Ímpar
O poder das palavras
Bem-estar, famílias e relações, moda, celebridades... Um mundo que não é fútil.
Ocorreu um erro. Por favor volta a tentar.
Subscreveu a newsletter Ímpar. Veja as outras newsletters que temos para si.
A manhã de quinta-feira acordou em sobressalto para milhares de jovens que nasceram no final dos anos 1990 e início do século XXI. Liam Payne da boys band One Direction morreu aos 31 anos, em Buenos Aires, depois de cair da varanda do hotel onde estava hospedado. "Soube agora que o Liam Payne dos 1D morreu", cai na caixa das mensagens do meu telefone, passa pouco das sete da manhã. Antes de responder, vou à aplicação do PÚBLICO para confirmar que a notícia está feita. Sim, desde o final da noite anterior.
Pouco depois, apercebo-me de como tantos jovens da minha "bolha" — todos nós vivemos em bolhas — ficaram abalados, tristes, chocados, angustiados com esta morte que a mim, devo confessar, pouco me diz. Aliás, ainda estremunhada, nem percebi à primeira o que queria dizer "1D", só depois me lembrei de ver a sigla, há muitos anos, nos cadernos, em folhas soltas e em camisolas.
Já na redacção, conta-me uma camarada que a filha lhe perguntou se as nossas fontes são fidedignas, se não podemos estar errados, na esperança que o seu ídolo permaneça vivo. Noutra casa, houve um jovem que, na noite de quarta, foi empurrado para a cama porque estava em choque e não se calava. Estes ainda não são jovens adultos, mas adolescentes que continuam a vibrar com uma banda que tinha o seu trabalho suspenso há uns anos. É este o poder da cultura de massas. A jornalista Inês Chaíça traçou o perfil de Liam Payne, que era o líder e letrista dos britânicos One Direction.
A jornalista Inês Duarte de Freitas pergunta-me se não tive ídolos cujas mortes me abalaram. Brinco e digo-lhe que não, que somos mais rijos do que eles, que não há morte que nos abale. "E a princesa Diana?", pergunta-me. Sim, foi um choque — faço parte da geração que abdicou de um dia de praia para ficar à frente da televisão a ver o casamento de Carlos e Diana; e assistiu às cerimónias fúnebres, com Elton John emocionado ao piano, na abadia de Westminster, noutro dia de Verão abafadíssimo.
"E o Kurt Cobain?" OK, somos tão fraquinhos como vocês, concedo-lhe. Nunca se deve ridicularizar o luto por um ídolo, dizem os psicólogos ouvidos por Inês Duarte de Freitas. Não é só o choque pela morte, mas é também pela música e tudo o que ela representa. "Quando falamos de ídolos, falamos de sonhos, representações, aspirações, que fazem parte do processo de crescer", comenta a psicóloga Sofia Andrade, que acrescenta que, quando se trata de um músico, há ainda uma outra dimensão presente: "Cada música é uma viagem no tempo. Tudo isto tem um significado emocional."
"Ainda bem que a Inês não me perguntou se choro com letras de canções...", pensei enquanto editava o texto, onde os especialistas aconselham os pais a estar atentos, e os fãs a juntarem-se e a não viverem este luto (ou outro) a sós. O que se sabe sobre esta morte, pode ler aqui. Entretanto, o mundo do espectáculo foi reagindo. Os companheiros da banda, levaram algum tempo a digerir o que se passou, divulgaram uma declaração conjunta e, cada um, expressou-se nas suas redes sociais isoladamente. Também a ex-companheira, Cheryl Cole, veio a público para pedir contenção aos media, em nome do filho de ambos, Bear, de 7 anos; e a actual namorada foi maltratada nas redes sociais porque não estava em Buenos Aires no momento fatídico, como se houvesse culpas a atribuir a alguém.
"Quantas notícias vamos ter sobre este fulano?", pergunta um leitor na caixa de comentários de um dos textos. As necessárias, respondo agora, antevendo que continuaremos a acompanhar o caso, uma vez que o repatriamento do corpo da Argentina para o Reino Unido pode demorar dez a 15 dias, que as autoridades ainda estão a investigar o que se passou, que os restantes membros da banda poderão voltar a juntar-se, que... São tantas as variáveis e são mais ainda os leitores que querem saber o que se passa com um dos seus ídolos.
Outro ídolo que fez notícia esta semana foi Taylor Swift, que arrancou na sexta-feira com a última parte da "The Eras Tour", que vai andar em digressão pelos EUA e Canadá. Pegámos no livro Taylor Swift: As Histórias das Canções, folheámos e escolhemos uma canção por cada era. Há que dizer que não foi tarefa fácil porque ultrapassam as duas centenas e é difícil escolher apenas uma de cada disco, mas as histórias aqui contadas ajudam a compreender a artista e, implicitamente, quem a segue. Criámos ainda uma lista para ouvir onde quiser. São 49 minutos.
Outro ídolo de tempos mais provectos é Cher, que marcou presença no desfile da marca de lingerie Victoria's Secret, que ocorreu após seis anos de interregno e que teve algumas novidades, em resposta às críticas de falta de diversidade que teve nos últimos anos, mas que continua a mostrar um ideal de beleza de difícil alcance para um grande número de raparigas, o que se torna pouco saudável para quem se debate com problemas de auto-estima e de bem-estar corporal. E por falar nestas questões, esta semana também se assinalou o Dia Mundial da Menopausa e num inquérito a mil mulheres, entre os 45 e os 60 anos, percebemos que continuamos a conhecer pouco o nosso corpo e a não querer saber de um período tão importante nas nossas vidas, que afecta a saúde física, mental e a vida sexual.
E, voltando às passerelles, há uma semana, a Inês Duarte de Freitas acompanhou a ModaLisboa — os textos estão reunidos aqui, mas se quiser saber o resumo, espreite este —; e, esta semana, insistiu com a organização do Portugal Fashion para perceber o que se passa, uma vez, que todo o trabalho está suspenso, na ausência de respostas claras, ouviu os designers, para quem esta montra era importante.
Por fim, a Rita Pimenta seleccionou o livro infantil O Peso das Palavras, de Luísa Sobral (texto) e LigeiramenteCanhoto (ilustração), um título que reflecte (com os mais novos) sobre o efeito das palavras, tanto as boas como as más. O livro começa por falar de "palavras que são rouxinóis, pousam no nosso ombro e cantam-nos ao ouvido". Como por exemplo: "Gosto de ti", "tenho saudades tuas", "que bom ser teu amigo". E depois, passa para as "palavras que são elefantes". Eis algumas: "Feio", "gordo", "parvo". São estas que se transformam num fardo que transportamos como uma mochila, "que se cola às nossas costas e nos dá vontade de chorar". Podem pesar-nos "uma vida inteira".
Que sejamos meigos com as palavras e, já agora, com as acções.
Boa semana!