Fábio Loureiro desiste de se opor à extradição e quer vir para Portugal
É um dos cinco reclusos que fugiram da prisão de Vale de Judeus e que foi capturado em Tânger, Marrocos. Estava a aguardar um pedido de extradição, ao qual inicialmente manifestou intenção de se opor.
Fábio Loureiro, um dos cinco reclusos que fugiram da prisão de Vale de Judeus e que foi capturado em Tânger, Marrocos, decidiu desistir de se opor à extradição para Portugal.
A decisão foi anunciada através do seu advogado Lopes Guerreiro, que enviou uma nota às redacções. “O senhor Fábio Loureiro, depois de se reunir, no dia de hoje, com a família e seus advogados em Marrocos e Portugal e de muito ponderar, na sua circunstância, acerca da pretensão de oposição à extradição do Reino de Marrocos para Portugal, decidiu, em consciência, desistir dessa demanda em terras de Marrocos e aceitar, de modo irrestrito, ser extraditado, o mais rápido que se mostrar viável, para Portugal, seu país natal”, lê-se.
Segundo o mesmo advogado, Fábio Loureiro já deu conhecimento dessa intenção, “pelos canais próprios, às autoridades judiciárias do Reino de Marrocos, bem como à embaixada de Portugal em Rabat, designadamente, na pessoa da encarregada da secção consular, no sentido de informar oficialmente o Ministério da Justiça português, para darem início ao processo”.
É intenção do detido cumprir em Portugal o remanescente das suas condenações e responder judicialmente pela evasão levada a cabo no dia 7 de Setembro de 2024, do Estabelecimento Prisional de Vale Judeus, sublinha a nota do advogado.
Fábio Loureiro foi capturado no dia 6 de Outubro à noite em Tânger. Foi a viagem a Marrocos da sua mulher que ditou o fim à fuga, uma vez que estava sob a vigilância apertada da Polícia Judiciária. A detenção foi feita pelas autoridades marroquinas, numa operação intitulada Retorno, que contou também com a colaboração da polícia espanhola, uma vez que Fábio Loureiro terá entrado neste país via Espanha, com a ajuda de contactos seus no mundo do tráfico de droga. Convencido de que nunca seria apanhado em Marrocos, o foragido circulava a pé numa rua de Tânger com um amigo, também de nacionalidade portuguesa, quando foi abordado pela polícia.
Embora os polícias também tivessem seguido outras pistas, a viagem da mulher até Marrocos despertou-lhes, naturalmente, a atenção. Falta, no entanto, apanhar ainda os outros quatro evadidos, todos eles de elevada perigosidade.
Nascido há 33 anos no Poço Partido, um bairro na freguesia de Lagoa e Carvoeiro, no Algarve, “Fábio Cigano”, como era conhecido, ficou na mira das autoridades quando, ainda menor de idade, ascendeu à liderança de um gang juvenil. Conduzia carros de luxo e andava sempre armado com uma espingarda automática Kalashnikov. Chegou a disparar com uma metralhadora contra uma vivenda em Albufeira, onde estava um bebé de seis meses, por causa de um ajuste de contas.
Cumpria 25 anos de prisão em Vale de Judeus por uma panóplia de crimes: rapto, tráfico de estupefacientes, associação criminosa, roubo à mão armada e evasão, por ter tentado escapar da prisão de alta segurança de Monsanto em 2018. Neste estabelecimento prisional, continuou, de resto, a cometer crimes, traficando droga e agredindo guardas. Depois de ter conseguido ser transferido para Vale de Judeus, foi punido por mais delitos: posse de droga, ouro e anabolizantes, bem como de um telemóvel.
Segundo Frederico Morais, presidente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional, à pena de 25 anos aplicada aos delitos cometidos fora de muros juntam-se mais 19 anos de penas pelos crimes perpetrados dentro dos estabelecimentos prisionais por onde passou. O sindicalista espera agora que Fábio Loureiro seja colocado em Monsanto. “É a única cadeia de alta segurança em Portugal capaz de garantir que não terá possibilidade de voltar a fugir”, afirmou.
A fuga dos cinco reclusos de Vale de Judeus deu-se pelas 9h59 do dia 7 de Setembro. Demorou seis minutos e só foi detectada uma hora mais tarde, quando um guarda se apercebeu de uma escada encostada a um dos muros da prisão. Na sequência da evasão, soube-se que o sistema de sensores de movimento e alarmes de Vale de Judeus estava inactivo havia anos; que uns painéis de infravermelhos que faziam parte do sistema de segurança nunca foram usados, porque, quando eram ligados, a cadeia ficava toda sem energia; e que o sistema de videovigilância, apesar de funcionar, não vigiava efectivamente — porque eram 200 câmaras a serem monitorizadas apenas por um funcionário, ao longo de dez horas.