma pequena fracção de toda a água que existe na terra: apenas 0,0002%. Não mais do que uma colherzinha de café numa grande banheira.”

Há-de acrescentar ainda que “um rio é uma viagem”, “uma casa”, “é renovação”, “um nome”, “um ponto de encontro”, “um enigma”, “uma memória”, “um cheiro”, “é profundidade”, “energia”, “um reflexo”, “um caminho”, “um oceano”.

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“Um rio é um fio: bordando o nosso mundo com padrões maravilhosos, cosendo histórias umas às outras, unindo lugares, épocas e pessoas” Monika Vaicenaviciene

Enquanto se justificam estas definições, vão-se dando pistas sobre as diferentes espécies que habitam os rios, as que vivem nas suas margens e as que se alimentam da sua força e nutrientes. É claro que os humanos também aqui têm lugar. Não se esquece a indústria, a religião, os conflitos e a ecologia (termo esquecido… e agora quase sempre substituído por sustentabilidade).

Ao mesmo tempo, as imagens revelam diferentes geografias, adicionam dados históricos, curiosidades e costumes. Numa expressão plástica envolvente, mas com rigor científico.

Uma mistura feliz de informação e conhecimento que não deixa de fora a emoção e o sentido estético e poético.

A formação de leitores não deve estar só ancorada na ficção

Monika Vaicenavičienė nasceu na Lituânia e vive na Suécia e em 2018, ganhou o Prémio Internacional de Ilustração para novos talentos, atribuído pela Associação de Ilustradores do Reino Unido. Com este livro, que está publicado em 20 países, foi também finalista de vários prémios internacionais e entrou na selecção dos melhores livros de 2021 pelo The Washington Post.

À luz da investigação da espanhola Ana Garralón, autora de Ler e Saber: os Livros Informativos para Crianças (Pulo do Gato, Brasil), a brasileira Iêda Alcântara, especialista do Observatório de Leitura Município de Pombal, diz não ter dúvidas de que “a formação de leitores não deve estar exclusivamente ancorada na ficção”.

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“Um rio é um caminho. Os rios constroem caminhos do passado para o presente e para o futuro” Monika Vaicenaviciene

Para a coordenadora do Centro de Estudos e Pesquisa da Operação Nariz Vermelho (organização de palhaços em hospital em Portugal), “os livros informativos oferecem uma forma alternativa, mas igualmente poderosa, de desenvolver o gosto pela leitura e de formar leitores críticos e curiosos”. E acrescenta ainda que “estes têm a capacidade de envolver as crianças em temas que despertam a curiosidade e incentivam a busca pelo conhecimento, ao mesmo tempo que são cada vez mais criativos na forma como apresentam o conteúdo”.

Tudo o que aqui é dito se adequa a O Que é Um Rio?, pergunta para a qual a menina desta ficção que é e não é uma ficção encontra a sua própria resposta: “Para mim, é uma história sem fim.” Com todos os seus meandros.

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