Caso das gémeas: Ex-consultor de Marcelo desmente Lacerda Sales e recusa envolvimento
Mário Pinto diz que nunca debateu o caso das gémeas com o antigo governante, com Marcelo ou com Nuno Rebelo de Sousa. Já José Magro garante que não marcou a consulta no Hospital Lusíadas.
O antigo consultor do Presidente da República para a área da saúde, Mário Pinto, negou, na comissão parlamentar de inquérito ao caso das gémeas, ter-se reunido com o ex-secretário de Estado da Saúde António Lacerda Sales para falar sobre o tema. Na segunda audição desta sexta-feira, o empresário José Magro garantiu que se limitou a tentar obter o contacto da neuropediatra Teresa Moreno, recusando ter marcado a consulta das crianças no Hospital Lusíadas.
Mário Pinto foi questionado pelo PSD sobre Lacerda Sales tê-lo envolvido e ter sugerido que os dois estiveram reunidos em 6 de Novembro de 2019 para falar sobre o caso.
"Nego isso (...). Ele sabe que não falámos disso, porque eu não sabia, não conhecia [o caso]. Temos uma relação estreita e não foi bonito ter dito isso", afirmou, defendendo que Lacerda Sales, "sobre este assunto, não disse a verdade".
Questionado pelo PS, disse não se lembrar que assunto terá sido abordado nessa reunião e, mais à frente, em resposta ao CDS-PP, indicou que poderá ter passado pelos problemas vividos nas urgências na altura.
"Claramente que não foi sobre as gémeas", salientou, indicando que só teve conhecimento quando foi divulgado pela comunicação social e que também nunca falou sobre o tema com Marcelo Rebelo de Sousa nem com o filho.
Ainda sobre o facto de Lacerda Sales o ter mencionado, Mário Pinto, consultor na Presidência da República à data dos factos, em 2019, disse que o antigo governante o avisou do que iria fazer e que, na resposta, lhe pediu "para dizer a verdade".
Questionado pelo coordenador do PSD, António Rodrigues, sobre as motivações de Lacerda Sales, o ex-consultor remeteu para o ex-governante e disse desconhecer "qual era a ideia dele quando falou disso".
Mário Pinto disse ainda que telefonou ao antigo secretário de Estado para o questionar sobre isso, mas "ele não atendeu".
Sobre as suas funções no Palácio de Belém, Mário Pinto indicou que "fazia a ligação com a área de saúde do Governo", e que se reunia "de dois em dois meses" com António Lacerda Sales para abordar "estratégias de saúde" e não dossiês individuais.
Mário Pinto admitiu ainda ter arranjado uma consulta para uma funcionária do Palácio de Belém.
O ex-consultor considerou que a Presidência da República é "um local com muitos segredos", o que considerou "normal", pois "o que se fazia lá não era para divulgar".
Empresário recusa ter marcado a consulta
Na tarde desta sexta-feira foi também ouvido, em sede de inquérito, o empresário José Magro, envolvido no caso porque o seu contacto está presente num email enviado pela mãe das gémeas para o Hospital Lusíadas. O empresário garantiu, contudo, que a sua intervenção no caso foi apenas para pedir o contacto da médica Teresa Moreno.
Na sua intervenção inicial, José Magro disse que tomou conhecimento do caso a 8 de Outubro de 2019, quando foi contactado por Eduardo Migliorelli, um cidadão brasileiro seu conhecido, que lhe pediu o contacto dos médicos Teresa Moreno e José Pedro Vieira, que trabalhavam no Hospital Lusíadas, em Lisboa.
Na sequência desse pedido, contactou Victor Almeida, à época director comercial do grupo Lusíadas Saúde e com quem tinha "uma relação próxima". Nos dias seguintes, teve conhecimento que Nuno Rebelo de Sousa também pretendia o contacto da neuropediatra.
José Magro indicou também que, como em 15 de Outubro ainda não tinham obtido o contacto, sugeriu ao filho do Presidente da República que fosse enviado um email para Victor Almeida a mencionar o caso e o interesse em contactar a médica Teresa Moreno. Referiu ainda ter pedido que o seu endereço de email estivesse em conhecimento (em Cc) para poder acompanhar a evolução do pedido. Mas não soube responder se foi Nuno Rebelo de Sousa que transmitiu isso à mãe das gémeas.
No dia 22, teve indicação por parte de Nuno Rebelo de Sousa de que ainda não tinha sido possível obter o contacto, mas que a sua intervenção não seria mais necessária e que iria "fazer de outra forma", sem especificar ao que se referia.
"A partir daí esgotou-se a minha intervenção no caso", indicou, salientando que nunca pediu a marcação nem a desmarcação da consulta que esteve inicialmente marcada nos Lusíadas.
José Magro indicou que intercedeu neste caso "por dever de cidadania" e "sentido de humanidade", por saber que duas crianças estavam em "situação grave", assumindo, contudo, desconhecer o "objectivo" do contacto com Teresa Moreno.
O gestor disse também que nunca teve qualquer contacto com o Presidente da República ou qualquer membro da sua Casa Civil, nem com nenhum membro do Governo ou os hospitais Santa Maria e Dona Estefânia.
José Magro lembrou ainda que foi vice-presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira entre 2015 e Março de 2019, altura em que conheceu Eduardo Migliorelli, Victor Almeida e Nuno Rebelo de Sousa – com quem se encontra "raramente" desde que abandonou funções na câmara de comércio.