Destiny Pinto foi diagnosticada com artrite reumatóide no início da faculdade, em Julho de 2021, e passou a depender de equipamento de compressão para aliviar as dores que sentia por todo o corpo. Pinto confiou inicialmente em luvas de levantamento de pesos para apoiar os pulsos e comprimir as articulações doridas. Embora úteis, as luvas eram volumosas e, além do mais, tinham um slogan que dizia “no pain, no gain” (sem dor, sem ganho).
As luvas destoavam de todas as roupas que usava e suscitavam perguntas frequentes, aumentando o stress de viver com uma doença auto-imune, que pode causar inchaços dolorosos nas articulações do corpo e, em alguns casos, atacar o coração e os pulmões. Incapaz de encontrar luvas com estilo que aliviassem a dor e aumentassem a confiança, criou umas.
Agora, Pinto tem uma marca de moda que transforma dispositivos médicos de assistência, incluindo bolsas de ostomia e aparelhos auditivos, em acessórios de moda. Consciente de como a dor de um diagnóstico difícil pode ser exacerbada pela dependência visível de um dispositivo médico, trabalha para reforçar a representação das pessoas com deficiência na moda e para acabar com estigmas sobre dispositivos de assistência.
“Quando as pessoas me perguntavam porque é que usava esta luva de compressão – porque se notava muito – eu ficava muito emocionada e ansiosa”, explica Pinto. Apesar das suas ansiedades, disse a si própria: “Vou tentar mudar a narrativa.”
A Organização Mundial de Saúde estima que mais de 2,5 mil milhões de pessoas dependem de tecnologias de assistência em todo o mundo – e prevê-se que esse número aumente à medida que a população global continua a envelhecer. Prevê-se que o mercado global de tecnologias de assistência médica atinja 24,4 mil milhões de dólares em 2025. Pinto trabalha a tempo inteiro como designer e expande as opções disponíveis para equipamentos de assistência, levando-os para além da sua aparência tradicional e clínica. Hoje, usa as suas luvas de compressão vermelhas adornadas com fivelas prateadas ou luvas brancas rendadas decoradas com rosas.
A marca de Pinto é também inspirada na sua melhor amiga, Nikola Nadozirna, a quem foi diagnosticada colite ulcerosa, uma doença inflamatória intestinal, em 2011, aos 10 anos. Colocaram-lhe um saco de ostomia em 2022, depois de anos de medicamentos, injecções e visitas ao hospital não terem ajudado.
“Quando recebi o saco pela primeira vez, para ser honesta, odiei-o. Não o aceitava como parte do meu corpo”, diz Nadozirna.
O receio de ter um saco de ostomia – que pode ter cerca de 7 a 12 polegadas de comprimento e que normalmente se situa ao longo da parte inferior do abdómen – é tão forte que Ananthakrishnan trabalhou com doentes que se debateram com a ideia durante quase dez anos antes de concordarem com o procedimento. Para alguns, esperar tanto tempo colocou-os em situações de risco de vida.
Ananthakrishnan acredita que os desenhos de Pinto podem ajudar a combater esse receio. “Dá-lhe uma imagem que transmite a ideia de que a vida pode continuar de uma forma muito agradável e significativa, mesmo com um estoma”, afirmou.
Nadozirna disse que trabalhar com Pinto para modelar os seus desenhos tem sido muito estimulante. “Em vez de estar apenas lá, agora faz parte da roupa”, disse Nadozirna. De acordo com Pinto, Nadozirna adora a ideia de “celebrar estes dispositivos em vez de os esconder”.
A amiga desempenhou um papel central na criação de invólucros para sacos de ostomia. Um sistema tradicional de saco de ostomia de uma só peça consiste normalmente num adesivo e numa bolsa feita de um material flexível mas durável, que pode ser translúcido ou opaco.
Nadozirna aconselhou Pinto a alargar a abertura das suas bolsas elegantes para facilitar a inserção dos sacos pelos utilizadores. Como resultado, Pinto conseguiu criar invólucros divertidos e funcionais para sacos de ostomia, incluindo bolsas pretas elegantes e capas acetinadas verde-azeitona com drapeados complexos.
Falar com pessoas que utilizam dispositivos de assistência é uma parte central do processo de design de Pinto.
“Pego no que já existe e acentuo-o”, disse Pinto. E quando está dentro do seu orçamento, tenta adquirir diferentes dispositivos de assistência para adaptar os projectos às suas especificações e proporções. Quando os dispositivos são demasiado caros, como no caso de uma perna protésica, dá vida aos seus projectos utilizando software de computação gráfica 3D.
Os projectos de Pinto têm recebido um apoio significativo nas redes sociais. Um utilizador escreveu numa publicação que mostrava as mangas para sacos de ostomia de Pinto: “Acabaram de me dizer que talvez tenham de comprar um destes no futuro e isso assustou-me de morte, mas ver isto dá-me esperança de que tudo vai correr bem♥♥♥.”
Outros dão ideias: “Isto é espectacular! Sou enfermeira e adoro isto. Pergunto-me se outro saco de acessórios poderia ser para bombas de insulina!”
Bowrnamey Thirukkumar, médica residente e fundadora da Painting Progress, uma organização que utiliza a arte para ter impacto social, acredita que os desenhos de Pinto podem incentivar as pessoas a utilizar os seus dispositivos de assistência e educar o público sobre deficiências.
Thirukkumar lembra-se de ter trabalhado com uma menina de sete anos a quem foram dados aparelhos auditivos, mas que raramente os usava. Do ponto de vista médico, usar algo para melhorar a capacidade de ouvir parece uma decisão fácil. Mas essa perspectiva ignora os desafios sociais e emocionais que advêm do uso de um dispositivo de assistência que faz com que alguém se destaque dos seus pares.
“Se as empresas médicas ou as pessoas que concebem estas coisas conseguirem torná-las engraçadas ou diferentes e divertidas, então a geração mais jovem (...) tem mais probabilidades de aderir”, afirmou Thirukkumar.
Além de aparelhos auditivos, luvas de compressão e sacos de ostomia, Pinto concebeu bengalas e protectores torácicos. Espera ver em breve os seus produtos no mercado de consumo mais vasto e continuar a aumentar a consciencialização e o acesso à sua marca.
“O meu objectivo para esta marca era apenas realçar as histórias desses dispositivos médicos e dar-lhes o reconhecimento, o amor e o design de que necessitam”, conclui.