Keith Johnson estava em casa, em Steven, Washington, quando, por volta das 5h30 da manhã, o seu monitor contínuo de glucose começou a apitar.
Johnson, diabético, desceu as escadas para ir beber sumo de laranja. Antes de poder servir-se de um copo, a sua cadela adoptada de 13 anos, Gita, parou junto à porta da frente, ansiosa por sair.
“Ela queria sair, por isso, em vez de ir buscar o sumo de laranja abri a porta da frente e dei alguns passos”, disse Johnson, de 84 anos. “Estava escuro como breu.”
Quando Johnson — que vive em Spokane mas gosta de passar os fins-de-semana na cabana em Steven — se virou para voltar para dentro, ficou “tonto e desorientado”, disse.
Abalado pela dor, tentou rastejar várias vezes, mas voltou a cair. Deitou-se no chão, desamparado, enquanto o sol nascia, com Gita ao lado.
“Ela aproximou-se muito de mim e deitou-se, e eu aconcheguei-me a ela”, disse Johnson. Passado algum tempo, “perguntei-lhe se podia ir buscar ajuda, pensando que estava apenas a divertir-me”. Mas Gita acatou a ordem. Fugiu para o meio do mato.
Acontece que o delegado Colton Wright, do Gabinete do Xerife do Condado de Steven, estava a patrulhar a área arborizada nessa manhã, 25 de Setembro, quando avistou Gita sentada ao lado da auto-estrada, a uns 60 metros da entrada escondida da garagem de Johnson. Eram cerca de 11h40 da manhã e não havia pessoas por perto.
“Virei uma esquina e vi-a sentada na berma da estrada”, disse Wright, referindo que o condado de Steven não tem uma lei acerca do uso de trela, mas sempre que vê um cão a vaguear sem uma pessoa por perto tenta encontrar o dono ou encoraja-o a ir para casa. “Apenas segui o meu instinto normal.”
Wright tentou que Gita entrasse no carro para tentar encontrar o dono, mas ela recusou. Procurou um nome e uma morada na coleira, mas não havia qualquer informação. Por isso, tirou uma fotografia da cadela e decidiu perguntar às pessoas num raio de um quilómetro e meio se sabiam a quem ela pertencia. Ninguém sabia.
Gita deitou-se então no centro da estrada, e o agente “não se sentiu bem” em deixá-la ali, disse. “Ela levantou-se e olhou para mim... e disse: 'Ei, vem por aqui'.” Wright decidiu seguir Gita, que o levou directamente ao seu dono.
“O caminho de acesso tem cerca de 400 metros de comprimento e é muito escondido e arborizado”, disse Wright, explicando que se Gita não o tivesse levado até lá, ele não o teria visto. Wright viu Johnson deitado no chão à porta da sua cabana, a pedir ajuda.
“Estou muito feliz por vê-lo”, disse Johnson ao agente. Nessa altura, já lá estava há quase sete horas.
De imediato, Wright disse a Johnson: “A cadela é uma heroína. Ela salvou-lhe a vida hoje.”
“Se ela tivesse entrado na minha carrinha, nunca o teria encontrado”, disse Wright, que tem três cães. “Tenho 100% de certeza de que ela sabia o que estava a fazer.”
Wright chamou uma ambulância e tentou pôr Johnson confortável enquanto esperavam. Contou-lhe o que a sua cadela tinha feito para o ajudar.
“Não sei se alguma vez o teríamos encontrado”, disse Wright, acrescentando que a zona tem muitos animais predadores, incluindo lobos, pumas e ursos.
"Fiquei emocionado, como fico sempre que penso nisso”, disse Johnson entre lágrimas. “Ela estava claramente a pedir ajuda.” Johnson acredita que a sua história — que foi relatada pela primeira vez pela KREM, um canal de televisão em Spokane — teria sido diferente se Gita não tivesse chamado a atenção do agente. “Quem sabe quanto tempo eu poderia ter aguentado”, disse Johnson.
Embora Johnson, que vive sozinho com Gita, tenha ficado espantado com o facto de os esforços dela terem resultado, disse que não ficou surpreendido por ela o ter tentado salvar. “Ela é muito inteligente”, disse, acrescentando que também está grato a Wright.
“Estou eternamente em dívida para com o agente Wright”, disse Johnson. “Ele persistiu, agiu de forma adequada e acalmou-me. A minha vida foi salva por uma combinação de Gita e do agente Wright.” Wright disse que está contente por ter confiado em Gita para o guiar.
“Tudo se encaixou perfeitamente”, disse. “Tenho um novo amigo. O Keith e eu falamos praticamente todos os dias. Temos planos para jantar quando ele voltar a estar 100% saudável.”
Johnson e a falecida mulher, Janet, adoptaram Gita, de raça mista, de um canil quando ela ainda era um cachorro, em 2011. Uma vez, Johnson e Gita foram visitar Janet num lar, depois de Janet ter caído e partido a anca. “Gita subiu com muito cuidado e delicadeza para a cama com ela”, disse Johnson. “Ela achava que Gita era um cão particularmente inteligente. E tinha razão.”
Desde que a mulher morreu, há cinco anos, Johnson e Gita têm estado sozinhos. Fazem tudo juntos. “Ela é uma companheira maravilhosa”, disse Johnson, acrescentando que está reformado depois de ter trabalhado 25 anos para a Agência Central de Inteligência norte-americana (CIA).
Johnson foi levado para um hospital em Colville, Washington, onde foi operado a uma anca partida. Um membro da equipa de emergência médica que o levou ao hospital ofereceu-se para ficar com Gita enquanto Johnson recuperava, e Johnson aceitou. Passou cinco dias no hospital antes de ser transferido para um centro de reabilitação em Spokane.
Gita visita Johnson no centro de reabilitação, o que lhe traz imenso conforto. Ele está a trabalhar para poder voltar a andar. “Estou bastante bem”, garante.
Johnson está ansioso por recuperar totalmente, daqui a cerca de um mês, e por voltar a casa com Gita. “Sou muito dedicado a ela, ainda mais agora”, disse.
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post