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A dura batalha de estudantes estrangeiros na busca por moradia em Portugal
Preços de aluguéis dispararam e donos de imóveis fazem muitas exigências para fechar contratos. Saiba como driblar obstáculos com segurança para evitar que problemas dificultem desempenho escolar.
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O número de alunos imigrantes em Portugal aumentou 160% em cinco anos. Já são hoje 140 mil. Isso é o que aponta o relatório Education at a Glance 2024, que analisa sistemas de ensino em diferentes países e revela que são cada vez mais os estrangeiros que escolhem instituições de ensino superior portuguesas para estudar. Entre 2013 e 2022, essa proporção passou de 4% para 12%.
Os brasileiros são a maioria dos imigrantes matriculados nas instituições de ensino portuguesas, seja no básico, secundário ou superior. No ano letivo 2022/2023, 18.859 brasileiros estavam matriculados no ensino superior de Portugal, informou a Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC).
Com este aumento do número de estudantes internacionais em Portugal, a busca por moradia nas principais cidades universitárias do país tornou-se um desafio. Universidades como a de Lisboa, Porto, Coimbra e Aveiro atraem muitos estudantes estrangeiros, mas o processo de encontrar um quarto, apartamento ou vaga a preços acessíveis é complicado.
Alugar um imóvel em Portugal exige documentos básicos, tanto para estudantes locais quanto internacionais. Os proprietários e imobiliárias costumam solicitar os seguintes documentos:
> Documento de Identificação: passaporte ou cartão de cidadão (para europeus).
> Comprovativo de Rendimento: o estudante ou seus responsáveis financeiros devem apresentar comprovantes de renda. Para estudantes internacionais, muitas vezes é exigido um fiador que resida em Portugal, o que pode ser um obstáculo. Alguns bancos ou instituições financeiras oferecem garantias ou seguros de aluguel que substituem o fiador.
> Declaração de Matrícula: para confirmar o status de estudante, especialmente em universidades localizadas nas principais cidades do país.
> Depósito de Caução: normalmente, os proprietários solicitam um depósito de dois a três meses de aluguel como caução, a ser devolvido no final do contrato, desde que o imóvel esteja nas condições acordadas.
Como muitos estudantes internacionais não têm acesso a um fiador em Portugal, alternativas como seguros de aluguel têm se tornado populares. Esses seguros, oferecidos por seguradoras e bancos, garantem o pagamento da renda ao proprietário em caso de inadimplência, substituindo a exigência de um fiador tradicional. Essa opção reduz o obstáculo que muitos estudantes enfrentam ao alugar imóveis.
Existem produtos com cobertura específica de proteção de aluguel, num contrato de seguro, como a cobertura complementar ou acessória, inserida no quadro de um produto de seguro mais abrangente. Sempre é importante realizar análise das condições gerais de cada produto, para conferir qual se adapta às suas necessidades. A maioria dos produtos de seguro limita a cobertura aos contratos de arrendamento destinados à habitação, embora existam apólices que abrangem também os contratos de arrendamento comercial, bem como os contratos de subarrendamento.
Crise na AIMA
Para deixar tudo mais complicado, a crise instalada na Agência para a Integração Migrações e Asilo (AIMA) torna a vida de estudantes mais difícil. E isso acontece não apenas com brasileiros, há registros semelhantes entre angolanos, guianenses e timorenses. A demora em conseguir as autorizações de residência (AR) empurra centenas de alunos para relações ilegais, como contratos de “boca”.
Segundo Aylton Pahula, presidente da Associação de Estudantes de Angola em Portugal (AEAP), a morosidade no processo de obtenção das ARs afeta diretamente a qualidade de vida dos estudantes. “Alguns chegam a ficar sem moradia ou sem alimentação adequada por conta da falta de documentos. Há relatos de colegas que foram despejados por não terem a documentação necessária para formalizar contratos de aluguel ou para acessar dormitórios universitários”, revela.
Essas dificuldades muitas vezes levam os estudantes da Comunidade de Países da Língua Portuguesa (CPLP) a buscarem soluções alternativas para se manter em Portugal. Alguns acabam aceitando empregos informais ou subempregos que comprometem o desempenho acadêmico. "Temos colegas que abandonaram a universidade para trabalhar em condições precárias, apenas para conseguir se sustentar", lamenta Pahula.
Uma alternativa comum é negociar diretamente com o proprietário, explicando a condição de estudante e propondo o pagamento de aluguéis adiantados como garantia. Plataformas globais de arrendamentos mobilados, como Uniplaces e Nestpick, também podem ser uma solução para quem busca um imóvel. É sempre bom ter cuidado antes de fechar um contrato.
Em pesquisa de plataformas, percebe-se que os preços de aluguel variam significativamente de acordo com a cidade e o tipo de acomodação. Dados recentes indicam que o preço médio para alugar um T1 (apartamento de um quarto) em Lisboa é cerca de 1.100 euros (R$ 6,6 mil), enquanto um quarto em uma residência compartilhada custa aproximadamente 500 euros (R$ 3 mil) por mês. Para estudantes que optam por uma vaga em quarto compartilhado, o custo pode cair para cerca de 350 euros (R$ 2,1 mil).
No Porto, os preços são mais baixos; com um T1 custando, em média, 850 euros (R$ 5,1 mil), quartos a 450 euros (R$ 2,7 mil) e vagas por cerca de 300 euros (R$ 1,8 mil). Coimbra, cidade histórica conhecida pela sua universidade, tem preços ainda mais acessíveis: o aluguel de um T1 custa cerca de 600 euros (R$ 3,6 mil), um quarto sai por 350 euros (R$ 2,1 mil) e uma vaga pode custar 250 euros (R$ 1,5 mil).
Outras cidades universitárias menores, como Braga e Aveiro, oferecem aluguéis mais em conta. Em Braga, o preço médio de um T1 é de 550 euros (R$ 3,3 mil), um quarto custa cerca de 300 euros (R$ 1,8 mil) e uma vaga pode ser alugada por aproximadamente 200 euros (R$ 1,2 mil). Essas cidades são uma alternativa para estudantes que buscam reduzir custos sem se afastar de grandes centros acadêmicos.
Dificuldades
Embora Portugal seja um destino popular para estudantes internacionais, o país enfrenta escassez de imóveis, especialmente nas cidades mais procuradas como Lisboa e Porto, o que tem levado a uma forte alta nos preços, afetando diretamente os estudantes que, muitas vezes, possuem rendas limitadas.
Proprietários, ao notar o crescimento da procura, aumentam as exigências, o que inclui a necessidade de um fiador residente em Portugal ou o pagamento de vários meses de aluguel adiantado. Em alguns casos, estudantes enfrentam a remoção abrupta de seus lares, quando os proprietários pedem o imóvel de volta antes do término do contrato, visando alugar para turistas em plataformas de curta duração como o Airbnb, que oferecem maior lucratividade.
Além disso, muitos estudantes relatam que, ao encontrar acomodações mais acessíveis, enfrentam condições inadequadas, como imóveis sem aquecimento, com problemas de infiltração ou falhas nas instalações elétricas e hidráulicas. Essa realidade é comum em cidades com alta demanda e baixa oferta de moradias.
Dormitórios Universitários
Alternativa mais acessível para estudantes, são os dormitórios universitários. No entanto, a oferta é limitada e a demanda disparou. As universidades públicas de Lisboa, Porto e Coimbra oferecem dormitórios geridos pelos Serviços de Ação Social das instituições (SAS), com preços entre 150 e 250 euros (R$ 900 e R$ 1,5 mil) por mês. Estudantes devem candidatar-se a essas vagas com antecedência, pois a demanda costuma superar a oferta. Mas esta opção é muito disputada. É o que diz Joyce Bernardo, presidente do Núcleo de Estudos Brasileiros da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
“A falta de vagas em dormitórios e a escassez de bolsas de estudo são problemas constantes, e muitos estudantes da CPLP se veem obrigados a trabalhar em situações precárias para garantir sua sobrevivência enquanto lutam para legalizar sua permanência no país. O processo para conseguir uma bolsa de estudos e vaga em dormitório já é difícil para quem tem a autorização de residência, imagina para quem não tem", observa Joyce.
Para garantir uma moradia adequada e acessível, os estudantes podem seguir algumas dicas práticas.
> Comece a busca por imóveis com antecedência. A procura por acomodações aumenta à medida que o início do semestre letivo se aproxima, especialmente no fim do verão, e as opções mais baratas costumam ser ocupadas rapidamente.
> Considere a possibilidade de dividir o aluguel com outros estudantes. Alugar um apartamento de dois ou três quartos (T2 ou T3) e dividir o custo entre os moradores pode ser significativamente mais econômico.
> Explore cidades menores e mais afastadas dos grandes centros, como Santarém, Leiria ou Funchal, que oferecem preços de aluguel mais baixos. O transporte para as universidades em cidades próximas pode ser viável e mais barato do que morar em áreas centrais.
> Negocie com os proprietários.
> Verifique as condições do imóvel antes de assinar o contrato. Uma vistoria detalhada pode evitar problemas futuros, como a descoberta de defeitos estruturais ou mobiliário inadequado.
Estudante de direito na universidade de Lisboa, Alessandro Ayres, 32 anos chegou a Portugal há três anos. A princípio, ele e a esposa Adelita Jeolas foram morar na casa de uma parente dele. Mas o desejo de ter seu espaço os levou a uma busca por um apartamento. Alugaram um imóvel na plataforma Airbnb e foram pesquisar o mercado. “O processo foi muito difícil. As exigências para alugar um apartamento em Lisboa são muitas. O mercado é voraz”, diz Alessandro. Mas a sorte sorriu para o casal. A proprietária do imóvel alugado pela plataforma do Airbnb topou fazer um contrato de longa duração com eles.
Mudanças
A decisão de deixar o Brasil e se aventurar em terras estrangeiras é repleta de desafios e incertezas. No entanto, para Luciana Rabelo, esteticista brasileira de 47 anos, essa jornada tem sido marcada por descobertas e realizações. De Resende, no estado do Rio de Janeiro, para Bragança, em Portugal, ela compartilha sua trajetória, as motivações por trás de sua mudança e os benefícios de viver em uma cidade menor com menor custo de vida.
"Eu era diretora administrativa e financeira de uma Secretaria em Resende. Vivi lá por 12 anos e, embora tenha uma formação em pedagogia, acabei me tornando cabeleireira há 10 anos," conta Luciana. Essa experiência foi fundamental para sua decisão de buscar uma formação mais especializada na Europa.
Com o objetivo de se capacitar ainda mais na área da beleza, Luciana pesquisou cursos de estética e cosmética em Portugal. As opções incluíam instituições em Lisboa, Leiria e Bragança. No entanto, a decisão foi influenciada não apenas pela qualidade dos cursos, mas também pelo custo de vida.
"Lisboa é uma cidade muito cara, enquanto Bragança oferecia um custo de vida significativamente mais baixo e o curso no Instituto Politécnico de Bragança tinha uma mensalidade acessível," explica. Em Bragança, Luciana paga 144 euros (R$ 864) por mês no curso, ante 400 euros (R$ 2,4 mil) de Lisboa. Essa diferença significativa foi crucial na escolha da cidade.
A mudança para Bragança trouxe diversas vantagens, principalmente em termos de custo de vida. Luciana e o marido Sandro Oliveira, 51, que trabalha de casa para clientes da área de seguros do Brasil, alugaram um T3 (apartamento de três quartos) por 425 euros (R$ 2.550) mensais, uma fração do que pagariam em Lisboa. "Em Lisboa, um T3 custaria próximo de 2 mil euros (R$ 12 mil). Moramos em uma área central, mas sem o tumulto do centro da cidade, por um preço muito mais acessível", diz ela.
Além do custo de vida, a qualidade de vida em Bragança tem sido um destaque positivo. "Bragança é extremamente acolhedora e tem uma estrutura muito interessante para uma cidade de 36 mil habitantes," afirma Luciana. A tranquilidade da cidade e a proximidade com a natureza proporcionam um ambiente ideal para viver e trabalhar.