Pelo menos um morto e mais de 300 detidos nos protestos em Moçambique
Partidos da oposição rejeitam resultados das eleições anunciados na quinta-feira e Renamo exige mesmo que a votação seja anulada. UE pede divulgação das atas.
Depois do anúncio da vitória de Daniel Chapo, candidato da Frelimo, nas eleições presidenciais em Moçambique, os protestos contra os resultados eleitorais convocados pelo candidato Venâncio Mondlane, que ficou em segundo lugar, acabaram em confrontos com a polícia, levando a uma morte e a mais de de 300 detidos pela polícia em todo o país, segundo fontes oficiais da polícia citadas pela Lusa.
Os resultados anunciados na quinta-feira pela Comissão Nacional de Eleições estão a ser fortemente contestados pelos partidos da oposição e, esta sexta-feira, a Renamo pediu que a votação fosse anulada.
“A Renamo está ciente da responsabilidade que tem neste país, por isso declaramos, aqui e agora, que não aceitamos os resultados e vamos usar todos os mecanismos internos e internacionais para que estas eleições sejam declaradas inexistentes e seja resposta a justiça eleitoral. Caso contrário, a Renamo não se responsabiliza pelos possíveis eventos pós-eleitorais”, disse Ossufo Momade, líder e candidato presidencial do que era até agora o principal partido da oposição, que ficou em terceiro lugar.
O candidato do partido Revolução Democrática, Vitano Singano, afirmou esta sexta-feira que "jamais" iria reconhecer os resultados. “O próximo passo será manter as manifestações a nível nacional e a todo custo, se não houver diálogo. Chapo não tomará posse", assegurou o candidato à emissora alemã Deutsche Welle.
A morte durante os protestos ocorreu na cidade de Nampula, capital da província com o mesmo nome, supostamente durante confrontos com a polícia numa altura em que estariam a decorrer assaltos na zona.
"Neste trabalho de neutralização e dispersão de indivíduos que protagonizavam assaltos, a Polícia da República de Moçambique (PRM) tomou conhecimento que havia um indivíduo que tinha sido ferido gravemente. A polícia alocou uma viatura para socorrer o mesmo que, infelizmente, a caminho do hospital, veio a perder a vida", afirmou o porta-voz da polícia de Nampula, Délcio Samuel, citado pela Lusa.
Segundo o jornal online regional Ikweli, que noticiou a morte de um jovem pela polícia na zona de Namutequeliua da cidade de Nampula na quinta feira, testemunhas no local afirmaram que a pessoa, aparentemente jovem, não estava envolvida nos protestos e andava normalmente na rua quando dois polícias dispararam e atingiram-no, tendo perdido a vida no local.
Uma fonte na esquadra da polícia, contactada pelo jornal local, corroborou que o jovem não estava envolvido nos protestos. "Infelizmente vai constar nas estatísticas de que abatemos um dos manifestantes, mas ele não estava nem aí", acrescentou.
Segundo o porta-voz da polícia moçambicana, Orlando Mudumane, "foram detidos 371 indivíduos e lavrados 44 processos-crime e remetidos ao Ministério Público para posteriores trâmites legais".
Na quinta-feira à noite, após o anúncio dos resultados que deram à vitória à Frelimo, Venâncio Mondlane convocou dois dias de paralisação nacional com manifestações "pacíficas".
"Vamos sacrificar dois dias das nossas vidas para que todos nós nos manifestemos. E não precisamos de informar a polícia, o município", afirmou o candidato.
UE pede publicação dos resultados por mesa de voto
Os resultados anunciados pela CNE e contestados pela oposição deram uma vitória categórica a Daniel Chapo da Frelimo, com 70,67%, seguido de Venâncio Mondlane, candidato através do até agora pequeno partido Podemos, com 20,32% e de Ossufo Momade, candidato da Renamo, com 5,81%.
A porta-voz da Comissão Europeia Nabila Massrali pediu a divulgação dos resultados por mesa eleitorais para garantir a veracidade dos resultados anunciados pela comissão eleitoral.
"Incentivamos a CNE a publicar os resultados desagregados por mesa de voto na sua página oficial na internet. Isto não só vai melhorar bastante a transparência do processo eleitoral, como também vai salvaguardar a integridade dos resultados", afirmou a porta-voz, citada pela Lusa, que admitiu que a missão de observação da UE nas eleições em Moçambique tinha notado "várias irregularidades durante a contagem" e "alteração injustificada dos resultados eleitorais ao nível das mesas de voto e dos distritos".