Caro leitor, cara leitora,
O sistema educativo enfrenta um dos seus maiores desafios: a integração dos alunos estrangeiros. As dificuldades são inúmeras e as respostas tardam em chegar.
Na semana passada, a Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC) revelou novos dados que mostram que as taxas de retenção e abandono escolar são significativamente mais elevadas entre os estudantes de origem estrangeira, em comparação com os seus pares de origem portuguesa. Dito de outra forma, estes alunos, filhos de pais estrangeiros, chumbam três vezes mais do que os seus colegas com pais portugueses.
A barreira linguística, as condições socioeconómicas desfavoráveis e a falta de apoio adequado para estes estudantes são alguns dos factores que justificam estas discrepâncias. Muitos deles chegam a Portugal com currículos e contextos educativos muito distintos, o que torna a sua adaptação ainda mais difícil.
Nas escolas, os professores vão fazendo o que podem, reconhecem os representantes dos directores escolares. Mas deparam-se com poucos recursos, sobrecarga de trabalho, burocracia, horas extraordinárias, o que dificulta muitas vezes dar uma atenção mais direccionada a estes alunos.
“Há escolas que têm 500 alunos estrangeiros. Os dos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP) e do Brasil falam português, mas os alunos da Ásia e da América do Sul não, e todos eles precisam de algum tipo de apoio. Vêm de países cujos currículos são muito diferentes dos nossos e são integrados em turmas onde há um determinado ritmo e as escolas não conseguem parar. Não há tempo para fazer uma avaliação curricular com tempo, de perceber o que precisam. "Um dos motivos do insucesso passa por aí", disse-me o presidente da Associação Nacional de Directores Escolares (ANDE), Manuel Pereira, num comentário a estes resultados.
Consciente desta realidade, o Governo apresentou, no arranque do ano lectivo, o plano “Aprender Mais Agora” que, entre outras medidas, dirige algumas especificamente aos alunos estrangeiros. Passam pelo reforço do número de mediadores linguísticos e culturais nas escolas e da disciplina de Português Língua Não Materna, e ainda por dar mais autonomia às escolas na organização do processo de ensino e aprendizagem destes alunos.
No entanto, até ao momento, os directores nada sabem sobre a sua concretização, o que pode ser explicado pelo facto de o diploma que contempla estas medidas ter sido publicado em Diário da República apenas esta quinta-feira.
Além dos estudantes, é importante não esquecer as famílias neste processo, trazê-las para dentro da escola. Por isso, será tempo de pensar num plano mais estruturado e não apenas em medidas avulsas para responder aos alunos e às famílias que continuarão a chegar. Será fundamental para garantir que todos têm as mesmas oportunidades, independentemente da sua origem ou contexto social.
Uma outra nota: na próxima segunda-feira arranca o processo negocial de revisão do Estatuto da Carreira Docente. Governo e sindicatos sentam-se à mesa para discutir várias questões, desde a estrutura, índices salariais, avaliações, horários de trabalho. É um trabalho que levará meses e uma negociação que se antevê exigente até que se alcancem consensos. O ministro da Educação já disse que pretende concluir este processo no máximo de um ano. Cá estaremos a acompanhar.
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