A necessidade não aguçou o engenho do Benfica na Liga dos Campeões

O Benfica saiu pela primeira vez desta Liga dos Campeões sem um triunfo, perdendo em casa frente ao Feyenoord. Foi a primeira derrota desde o regresso de Bruno Lage.

Foto
Benfica e Feyenoord em duelo em Lisboa Pedro Nunes / REUTERS
Ouça este artigo
00:00
04:16

O que o Feyenoord levou ao Estádio da Luz nesta quarta-feira de Liga dos Campeões foi, provavelmente, diferente do que esperava o Benfica – pelo menos, a avaliar pela total inadequação dos jogadores “encarnados” ao que lhes puseram à frente.

Houve derrota por 3-1, resultado que se explica pela incapacidade de lidar com a pressão individual a campo inteiro feita pelo Feyenoord durante largos minutos, até construir o 2-0.

Perante essa estratégia havia uma necessidade, mas ela não aguçou o engenho do Benfica, que parece ter preparado o jogo frente ao Atlético de Madrid de forma bem mais detalhada e competente do que este contra o Feyenoord.

Erro de Otamendi

Na primeira parte, o Benfica mostrou-se totalmente impreparado para o Feyenoord. A equipa “encarnada” parecia nunca ter visto um adversário defender homem a homem, muitas vezes a campo inteiro, e não teve soluções com e sem bola.

Em posse, a forma de bater uma pressão alta com referências individuais é saltar esse bloco de pressão com um passe vertical ou com bola no espaço. A primeira via era bloqueada pela sobrepovoação do local onde poderia aparecer Kokçu, pelo que restava a possibilidade de ataque ao espaço – que nunca aconteceu.

Uma das explicações para isso é o carácter algo unidimensional do “onze” actual do Benfica, recheado de jogadores de bola no pé e com poucos jogadores de verticalidade sem bola. Outra explicação é que ninguém fez movimentos de “engodo” que fizessem os neerlandeses pressionarem no corredor, abrindo espaço para ligar por dentro.

E acabou por ser fácil para o Feyenoord recuperar a bola em zonas adiantadas (muitas vezes a defender em quatro para quatro no último terço) ou, no mínimo, obrigar o Benfica a bater longo sem nexo para depois ganhar a segunda bola, que nunca era bem disputada pelos portugueses.

Sem bola, o Benfica chegava sempre atrasado aos duelos e Aursnes, atraído constantemente à direita para compensar Di María, deixava um buraco no meio-campo só para Florentino.

A atitude competitiva também foi deficiente em alguns momentos, com jogadores pouco intensos sem bola e incapazes de ganhar duelos e "matar" com faltas. Foi assim aos 23’, 24’ e 37’, em lances de perigo que não deram golo, mas já tinha sido assim aos 12’, no 1-0. Com Kokçu e Aursnes a passo, houve uma bola em profundidade entre Bah e Araújo.

Com a bola muito puxada ao corredor (sem perigo claro de golo do jogador que recebeu), Otamendi, como sempre faz, foi avidamente ao homem, em vez de controlar o espaço e ficar a meio caminho, com possibilidade de controlar o portador da bola e o seu jogador. Deixou, portanto, o “seu” jogador livre para finalizar. Não há nada mais Otamendi do que isto.

Akturkoglu ajudou menos

Além da inadaptação às referências individuais, o Benfica mudou duas coisas em relação ao que tinha feito com o Atlético: a tal reacção à perda menos capaz e a menor propensão de Aursnes e Akturkoglu para ajudarem os laterais.

Aos 33’, Carreras ficou na dúvida se controlava o movimento interior de Milambo ou a presença do extremo Osman – com o Atlético, Akturkoglu teria ajudado nisso, até porque Osman se “afundou” muito no corredor esquerdo do Benfica.

Com Carreras perdido em terra de ninguém, achando estranhamente que o jogador aberto era mais importante do que o jogador interior, houve espaço para Milambo fazer uma “cueca” a Otamendi e finalizar – o argentino, uma vez mais, foi à queima tentar o desarme mesmo sendo o último homem antes de Trubin.

O Benfica criou perigo numa bola ao poste de Bah, num canto, e num golo anulado aos 42’, numa das poucas ocasiões em que alguém pediu a bola no espaço – foi Akturkoglu.

Por muito que não se deva sobrevalorizar a intensidade nos duelos como factor explicativo do que quer que seja, foi clara a forma como o vigor “encarnado” após o intervalo fez com que as bolas divididas começassem a pender para o seu lado – e isso projectou mais a equipa. Essa mudança permitiu ao Benfica instalar-se no meio-campo ofensivo com mais jogadores.

Aos 66’, a já referida atracção de Otamendi pelo desarme foi bem usada em proveito colectivo. Numa situação em que podia fazê-lo, o argentino recuperou uma bola e ofereceu uma transição rápida à equipa, que terminou com remate de Beste e recarga de Akturkoglu.

A equipa começou a somar oportunidades de golo (Amdouni e Akturkoglu) e fez o suficiente para empatar o jogo, mas o discernimento acabou por perder-se num final de jogo fraco. E mais fraco ainda pelo erro bizarro aos 90+1', com toda a gente "a dormir" num livre que deu golo de Milambo.

Sugerir correcção
Ler 8 comentários