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Lisboa, Capital da Música de Língua Portuguesa
A cultura deve ser sempre vista como uma atividade econômica ordinária, uma profissão que deve gerar sustentabilidade diária aos artistas e a seus produtores.
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Há 20 anos caminhando por Alfama, entrei no Clube de Fado — epicentro do fado aos pés da Sé — para ouvir uns “fadunchos” e passei a noite sentado à mesa na prosa com o saudoso Sr. Carlos Gonçalves, ás da guitarra portuguesa e co-autor do clássico Grito, escrita em parceria com Amália Rodrigues.
Entre um trinar e outro de sua guitarra, ele perguntou-me:
— Sabes quem é o maior cantor brasileiro de sempre?
Perguntei: — Quem seria Sr. Carlos?
Ele respondeu-me: — Sei e posso-o provar. Luiz Gonzaga. Alguma vez duvidaste que a Asa Branca existe? Ninguém entrega melhor um poema que o Rei Do Baião.
Intuí, naquele instante, que talvez o que a elegância daquele imenso senhor quisesse me dizer era: — Seja bem-vindo a Portugal ou como a música brasileira foi transformadora para nossa cultura.
Tenho dito ao longo dos anos que Lisboa tornou-se a capital da música de língua portuguesa. Muito anda se falando sobre a língua portuguesa, no entanto, percebo que muitas bocas estão querendo morder a língua e não convém deixar que o showbiz em torno da língua portuguesa faça com que ela se torne uma girafa para ser vista apenas em um zoológico intelectual uma vez por ano.
A união em torno da língua portuguesa não pode apenas criar pontes, encontros marcados em cima do palco entre artistas que nunca colaboraram antes. Faz-se necessário a troca de saberes entre as diferentes geografias e latitudes que falam português em dinâmicas que aconteçam sempre e cotidianamente.
A cultura deve ser sempre vista como uma atividade econômica ordinária, uma profissão que deve gerar sustentabilidade diária aos artistas e a seus produtores. Esta é a única forma de preservar a música originária e, com isso, facilitar a internacionalização de artistas que preservam a cultura de suas matrizes.
Fortalecer essas estruturas culturais já existentes e valorizar a comunidade, as tradições comuns e, com isso, aproximar a música de língua portuguesa de um main stream em que já estão estabelecidas a música que se faz em inglês e espanhol.
Carlos Tê e Pedro da Silva Martins são bons exemplos daqueles que sabem fazer bom uso da língua na ponta de suas penas na música em Portugal. Ao incorporarem pitadas africanas e sul-americanas no enredo de suas peças litero-musicais, nascem obras incontornáveis para o acervo do cancioneiro popular lusófono, como é o caso das deliciosas O meu amor foi para o Brasil e Corridinho Português — respetivamente, gravadas por Ana Moura e Cara De Espelho.
Mornas, sambas, fados, cantes, baiões, coladeiras, choros, frevos e maracatus, sembas, marrabentas e funanás. É tudo nosso!
Só estamos à espera que o exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moeda, promulgue Lisboa como Capital Da Música De Língua Portuguesa e nos traga a escritura.
Se estivesse acontecendo o mesmo em São Paulo, já teríamos aviões a pousar em Congonhas e o Edifício Copan adesivado a divulgar o feito.
Onde eu assino?