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"Shakespeare nunca mostraria o ponto alto de Hamlet nos primeiros minutos"
Uma bússola para navegar o mundo do streaming. Joana Amaral Cardoso mostra-lhe o que há para ver.
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Na próxima semana há Dia das Bruxas, as plataformas têm todas muita oferta adequada e devidamente encaixotada em blocos aboborados, e por isso não vale a pena estar a recordar onde anda Chucky, de que televisor vai saltar um Poltergeist, nem que os dois últimos episódios de Foi Sempre a Agatha se estreiam na noite de 31, pois não? Até porque o que assusta Hollywood neste momento é outra coisa.
Há exactamente uma semana, o festival Tribeca criou um pequeno happening no Beato lisboeta, trazendo um punhado de estrelas e, para quem conseguiu ir ver alguns dos filmes e séries que lá foram exibidos, dando condições díspares para os ver. Há quem tenha conseguido fazer tudo dentro da normalidade que é um "evento" e não um festival de cinema, e quem se queixe de condições absurdas para ver cinema, da iluminação às cadeiras de campismo usadas para simular uma sala de cinema.
Ora na tarde de sexta-feira, dentro de um restaurante no chamado Hub Criativo do Beato, houve outra situação paradoxal. De um lado, o restaurante funcionava. Igual a: cutelaria, loiça e vapor das máquinas de café a dar aquela atmosfera "o que é que disseste?". Do outro, um letreiro anunciava Charcutaria e Queijo/Vinho, mas inadvertidamente quem estava por baixo do mesmo eram os realizadores Patty Jenkins e Jon Kilik, o produtor Diogo Brito e o moderador Tony Gonçalves. É tudo uma questão de perspectiva (e algum sentido de ironia perante os comes e bebes e as cadeiras desdobráveis das "salas de cinema") e depois aceitar que a conversa estava bem audível e valeu a pena.
Porque foi um frente a frente entre a mulher que realizou o último blockbuster do ano da pandemia, Mulher-Maravilha 1984 (2020), e o homem que na altura ocupava o cargo executivo no grupo Warner Media que decidiu que toda a sua oferta de cinema iria estrear-se directa ou simultaneamente em streaming e nas pouquíssimas salas abertas. Patty Jenkins não teve palavra no assunto. "Não tinha a certeza sobre o que devíamos fazer. Quando soubemos que íamos ser o primeiro filme a ir [directamente para streaming], o que se passava no mundo fazia tudo parecer tão insignificante… Por isso, o meu filme e o que lhe aconteceu pareceu incrivelmente secundário. Fiz as pazes com isso", disse a realizadora.
Mas não fez mesmo-mesmo. A decisão, que espelha a de um espectador que espera por ver certos filmes em casa não por causa de um coronavírus, "teve um enorme impacto na forma como aqueles filmes foram recebidos", ressalvou Jenkins. "Filmei em IMAX, temos muitos efeitos práticos e não se consegue distinguir isso num ecrã doméstico", disse, mencionando os muitos homens brancos de meia-idade responsáveis pelas críticas ao filme e que não tiveram isso em consideração, nem o facto de não serem o público-alvo.
"Top Gun: Maverick decidiu aguentar", lembra, "e agora eu gostava tanto que tivéssemos esperado" pelo fim da pandemia, suspira Jenkins.
Parece uma peça de arqueologia esta conversa, mas foi apenas há dois, três anos. E desde então a mudança dos hábitos dos espectadores e a crise do sector de exibição aprofundaram-se. Jon Kilik, produtor dos filmes Os Jogos da Fome mas também de longas de Spike Lee ou Jim Jarmusch, manteve-se optimista. Considera-se claramente da equipa do cinema independente e pôs o travão no comboio do medo: "O formato, seja o digital seja o streaming, não vai impedir os artistas de fazer filmes. Vi isso ao longo da minha carreira, do VHS ao DVD, e agora o streaming, e nada disso nos parou".
E depois veio o reality-check. Diogo Brito, arquitecto e co-fundador da produtora 313 com César Mourão, recordou que a economia do cinema hoje não se faz sem o streaming, especialmente para os pequenos produtores e mercados periféricos. A equação é pré-aquisição dos canais (potencialmente com a sua própria plataforma de video on demand) + distribuição em sala = "só assim conseguimos orçamento".
Patty Jenkins, polemicamente, acredita que o "streaming ainda não criou fenómenos culturais". Stranger Things ou Squid Game discordam. A Netflix tem o alcance para fazer fenómenos, mas também, sendo essencial para os tais mercados periféricos quando entram na sua órbita de atenção, criam "um paradoxo, uma enorme diferença entre um produto regional da Netflix e um produção sem Netflix" por causa do orçamento, atenta Diogo Brito.
Foi uma breve radiografia do estado de coisas e de como três agentes bem diferentes vêem a influência do digital no cinema. Jenkins, que claramente não é fã da Netflix, avisou com um exemplo bem claro da forma como as plataformas agora "encomendam" ou "anotam" os projectos sob a sua alçada. "Os streamers dizem que tem de se mostrar um flash do que acontece nos primeiros cinco minutos, Shakespeare nunca mostraria o ponto alto de Hamlet nos primeiros minutos; o que eles temem é que as pessoas desliguem", avisa a realizadora. O que isso faz à forma como se conta histórias, isso sim, é assustador.
Netflix
Sexta-feira, 25 de Outubro
A Extraordinária Vida de Ibelin — O jogador profissional de World of Warcraft Mats Steen morreu aos 25 anos. Sofria de uma doença muscular degenerativa e a família atribuiu a sua morte à solidão e tristeza. Mas o blogue que deixou para trás é um testemunho das amizades que fez virtualmente e da transcendência do universo físico.
The Last Night at Tremore Beach — Série espanhola sobre um músico e compositor que se desloca para uma aldeia costeira para terminar um trabalho, mas após um acidente, começa a ser assombrado por visões assustadoras dos seus vizinhos.
Don't Move — Filme de Sam Raimi. Uma mulher de coração partido isola-se numa floresta mas é atacada por um estranho que a injecta com uma droga paralisante que gradualmente a pode matar. Resta-lhe tentar fugir, esconder-se e lutar pela vida.
Terça-feira, 29 de Outubro
Olivia Rodrigo: GUTS World Tour — Registo do concerto no Intuit Dome, em Los Angeles com base nos seus álbuns GUTS e SOUR.
Quarta-feira, 30 de Outubro
The Manhattan Alien Abduction — Série sobre um caso que fascina a comunidade de investigação sobre a vida extraterrestre e a revelação de que uma cineasta esteve envolvida no chamado "caso do rapto de Manhattan". Diz a Netflix que "estes são os Ficheiros Secretos da realidade".
Martha — Documentário de R.J. Cutler sobre Martha Stewart, a ex-modelo e eterna influenciadora da vida doméstica que foi presa por fuga ao fisco, saiu e voltou à sua carreira de multimilionária.
A Lei de Lidia Poët — Segunda temporada da série sobre Lidia, cujo género não lhe permite por lei ser advogada. A sua demanda é mudar a lei no âmbito da sua luta pelos direitos das mulheres. Seis novos episódios. Série italiana.
Quinta-feira, 31 de Outubro
A Diplomata — Segunda temporada da série protagonizada por Keri Russell, que recomeça após a explosão que pôs em risco a vida do marido da embaixadora dos EUA Kate Wyler. A intriga adensa-se dentro do governo britânico e a ajuda vem do seu marido Hal Wyler (Rufus Sewell) e a tensão aumenta com uma visita ameaçadora da vice-Presidente dos EUA Grace Penn, interpretada por Allison Janney.
Filmin
Terça-feira, 29 de Outubro
Shatter Belt — Série de James Ward Byrkit, realizador de Coherence (2013), e que segue o modelo antologia, ou seja cada um dos quatro episódios pertencem ao mundo da ficção científica e sem grandes ligações entre si. Mete física quântica, metafísica e pulp.
Amazon Prime Video
Segunda-feira, 28 de Outubro
Morangos com Açúcar — Temporada número quatro do regresso ao Colégio da Barra pela mão da TVI e da Prime, agora com nova directora após a saída de "Crómio" e com um curso de artes performativas, coordenado por Zé Milho que desagrada ao director financeiro da escola. Parecem as prequelas de Star Wars que tornam a Força e os Jedi meros peões numa guerra de comércio e de burocratas? É claro que os alunos trarão as histórias de amor, temas adolescentes e colorido à série.
Globoplay
Quinta-feira, 31 de Outubro
A Vida Que Eu Queria — Série desportiva com Bruno Pesca e Marcelo Trekinho, surfistas amigos sobre as suas viagens, que e exploram novos destinos para a prática de surf, como a Ilha da Madeira e a piscina de ondas em São Paulo.
Max
Sexta-feira, 25 de Outubro
Armadilha — Filme de M. Night Shyamalan sobre o pai Cooper (Josh Hartnett) e a filha adolescente num concerto de uma estrela pop e que de repente tem câmaras de vigilância por toda a parte, muita polícia e tensão.
Sábado, 26 de Outubro
Hometown Horror – Primeira temporada de uma série sobre histórias de mortos-vivos, espírito e monstros que há muito percorrem gerações em pequenas comunidades norte-americanas.
Segunda-feira, 28 de Outubro
Somebody Somewhere – É a altura da despedida de Sam e da sua pequena e diversificada comunidade de pessoas maravilhosamente fora do comum.
Terça-feira, 29 de Outubro
Selena + Restaurant – Primeira temporada do programa que põe Selena Gomez a trabalhar nos restaurantes mais conceituados de Los Angeles, como uma aprendiz com tempo limitado para criar um prato à altura da ementa do restaurante em causa.
Disney+
Sexta-feira, 25 de Outubro
Diário de Estrada: Bruce Springsteen and The E Street Band — Bruce Springsteen e a E Street Band documentados de perto, abordando a forma como criam os seus concertos, dando acesso aos ensaios, a momentos intimistas nos bastidores e imagens de arquivo preciosas.
SkyShowtime
Sexta-feira, 25 de Outubro
If — Uma rapariga que descobre que consegue ver os amigos imaginários de todos, os seus IFs (imaginary friends). Escrito e realizado por John Krasinski e protagonizado por Ryan Reynolds.
Ler para ver
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Observador: What We Do In The Shadows vai acabar. Será que lhe demos toda a atenção que merece?
The Guardian: ‘It’s going to be much darker’: inside the deadly return of TV masterpiece Wolf Hall
The New York Times: Seth Meyers Isn’t as Nice as You Think He Is
Até ao Próximo Episódio.