Renault 5 E-Tech: ligaram o ícone à corrente e resultou
A história de sucesso do R5 começou em 1972, e a nova versão 100% eléctrica demonstra que ainda não acabou. O Renault 5 E-Tech chega a Portugal em Novembro.
Entre 1972 e 1996, a Renault vendeu mais de nove milhões de unidades do R5 em todo o mundo. Era um citadino eficiente que agradava a homens e mulheres com sentido prático. Além disso, era barato — embora atravessasse carteiras, com o apelo “racing” do Renault 5 Turbo. Era um carro com que se ia às compras ou se faziam viagens curtas, mas, apesar do tamanho e limitações, víamo-lo em todo o lado, e nele cabiam famílias inteiras a caminho das férias de Verão.
Isto para dizer que a memória do Renault 5 está presente em várias gerações, não sendo um automóvel que caiu no esquecimento. Prova disso foi a surpresa (e alegria) que muitos sentiram quando, em 2021, foi revelado o protótipo e, mais tarde, a versão final no Salão de Genebra, no passado mês de Fevereiro. Apesar de 100% eléctrico, apesar da imensa tecnologia e de um ou outro desvio na forma, o R5 fez tocar sininhos nas memórias, e não apenas de aficionados.
Saber se este novo Renault 5, quase duas décadas depois, ainda merece um estatuto especial, foi o desafio que nos levou a Nice, no Sul de França, na semana passada. E, na verdade, foram precisos poucos quilómetros: sim, este R5 é um digno sucessor.
Os argumentos explicam-se sem dificuldade: é muito fácil de conduzir, cómodo e relativamente espaçoso. Vemos claramente a inspiração do modelo anterior, mas tudo é novo. Uma mistura contraditória que talvez se explique pela tal ligação emocional ao carro ou àquele tempo, mas que beneficia de um toque de mestre da equipa chefiada por Gilles Vidal (ex-Peugeot, director de Design da Renault desde 2020). Olhamos para este novo carro e reconhecemos imediatamente o R5. Andar nele pelas ruas de Nice e pelo Mónaco — terras habituadas a outros bólides — significou ver muitas cabeças a girar e, também, muitos sorrisos. Terão ajudado as cores fortes dos veículos cedidos para teste (verde e amarelo), mas foi mais do que isso: “Olha um Renault 5!”.
Prático, eficiente e divertido
Feito para a cidade, o Renault 5 E-Tech estreia a nova plataforma AmpR Small, dedicada aos veículos do segmento B. Para já conta com uma bateria de 52 kWh e um motor de 150cv de potência, sendo a configuração mais apetrechada a primeira a ser posta à venda, com entregas em Portugal no final do ano a partir de 33 mil euros; no primeiro trimestre do próximo ano, chegará uma versão com 120cv e, no final de 2025, a versão base, com uma bateria de 40 kWh e 90cv.
A agilidade do Renault 5 é tão eficiente quanto o design. Acelera bem, trava bem e tem uma excelente brecagem. O espaço interior foi bem aproveitado, com os menos de quatro metros de carro a proporcionarem espaço decente atrás para dois adultos de estatura média; o espaço para os joelhos é bom, mas pode ser difícil encaixar os pés por baixo dos bancos dianteiros. A suspensão traseira multilink faz do R5 um carro confortável também para quem se senta nos bancos posteriores; já quem gosta de se apoiar nas pegas por cima da janela, vai ter de viver sem elas: o R5 não tem nem uma.
Mas é à frente que a diversão acontece. Os bancos inspirados no velho Renault 5 Turbo são confortáveis, o sistema digital de condução e multimédia é de fácil leitura e de tamanho proporcional. O habitáculo apresenta um trabalho cuidado e recorre a materiais reciclados, com alguns plásticos de menor qualidade relativamente bem disfarçados.
A insonorização é boa, mesmo em auto-estrada, pela qual só se ouve o rodar dos pneus, sem ruídos aerodinâmicos perceptíveis. É verdade que a velocidade está limitada a 150 km/h, mas também é verdade que um citadino não precisa de andar mais depressa do que isso.
Os 150cv de potência da versão ensaiada não são fulgurantes (faz 0-100 km/h em 8 segundos), mas, associados à rigidez do chassis, são garantia de diversão numa estrada com curvas. A tonelada e meia de peso está bem equilibrada, o centro de gravidade é baixo e as ajudas à condução fazem o resto. O Renault 5 é um carro que vai continuar a ser capaz de levar famílias inteiras a caminho das férias de Verão, ainda que em modo eléctrico.
Para quem sofre de ansiedade da autonomia, há que dizer que a Renault parece cumprir com os 400km (WLTP) divulgados: no nosso teste de 250 quilómetros em percurso misto fizemos consumos entre os 13 e os 14 kWh. Circular em modo Eco com o “pé leve” deverá cumprir com essa meta, o que, considerando um cenário de 40km por dia em deslocações citadinas, exigirá um carregamento por semana.
Além da integração das aplicações da Google, a tecnologia deste pequeno eléctrico inclui um assistente virtual chamado Reno. Através dele é possível executar funções de comando simples — como ligar ou desligar o ar condicionado — ou responder a dúvidas técnicas sobre o carregamento, por exemplo. Sublinhamos que já fala em português de Portugal.
Outras funções, mais práticas, incluem um sistema de purificação de ar que renova e filtra o ar do habitáculo em poucos segundos; e a suite de segurança onde encontramos o controlo de velocidade adaptativo, a manutenção de emergência na faixa de rodagem e o modo de estacionamento automático.
O novo R5 é “um automóvel que concilia a emoção com a razão e a tecnologia”, diz à Fugas José Pedro Neves, director da Renault em Portugal, que se mostra muito optimista em relação às vendas do modelo. Conta-nos que há cerca de quatro mil pessoas inscritas no “waiting program”, iniciativa para potenciais clientes para quem está a ser preparado um evento em Novembro, mês em que vão chegar as primeiras unidades a Portugal.