China reitera que “nunca” irá “renunciar ao uso da força” para se reunificar com Taiwan
Governo chinês lança aviso após exercícios militares em redor da ilha reivindicada e no dia em que a imprensa estatal noticia visita de Xi Jinping à província mais próxima de Taiwan.
Dois dias depois de o Exército da Libertação do Povo Chinês (ELP) ter realizado exercícios militares de larga escala em redor de Taiwan, o Governo da República Popular da China renovou a garantia de que “nunca” irá “renunciar ao uso da força” para concretizar a “reunificação” com o território insular que, apesar de ser governado de forma autónoma desde 1949, é reivindicado por Pequim como parte integrante da China.
“Estamos dispostos a esforçarmo-nos pela perspectiva de uma reunificação pacífica com a maior sinceridade e empenho. Mas nunca nos iremos comprometer a renunciar ao uso da força”, assegurou esta quarta-feira Chen Binhua, porta-voz do Gabinete dos Assuntos de Taiwan do executivo chinês.
Citado pela Reuters, Chen explicou que esta posição de princípio é fundamental tendo em conta a “interferência” de “forças externas” e das actividades “separatistas” em Taiwan. Ainda assim, mostrou-se confiante sobre as capacidades chinesas para alcançar o “desígnio histórico”.
“Não importa quantos soldados tenha Taiwan ou quantas armas adquira, e não importa se as forças externas intervêm ou não; se [Taiwan] ousar correr riscos, isso irá conduzi-la à sua própria destruição. As nossas acções para defender a soberania nacional e a integridade territorial não cessarão nem por um momento”, assegurou o porta-voz.
O aviso do Governo chinês foi dado no mesmo dia em que a imprensa estatal deu conta de uma visita do Presidente e secretário-geral do Partido Comunista Chinês (PCC), Xi Jinping, à ilha de Dongshan e à cidade de Xiamen, ambas na província chinesa de Fujian, a mais próxima da ilha taiwanesa.
Situada perto da margem ocidental do estreito de Taiwan, a ilha de Dongshan costuma ser incluída nos sucessivos exercícios militares conduzidos pelo ELP na região. Para além disso, ganhou fama por ter sido alvo de uma tentativa de invasão, em 1953, pelas forças nacionalistas chinesas que se tinham exilado em Taiwan quatro anos antes – tal como em 1949, as tropas comunistas de Mao Tsetung derrotaram as forças de Chiang Kai-shek, mantendo o controlo da China continental.
Segundo a emissora CCTV, o jornal Diário do Povo e agência noticiosa Xinhua, Xi deslocou-se a Dongshan e a Xiamen na terça-feira e nesta quarta-feira para conhecer os esforços das autoridades locais tendo em vista a “transmissão dos genes vermelhos e o reforço da protecção do património cultural”.
O Presidente apelou à promoção do intercâmbio cultural entre os dois lados do estreito e ao reforço da “identidade étnica, cultural e nacional dos compatriotas de Taiwan”.
Num discurso recente, por ocasião dos 75 anos da fundação da República Popular da China, Xi descreveu Taiwan como um “território sagrado” do seu país e garantiu que a “reunificação” vai ser alcançada porque “ninguém pode parar a marcha da história”.
“Efeito negativo”
Depois da derrota contra Mao na guerra civil chinesa e do estabelecimento da República Popular da China, Chiang Kai-shek estabeleceu um Governo da República da China em Taiwan, que, durante grande parte da Guerra Fria, foi reconhecido como representante legítimo do poder político e constitucional chinês.
Mesmo sendo governada de forma autónoma desde essa altura e de realizar, hoje em dia, eleições livres, de ter liberdade de expressão, de possuir uma economia poderosa e de contar com o apoio não-oficial dos Estados Unidos, Taiwan só tem relações diplomáticas com 12 Estados.
Nos últimos anos, Xi e o PCC têm insistido no objectivo da “reunificação” e respondido aos principais discursos dos líderes taiwaneses ou às visitas de personalidades políticas de outros países a Taiwan com exercícios militares em redor da ilha, levando as autoridades locais, que defendem a autonomia e o statu quo, a admitirem uma invasão chinesa a curto ou médio prazo.
Na sequência do discurso da semana passada proferido pelo Presidente de Taiwan, Lai Ching-te, no âmbito das comemorações do 113.º aniversário da República da China – no qual Lai disse que Pequim “não tem o direito de representar Taiwan” e prometeu “resistir à anexação” do território – o ELP mobilizou, na segunda-feira, um porta-aviões e dezenas de caças e navios de guerra para mais um simulacro de bloqueio militar e económico de Taiwan, que, segundo o South China Morning Post, durou 13 horas e envolveu manobras a leste, oeste, norte e sul da ilha.
“Os exercícios militares dos comunistas chineses criaram um efeito negativo, fizeram a comunidade internacional apoiar ainda mais Taiwan”, afirmou, no entanto, Tsai Ming-yen, director-geral do Gabinete de Segurança Nacional de Taiwan, enfatizando a reacção crítica dos EUA, citado pela Reuters.