De onde vieram mesmo os meteoritos que já atingiram a Terra?
Os meteoritos – rochas que caem na Terra vindas do espaço – têm atingido o nosso planeta desde o seu nascimento, há cerca de 4500 milhões de anos, até aos dias de hoje, muitas vezes causando poucos danos, mas outras vezes desencadeando cataclismos. Mas de onde vêm exactamente estas rochas espaciais? Uma nova investigação tem a resposta.
Ao estudar a composição dos meteoritos que aterraram ao longo dos anos e dos asteróides que povoam o nosso sistema solar, os astrónomos determinaram que cerca de 70% dos impactos de meteoritos conhecidos provêm de apenas três famílias de asteróides que residem na grande cintura de asteróides do nosso sistema solar, entre Marte e Júpiter.
No total, três estudos diferentes conseguiram agora explicar as origens da maioria de dezenas de milhares de meteoritos conhecidos que caíram na Terra.
No âmbito da investigação, os astrónomos realizaram simulações numéricas que lhes permitiram modelar a formação e a evolução das famílias de asteróides que orbitam o Sol na grande cintura de asteróides.
“Trata-se de um grupo de asteróides que têm órbitas semelhantes porque foram fragmentos originados durante a colisão entre dois asteróides”, disse o astrónomo Miroslav Brož, da Universidade Carolina, em Praga, autor principal de dois dos estudos, publicados nas revistas Nature e Astronomy and Astrophysics.
As colisões na grande cintura de asteróides enviam fragmentos rochosos que voam ao acaso pelo espaço, acabando alguns deles por atingir a Terra.
“Embora se conheçam mais de 70.000 meteoritos, apenas 6% foram claramente identificados pela sua composição como provenientes da Lua, de Marte ou de Vesta, um dos maiores asteróides da grande cintura de asteróides. A origem dos outros meteoritos não foi identificada”, afirmou o astrónomo Michaël Marsset, do Observatório Europeu do Sul (ESO), no Chile, autor principal de um dos dois estudos publicados na revista Nature.
Três famílias de asteróides
A família de asteróides Massalia, formada há cerca de 40 milhões de anos, é responsável por uma classe de meteoritos chamada condritos L, que representa 37% dos meteoritos terrestres conhecidos, segundo a investigação. A família Karin, formada há 5,8 milhões de anos, e a família Koronis, formada há 7,6 milhões de anos, são responsáveis por uma classe de meteoritos chamada condritos H, que representam 33% dos meteoritos terrestres conhecidos, revelou.
Outros 8% dos meteoritos terrestres podem ser atribuídos às famílias de asteróides Flora e Nysa na grande cintura de asteróides, segundo a investigação. E cerca de 6% dos meteoritos podem ser atribuídos a Vesta, revelou. Estudos anteriores revelaram que menos de 1% dos meteoritos provêm de Marte e da Lua.
Os investigadores ainda estão a explorar a origem dos restantes cerca de 15% dos meteoritos terrestres conhecidos. As rochas espaciais têm desempenhado um papel importante na definição da direcção da vida na Terra.
A nova investigação não se debruçou sobre a origem daquele que atingiu a Terra há 66 milhões de anos e que extinguiu os dinossauros, excepto as aves suas descendentes, e permitiu que os mamíferos se tornassem dominantes. Outro estudo, publicado em Agosto, tinha concluído que este objecto se formou para lá de Júpiter e provavelmente migrou para o interior do nosso sistema solar, tornando-se parte da grande cintura de asteróides, antes de ser atirado em direcção à Terra, talvez devido a uma colisão.
Como mostrou o impacto que matou os dinossauros, uma grande rocha espacial pode representar uma ameaça mortal para a vida na Terra. Em 2022, a nave espacial DART, da NASA, embateu propositadamente contra o asteróide Dimorfo, numa missão de defesa planetária que demonstrou que uma nave espacial pode alterar a trajectória de um objecto celeste o suficiente para manter a Terra em segurança. E, neste mês de Outubro, a Agência Espacial Europeia (ESA) lançou uma sonda espacial, a Hera, que vai inspeccionar o Dimorfo, para avaliar ao pormenor os resultados da colisão com a sonda da NASA.
Alguns dos meteoritos que caíram na Terra podem dar pistas sobre os primórdios da história do sistema solar. São restos primordiais de uma altura em que os planetas se formaram num grande disco de matéria – chamado disco protoplanetário – que girava à volta do recém-nascido Sol. “Os condritos são meteoritos primitivos que preservaram maioritariamente a sua composição original desde a sua formação no nosso disco protoplanetário”, disse Michaël Marsset.