ONU acusa Israel de lançar tanques contra base da UNIFIL

Primeiro-ministro israelita pede directamente ao secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, para retirar as forças de manutenção de paz para um “local seguro”.

Foto
Veículos da UNIFIL junto à fronteira do Líbano com Israel Karamallah Daher / REUTERS
Ouça este artigo
00:00
03:59

As Nações Unidas afirmaram que tanques israelitas irromperam pelos portões de uma base da sua força de manutenção da paz no Sul do Líbano neste domingo, na que é mais recente acusação de violações e ataques israelitas, denunciados até pelos próprios aliados de Israel.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, apelou às Nações Unidas para que evacuassem as tropas da força de paz UNIFIL das zonas de combate no Líbano.

“Senhor secretário-geral retire as forças da UNIFIL para um local seguro. É preciso fazê-lo já, imediatamente”, declarou Netanyahu durante um discurso, interpelando directamente António Guterres, em inglês.

Horas mais tarde, a força da ONU relatou o que descreveu como mais violações israelitas, incluindo dois tanques Merkava israelitas que destruíram o portão principal de uma base e entraram à força antes do amanhecer.

Pouco depois de os tanques terem saído, explodiram obuses a 100 metros de distância, libertando fumo que se espalhou pela base e que levou a que 15 pessoas necessitassem de tratamento, apesar de usarem máscaras de gás, relatou a UNIFIL. A organização não disse quem disparou os projécteis nem que tipo de substância tóxica foi utilizada.

A força de paz das Nações Unidas acusou também as forças armadas israelitas de terem parado um comboio logístico.

“Qualquer ataque deliberado às forças de manutenção da paz constitui uma grave violação do direito humanitário internacional e da Resolução 1701”, declarou a força da ONU. “O mandato da UNIFIL prevê a sua liberdade de movimento na sua área de operações e qualquer restrição a esta liberdade é uma violação da Resolução 1701. Solicitámos uma explicação às IDF para estas violações chocantes”.

Na sua declaração anterior dirigida ao secretário-geral da ONU, António Guterres, Netanyahu disse: “Chegou o momento de retirar a UNIFIL dos redutos do Hezbollah e das zonas de combate”.

“As IDF solicitaram-no repetidamente e depararam-se com uma recusa reiterada, que tem como efeito fornecer escudos humanos aos terroristas do Hezbollah”.

O grupo militante Hezbollah, apoiado pelo Irão, que Israel combate no terreno desde que lançou uma incursão no início deste mês, nega a acusação de Israel de que utiliza a proximidade das forças de manutenção da paz como protecção.

Cinco soldados da força de manutenção da paz foram feridos numa série de ataques nos últimos dias, a maioria dos quais atribuídos pela UNIFIL às forças israelitas.

A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, tipicamente uma das apoiantes mais vocais de Israel entre os líderes da Europa Ocidental, falou com Netanyahu por telefone este domingo e denunciou os "inaceitáveis" ataques israelitas.

A Itália tem mais de mil soldados na força de dez mil efectivos da UNIFIL, o que a torna um dos maiores contribuintes. A França e a Espanha, que têm cada uma cerca de 700 soldados na força, também condenaram os ataques israelitas.

No sábado, o secretário da Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, pediu ao seu homólogo israelita, Yoav Gallant, que garanta a segurança dos capacetes azuis e das forças armadas libanesas.

Do lado israelita, as IDF disseram às forças de manutenção da paz da ONU para saírem do caminho, pedindo-lhes há semanas para se prepararem para se deslocarem para mais de 5 km da fronteira “a fim de manterem a vossa segurança”, de acordo com um excerto de uma mensagem vista pela Reuters.

Resposta ao Irão

A região continua entretanto em alerta máximo com a possibilidade de retaliação israelita contra o Irão pelo ataque com mísseis de longo alcance lançado a 1 de Outubro em resposta aos ataques de Israel ao Líbano.

O Irão afirmou este domingo que não tem “linhas vermelhas” para se defender. Os comentários do ministro dos Negócios Estrangeiros, Abbas Araqchi, pareciam ter como objectivo contrariar as sugestões de que Teerão absorveria um ataque israelita sem dar resposta, como aconteceu em Abril, quando Israel atacou o Irão pela última vez após o lançamento de vários mísseis sobre território israelita.

As autoridades norte-americanas acreditam que Israel reduziu os alvos da sua potencial retaliação e que o seu objectivo seria atingir as infra-estruturas militares e energéticas, informou a NBC este sábado. Não há indicação de que Israel possa atingir instalações nucleares ou assassinar funcionários do Irão.

Sugerir correcção
Ler 22 comentários