Conversas da Teta: mulheres fazem comédia teatral para alertar para cancro da mama

Grupo Amador de Teatro de Esposende Rio Cávado estava a enfrentar doença e desafiou Linda Rodrigues, das Contilheiras, a escrever e encenar.

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Peça chama-se Conversa da Teta PAULO PIMENTA
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Peça sobe à cena no Auditório Municipal de Esposende PAULO PIMENTA
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Peça está em cena nos dias 26 e 27 de Outubro PAULO PIMENTA
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Na peça participam várias mulheres que já tiveram cancro PAULO PIMENTA
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Na peça entra apenas um homem PAULO PIMENTA
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Quiseram brincar com um assunto sério. Não para iludir, mas para melhor falar de prevenção de cancro da mama e de modos de lidar com quem o enfrenta. Chamaram-lhe Conversa da Teta. A peça sobe à cena este sábado (21h30) e este domingo (16h30) no Auditório Municipal de Esposende.

Fernanda Cerqueira, presidente do Grupo Amador de Teatro de Esposende Rio Cávado, foi quem desafiou Linda Rodrigues, das Contilheiras. E se fizessem uma peça de teatro no Outubro Rosa, o mês da campanha de prevenção do cancro da mama (e cada vez mais também do cancro de colo do útero)?

O tema já estava dentro do grupo. A actriz amadora Helena Roxo já tivera cancro da mama e as actrizes amadoras Alexandra Costa e Amélia Pereira Martins estavam a lidar com isso e com o olhar dos outros.

A todas fazer uma peça pareceu um exercício mais interessante do que uma palestra a alertar para a importância do diagnóstico precoce, através do auto-exame (apalpação) e do rastreio (ecografia/mamografia), cuja idade mínima vai baixar para os 45 anos. O espectáculo serviria para desbloquear a conversa logo a seguir.

Peça foi precedida de uma residência artística de dois dias Paulo Pimenta
Na residência artística, as participantes fizeram partilhas, mas também exercícios Paulo Pimenta
Da partilha daqueles dias nasceu o texto
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Peça foi precedida de uma residência artística de dois dias Paulo Pimenta

Não se fecharam dentro do grupo, que ano após ano ali promove o Encontro de Teatros. Quiseram ouvir outras mulheres com saber de experiência feito.

Manuela Maranhão estava a terminar os tratamentos e nunca fizera teatro na vida. “Ando num grupo de teatro e a gente vai fazer uma peça sobre cancro da mama e anda à procura de mulheres para dar o depoimento”, explicou-lhe Alexandra Costa, convidando-a a contar a sua história. “Vou. Dar o depoimento, vou”, anuiu Manuela. “Quando ia a sair, disse a Linda: ‘Acho que vocês deviam todas fazer a peça!’” Ainda lhe saiu um “ai, não”, mas ali está.

Na palavra “todas”, Linda Rodrigues também incluiu duas mulheres do grupo que nunca tiveram cancro (Alexandra Campino e Mafalda Miguéis). E uma de fora que já tivera cancro (Ana Mendes, que considera a doença ultrapassada, vive em Esposende e gosta tanto de teatro que já há uns anos fez uma pequena formação em técnicas de interpretação).

Primeiro, juntaram-se à volta de uma mesa. De telemóvel em riste, Linda Rodrigues gravou cada palavra que ia saindo pela boca daquelas mulheres. Depois, estiveram em residência artística – dois dias a conversar, mas também a fazer exercícios de teatro, de psicodrama.

Olhando para trás, vêm-lhes à memória muito choro, mas também muito riso. Reconhecem aqueles dois dias de intensa partilha no texto que Linda Rodrigues escreveu e encenou.

Um exemplo? Na peça, uma mulher conta que o marido a levou a um restaurante e pediu maminha. Na vida real, Alexandra Costa e o marido convidaram os amigos para um almoço temático lá em casa e serviram-lhes maminha. “Foi o primeiro almoço que fizemos lá em casa depois do diagnóstico.”

O marido podia brincar, mas só às vezes. As filhas, de três e quatro anos, sempre. No princípio, quando as ia buscar à escolinha, Alexandra cobria a cabeça. Um dia, a mais velha pediu-lhe que mostrasse “a carequinha aos amigos”. “Foi uma lição que me deu. Realmente, para quê?”

No começo, Amélia nem usava a palavra cancro. Falava em carcinoma ductal in situ, expressão médica para uma forma de cancro não invasivo. “Se não soubermos falar de uma forma natural, estamos a afastar as pessoas.”

Um diagnóstico de cancro afecta a família inteira. Uma das filhas de Amélia afligiu-se tanto que ela teve de a levar ao médico. “A minha filha mais velha, que vem dormir a casa, chorava no meu ombro quando precisava. Acompanhava-me às consultas. A mais nova está fora, na universidade. Fez um trabalho sobre cancro da mama e entrou em colapso.”

Indo para a terceira cirurgia, Amélia não se deu ao direito de se sentir vulnerável. “Nessa altura, cheguei a pensar que não podia estar doente. Se estivesse doente, elas também estariam doentes. Foi uma fase mais difícil.”

O grupo, para si, foi terapêutico. “Quando cheguei à residência artística já me sentia mais forte. Já dizia cancro da mama. O facto de chorar com elas, de nos abraçarmos deu-me uma leveza. É importante passar a mensagem de que ajuda muito falar com pessoas que passaram pelo mesmo.”

“Acho que nunca tinha partilhado assim com ninguém, as minhas amigas diziam-me que sim, mas não tinham a noção”, corrobora Manuela. “As pessoas não percebem o que queremos dizer quando dizemos que estamos a apodrecer por dentro”, torna Alexandra. “Elas sabiam perfeitamente o que eu estava dizer. Até o cheiro. O nosso odor corporal muda.”

Não querem ficar-se por estas duas sessões. Querem chegar “a mais gente que esteja a passar pelo mesmo”. Ou a acompanhar quem esteja a passar pelo mesmo. Parece-lhes uma forma de “tirar o melhor do que aconteceu”.

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