Sistema de defesa aéreo enviado pelos EUA para Israel “está a postos”
Viagem de Blinken vista como possível impulso para o regresso às negociações, depois da morte de Sinwar, mas “não há actualmente quaisquer conversações”.
De partida para Israel e para uma viagem a “toda a região”, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, vai “discutir a importância de pôr termo à guerra em Gaza, assegurar a libertação de todos os reféns e aliviar o sofrimento do povo palestiniano”, informou o Departamento de Estado. Os Estados Unidos pressionam Benjamin Netanyahu para reiniciar as negociações depois da morte do líder do Hamas, Yahya Sinwar, mas à vista estão os bombardeamentos de Israel no Líbano e na Faixa de Gaza, assim como os preparativos israelitas para lançar o esperado ataque contra o Irão.
Na verdade, estes preparativos envolvem directamente os EUA, que enviaram para o país aliado um sistema de defesa aéreo THAAD (Terminal High Altitude Area Defense) e cerca de 100 militares para o operar. “O sistema THAAD está a funcionar”, disse aos jornalistas nesta segunda-feira o secretário de Estado da Defesa, Lloyd Austin. Sem querer especificar se estava já operacional, repetiu que está “a postos” e que os militares norte-americanos têm “a capacidade de o colocar em funcionamento muito rapidamente”.
“É difícil dizer exactamente como será o ataque [de Israel]”, acrescentou Austin. “No fim de contas, trata-se de uma decisão israelita e o facto de os israelitas acreditarem ou não que é proporcional e a forma como os iranianos a encaram podem ser duas coisas diferentes”, disse ainda.
O Irão lançou o seu segundo ataque de sempre contra o território israelita a 1 de Outubro, quando disparou perto de 200 mísseis balísticos em resposta aos assassínios do líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, a 31 de Julho, em Teerão, e do chefe máximo do Hezbollah libanês, Hassan Nasrallah, a 27 de Setembro, em Beirute.
Os EUA terão decidido enviar o sistema THAAD depois de o primeiro-ministro israelita garantir ao Presidente Joe Biden que o seu plano de retaliação vai envolver ataques a instalações militares e não nucleares ou petrolíferas. Já nesta segunda-feira, Teerão disse que alertou a Agência Internacional de Energia Atómica sobre “as ameaças de ataque a instalações nucleares”.
Esperava-se que o ataque israelita não acontecesse antes de o THAAD estar pronto a funcionar. Em Abril, durante o primeiro ataque iraniano contra Israel (em resposta a um ataque israelita contra um complexo diplomático iraniano na Síria), os navios e aviões de guerra norte-americanos na região ajudaram a defender Israel.
A viagem de Blinken, que partiu para Israel nesta segunda-feira, sem que Washington tenha divulgado o resto da sua agenda, acontece dias após a morte de Sinwar e coincide com a chegada a Beirute do enviado dos EUA, Amos Hochstein, que ali deverá manter conversações sobre um possível cessar-fogo.
Segundo o site de notícias norte-americano Axios, o Governo de Netanyahu já entregou aos EUA um documento com as suas condições para pôr fim à guerra no Líbano, onde se inclui a liberdade de operar no espaço aéreo libanês, assim como autorização para que as Forças de Defesa de Israel tenham um “envolvimento activo” na tarefa de impedir o rearmamento do Hezbollah e a reconstrução das suas infra-estruturas militares perto da fronteira.
Mas em relação a Gaza – e o Hezbollah sempre disse que só o fim da guerra no enclave palestiniano levaria ao fim dos seus ataques –, as perspectivas não parecem muito animadoras. Um membro da equipa de negociadores disse ao diário israelita Haaretz que a morte de Sinwar, considerado o principal arquitecto dos ataques de 7 de Outubro de 2023, não conduziu a quaisquer mudanças “nas posições de ambas as partes”. Para reiniciar as conversações, acrescentou, “Israel tem de suavizar a sua posição”.
“Não há actualmente quaisquer conversações para um cessar-fogo e Blinken está perfeitamente ciente disso”, disse ao mesmo jornal “um alto funcionário israelita”, que vê a visita do secretário de Estado como uma “tentativa diplomática desesperada”, antes do ataque de Israel ao Irão, que poderá agravar ainda mais o conflito.