Marine Le Pen interrogada em processo de desvio de fundos europeus
Le Pen diz não ter cometido qualquer ilegalidade ou irregularidade. Caso de desvio de fundos europeus pode resultar na ineligibilidade de Le Pen.
A antiga líder e eurodeputada da União Nacional francesa, Marine Le Pen, foi interrogada nesta segunda-feira, em Paris, no âmbito do processo dos assistentes parlamentares europeus que terão sido pagos pelas instituições europeias para efectuar funções políticas nacionais. No interrogatório, Le Pen defendeu novamente a sua inocência, afirmando que não considerava que tinha praticado qualquer ilegalidade e comparando a União Europeia ao organismo em forma de bolha que aparece no filme norte-americano Beware! The Blob!, que Le Pen referenciou.
Ao todo, 27 membros do partido de extrema-direita, incluindo a actual líder parlamentar Marine Le Pen, estão a ser julgados no âmbito deste caso, que remonta a um período entre 2006 e 2016 em que funcionários do partido terão sido nomeados assessores dos eurodeputados, recebendo ordenados com fundos europeus para praticarem funções na União Nacional (então conhecida como Frente Nacional) ligadas à política nacional, algo que pode constituir um desvio de fundos.
"Não tenho qualquer sentimento de ter cometido a mais pequena irregularidade ou ilegalidade", afirmou Le Pen no interrogatório.
Para além de Le Pen, a antiga assistente de longa data de Marine Le Pen e hoje eurodeputada, Christine Griset, foi também ouvida pelo tribunal nesta segunda-feira. Griset, inscrita como assessora parlamentar, só foi registada como tendo estado presente no edifício do Parlamento um total de 12 horas em pouco mais de um ano, entre Agosto de 2012 e Outubro de 2015.
Segundo o jornal francês Le Monde, Le Pen não respondeu directamente a muitas perguntas, preferindo dar "contexto" e desenvolver as suas ideias sobre as funções dos eurodeputados e do Parlamento Europeu.
"A verdadeira questão é: os deputados trabalham para si próprios? Penso que os deputados trabalham em prol das suas ideias. E quem é que promove as suas ideias? O seu partido", sublinhou a líder do partido na Assembleia Nacional, citada pelo Le Monde, acrescentando que "a actividade política de um deputado eleito é em benefício do seu partido".
Para Le Pen, citada pelo jornal Le Pays, "o Parlamento Europeu é um pouco como o filme Beware! The Blob!", filme americano de 1972 em que uma bolha consome tudo o que a rodeia, referenciando este filme para argumentar que o Parlamento Europeu "absorve os eurodeputados, e o aparelho político diz que são absorvidos porque se pode dormir lá, comer lá, arranjar o cabelo lá, etc."
"Tudo no Parlamento Europeu é concebido para que os deputados vivam isolados. Por vezes, é preciso dizer-lhes 'olá, estamos na política, têm de sair e fazer o que nós fazemos cá dentro'", diz Le Pen.
A antiga candidata parlamentar foi eurodeputada do partido durante todo o tempo da prática dos factos implicados no processo, tendo sido eleita em 2004 e saído do Parlamento só em 2017.
Para além de poder enfrentar uma pena de prisão e uma multa de um milhão de euros, segundo o Le Monde, Marine Le Pen pode enfrentar uma pena de ineligibilidade para cargos públicos de até cinco anos, o que pode afectar as aspirações da líder parlamentar à Presidência da República em 2027.